AUTONOMIZAÇÃO
DA LÍNGUA CABOVERDIANA:
REESTRUTURAÇÃO
LOCAL, COMPONENTES AFRICANA E LUSITANA
A maior força da língua
caboverdiana (LCV) está na sua reestruturação local. A partir do substrato africano
e lusitano, o povo caboverdiano, do ponto de vista linguístico (mas também
antropológico) soube absorver o material importado e conferir-lhe, no dizer de
Jürgen Lang, uma alma nova. A expressão africana é significativa, como
poderemos ver no decorrer da investigação que vamos fazer. Porém, a
componente lusitana, é
verdadeiramente, expressiva, particularmente no aspeto lexical. Na investigação já iniciada, irei, enquanto a mesma durar, dar conta, periódica e sistematicamente, tanto da reestruturação local como da componente africana e lusitana. Conto com as críticas, comentários e achegas de quantos tiverem alguma luz sobre a questão.
Vai ser uma investigação de longo fôlego. Não tenho pressa. E se tomei a decisão de socializar as descobertas ou as hipóteses formuladas, no decurso do caminho, é precisamente porque sei que o mesmo vai ser longo e, por vezes, difícil de trilhar.
Como linguista, depois de ter dado contributo nas áreas da escrita, da gramática e da lexicografia, esta é, provavelmente, a última etapa de um percurso que dura há cerca de quarenta anos. Contarei com a crítica que traz a luz, não aquela que destrói sem a capacidade de iluminar a mais pequena dúvida ou interrogação.
Para Cabo Verde que me legou uma língua, uma história e uma cultura, quero legar também o meu testamento cultural e linguístico inscrito nas obras já publicadas e nas que seguramente, agora, com o estatuto de professor universitário jubilado, vou continuar a publicar.
Muito proximamente, penso dar à estampa a obra A Palavra e o Verbo, assim caracterizada no pórtico:
Com a força mediática
da palavra, o meu «eu» é capaz de significar, de transfigurar, de construir e
de comunicar o mundo que nos rodeia, o social que nos preocupa, o cultural que
nos enforma, o virtual que nos interpela... Como diria Clarice Lispector: 1986,
em Perto do Coração Selvagem: “…
continuo sempre me inaugurando, abrindo e fechando círculos de vida…”
Através da palavra
pensamos, filosofamos, amamos, odiamos, destruímos, rezamos,
criamos. Os textos da presente coletânea testemunham a oficina e a
lavoura das minhas palavras e do meu verbo, em algumas “azáguas” do meu
quotidiano, sempre em sintonia com o que dizia Eduardo Prado Coelho: 1978, em Os Universos da Crítica: «... é bom mexer nas palavras, organizá-las
num espaço, estabelecer-lhes movimento de rotação e translação umas com as
outras... [para a construção ou configuração de sentidos, tanto os do
autor, como os do leitor]. Este é outro
modo de ver a questão, mas sabe-se imediatamente que é outro modo do mesmo
modo».
Obrigado a todos os que vão acompanhar-me nesta nova aventura. Manuel Veiga