segunda-feira, 11 de junho de 2012

Comentário / História-Geral de Cabo Verde

Caro Abel Djassi,

Há dias, vi no Púlpito um questionamento seu, a propósito da elaboração da História-Geral de Cabo Verde, por um equipa binacional (Cabo Verde e Portugal).
O post desapareceu e não pude comentá-lo. Como sabe, eu estive na origem desse projecto, como se pode verificar na Nota Prévia do I Volume. Foi uma estratégia positiva a ideia da equipa mista. Na altura, seria difícil o acess...o aos arquivos portugueses, estando os portugueses de fora. Essa estratégia permitiu a publicação dos três volumes, mas também de dois volumes de Corpus Documentais existentes nos arquivos portugueses. Existem outras fontes, como o Abel Djassi faz referência. Isto não invalida o trabalho feito e que pode ser criticado, enriquecido ou mesmo contrariado por outras fontes e por outros autores.
O processo que conduziu à elaboração da Historia-Geral de Cabo Verde tem uma história. Um dia essa história será contada. Basta dizer que o projecto esteve sobre o fio da navalha. O mesmo foi ao Conselho de Ministros porque havia nacionalismos exacerbados que entendiam que a história de Cabo Verde só deveria ser escrita por caboverdianos e havia uma outra posição, na qual eu me incluo, que entendia que a história de Cabo Verde podia ser escrita por qualquer equipa de historiadores sérios e competentes.
No Conselho de Ministros acima referido, o então Primeiro-Ministro, Pedro Pires teria afirmado que (cito de cor): "ou esperamos cinquenta anos e reunimos todas as condições para a elaboração da história de Cabo Verde, ou então corremos o risco e iniciamos o processo com uma equipa binacional". O então Presidente da República, Aristides Pereira, tomou a palavra e disse: "então corremos o risco e começamos desde agora".
Gostaria di dizer obrigadao a Pedro Pires e a Aristides Pereira pela lucidez e pela coragem, numa altura em que o nacionalismo estava ao rubro.
Eu parabenizo, também, a equipa binacional pelo trabalho feito. Nada é perfeito. Quem pode fazer melhor, nas actuais circunstâncias, terá já o contributo dessa equipa. Na história, nada é definitivo, e creio também que nada é perfeito.
'Penso ser melhor fazer e corrigir depois do que não fazer nada.

1 comentário:

  1. Caro Manuel Veiga,
    Antes de mais um obrigado pelo tempo que disponibiliza em trazer novas informacoes sobre a HGCV. No meu post nunca quiz invalidar o projecto. Alias, seria anti-academico fazer tal coisa. O que quis chamar atencao e que um projecto de historia que tenha sido coordenado por estrangeiros, e principalmente por hsitoriadores da antiga metropole, corre sempre o risco de nao fazer certas perguntas pertinentes (a historia, como qualquer outra ciencia, e ideologico). Mais ainda, dado a estreita ligacao CV-Portugal, esquece-se sempre (e parece-me ter sido uma das falhas da HGCV, a julgar pelas fontes) o recurso a outras fontes, que poderao dar uma visao mais completa do passado das ilhas (e, claro que isto nao significa dizer que os arquivos em Lisboa sao para serem ignorados). Por exemplo, uma investigacao sobre a historia da pesca da baleia, particularmente aquela practicada pelos Norte-Americanos da Nova Inglaterra, podera trazer novos elementos que poderao ajudar a entender a hhistoria das ilhas com o mundo americano (a partir do seculo XVI). E os arquivos no Brasil? Desde o seculo XVI e particularmente nos XVII e XVIII que as ilhas mantinham contacto com o Brasil, permitindo nao so trocas comerciais (escravos e outras mercadorias) como a troca de ideias (e.g., o impacto da independencia do Brasil em CV).

    So lhe para dar um exemplo: basta, por exemplo, ler as obras de George Brooks e ver a magia de tecer os arquivos de Lisboa com os arquivos de Massachusetts--e mais pecas de puzzle sobre a nossa historia foram trazidas.

    Concordo consigo quando termina com a frase, "'Penso ser melhor fazer e corrigir depois do que não fazer nada." E a critica que propus fazer faz parte do fazer algo, pois fazendo certas questoes metodologicas e teoricas sobre a obra espera-se poder criar mais debate sobre a Historia das ilhas que poderao muito bem resultar em algo real. Abel Djassi

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