quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

UNIDOS VENCEREMOS




Parabéns, triplamente, à Janira Hopffer Almada: pela sua expressiva e inquestionável vitória; por ser, ao mesmo tempo, jovem e mulher vencedora; pela postura positiva, objectiva e respeitadora dos superiores interesses do PAICV, na campanha e, particularmente, no discurso da vitória.

Como é sabido, por se tratar de uma eleição em que os concorrentes eram todos camaradas meus, por quem nutro respeito e amizade, entendi que a minha postura deveria ser discreta e reservada. Disse-o ao ser contactado por duas das candidaturas. Disse-lhes ainda que eu preferiria que houvesse uma convergência, porque a  disputa entre camaradas podia desorientar os militantes e corria-se o risco  de ser desgastante para o Partido. Aialiás, alguém que se simpatiza com o PAICV, mas que se encontra longe das lides políticas, chegou a perguntar-me qual dos três era da Oposição. Não obstante isto, hoje, acredito que a disputa, por ter sido civilizada e responsável, contribuiu para o reforço da democracia interna no seio do PAICV.

Por isso, regozijo-me com essa jornada, até então inédita em Cabo Verde; felicito a JHA pelas razões acima apontadas e saúdo a Cristina Fontes e o Felisberto Vieira pela atitude responsável, participativa, diria mesmo cidadã, que tiveram e prometem que vão continuar a ter.

Pela lição de democracia dada ficou claro que fazer campanha com lisura, objectividade e responsabilidade é muito melhor que escolher o machado da guerra  ou os discursos inflamados e ofensivos. E se os concorrentes deram o exemplo, não é salutar que os seus apoiantes venham estragar a festa. Agora, o que deve interessar a todos nós, na unidade e na responsabilidade, é o hoje e o amanhã de Cabo Verde e do nosso povo. Unidos, venceremos!

FÉSTA BÉDJU, AZÁGUA KORENTE, É NHA VÓTU 2015





Sima 2014 - ku séka ladridjadu, ku erupson ramantxadu y ku insiguransa dizaforadu – Nhordés al libra-nu di el.


Nu ta rakonhise alegria di “casa para todos”, barájen na txeu rubera, Tubarons Azul ta marka pontu, ta sigi pa frénti, nómi di Kabuverdi na “top-referénsia” di Áfrika, mas nos sonhu ka ten limiti.


Trokadu kel-li, nu krê luta pa más enprégu, más enprendedorismu, más trankuilidadi, más idukason, más formason, más kultura, más sidadania y más inkluzon.


NTON, NHA  VÓTU 2015 É FÉSTA BÉDJU Y AZÁGUA KORENTI, KU SAÚDI, KU TRABADJU Y KONHISIMENTU, KU KUALIDADI DI VIDA Y DI ANBIENTI, PA TUDU NHAS FAMÍLIA, PA TUDU NHAS AMIGU, PA TUDU NHAS ALUNU Y PA TUDU NHA POVU, LI MÉ NA TXON DI NOS RUBERA, Y MÁS PA LA NA MAPA DI TÉRA LONJI.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O Alfabeto dos génios e o do atrasados mentais




A convite do Gabinete do Ministério da Reforma do Estado, tomei parte, no passado dia 23 de Outubro, no lançamento da Revista Vozes das Ilhas. Tudo correu na normalidade, com intervenções pertinentes, até que uma ilustre senhora, médica de profissão, e teóloga por sinal, se irrompeu na sala com a seguinte afirmação, sem a mínima contextualização e fundamentação: “O ALUPEC é um alfabeto para atrasados mentais”.
Fiquei deveras atónito, não pelo facto dessa senhora ser contra o ALUPEC, mas sim por ela considerar que esse modelo de alfabeto, onde tendencialmente uma letra corresponde a um som, é um modelo de “alfabeto para atrasados mentais”.

Pedi a palavra solicitando a essa senhora que nos apresentasse as fundamentações da sua afirmação, tendo em conta: a) que o ALUPEC foi aprovado a título experimental em 1998 e, a partir de lá, todos os trabalhos académicos (e são muitos) produzidos em universidades, em Cabo Verde, em França, nos EUA, na Alemanha, em Portugal..., utilizaram e utilizam o ALUPEC, o que lhe confere, seguramente, legitimidade académica; b) que vários intelectuais caboverdianos têm usado o ALUPEC nas suas produções literárias; que custa-me acreditar que o Conselho de Ministro que aprovou o ALUPEC seja composto de atrasados mentais, tanto o que aprovou a título experimental em 1998, como o que o institucionalizou, como alfabeto caboverdiano, em 2009; que custa-me acreditar que os académicos e intelectuais que praticam o ALUPEC sejam atrasados mentais; que todos os que tiveram ou têm experiência de ensino bilingue, em Cabo Verde, em Lisboa e nos EUA sejam atrasados mentais; que todos os que fizeram o Mestrado de Crioulística e de Língua Caboverdiana na Uni-CV sejam atrasados mentais; que as várias dezenas de alunos na Uni-CV que estudam a língua caboverdiana, com base no ALUPEC, sejam atrasados mentais.
Justificando a sua afirmação, a referida senhora disse que ela compreende a escrita de Eugénio Tavares e de Sergio Fruzoni, mas que o ALUPEC torna o nosso crioulo uma língua estrangeira. Exemplificou dizendo que não compreende a razão por que “casa”se escreve “kaza”no ALUPEC.
Considerando que a fundamentação apresentada não me convence, gostaria de informar que todo e qualquer alfabeto é uma convenção; que hoje as características fundamentais de um alfabeto são: a economia, a sistematicidade e a funcionalidade; que o ALUPEC tem todas essas características; que é, hoje, o modelo de alfabeto aconselhado pela UNESCO; que já em 1888 o senhor António d’Paula Brito usava esse modelo de alfabeto; que o novo acordo orográfico da língua portugues dá razão ao modelo que o ALUPEC segue ao eliminar as consoantes mudas na escrita do português.
Ninguém contesta a referida senhora de não gostar do ALUPEC, mas a maneira como manifesta a sua discordância não é científica, nem espelha a democracia. Com efeito, destratar os que praticam o ALUPEC não é ético, sobretudo quando se trata de uma teóloga que professa a religião nazarena. A propósito disto, devo lembrar-lhe que os Nazarenos fazem parte da Associação que traduziu uma parte da Bíblia para crioulo (“Notísias Sabi di Jezus”). Será que eles também são atrasados mentais?
Devo lembrar-lhe que se o problema reside no facto de o ALUPEC ser um modelo onde tendencialmente uma letra corresponde a um som ( em linguística diz-se que a um grafema corresponde um fonema) também no alfabeto português muitas letras correspondem apenas a um som ( b, d, f, l, m,n, p, t, v). Será que estas letras são apenas para atrasados mentais também?
Quanto à proposta de retomarmos a escrita de Eugénio Tavares e a de Sergio Fruzoni, gostaria que explicasse por que é que aceitamos a mudança em tudo e não no crioulo. Pergunto: porquê que hoje não escrevemos o português de Gil Vicente, nem o de Camões, nem o de Fernando Pessoa? Porque é que em 1911 houve a reforma ortográfica da língua portuguesa? Será que continuamos a escrever “philosofia, theatro, pharmacia, abysmo, assucar...” ou a mudança para “filososofia, teatro, farmácia, abismo, açúcar” é, hoje, pacificamente aceite? Se se aceita a mudança a nível do português, porque é que no crioulo a mudança é um bicho de sete cabeças? Porque é que em matéria de crioulo só o passado de Eugénio Tavares e o de Pedro Cardoso é que contam?
Não basta ser lúcido. Há que ser também coerente, consequente e respeitador, mesmo quando discordamos da posição do outro. Há que admitir que um alfabeto que favorece a inclusão e que se caracteriza pela sua economia, sistematicidade e funcionalidade, mesmo que ponha em causa o conforto que temos com um outro modelo, deve ser respeitado. Há que convir que esse conforto não nos autoriza a generalizar esse modelo, sobretudo quando sabemos que ele peca pela falta de economia e de sistematicidade, duas características que a linguística moderna, mas também a UNESCO defendem no estabelecimento de um alfabeto para as línguas em vias de instrumentalização gráfica.



terça-feira, 21 de outubro de 2014

A Palavra e o Vrbo


                                             PÓRTICO

 

                                  A PALAVRA  E  O  VERBO 

 

Falar do «Eu nas palavras» é uma sinédoque. E isto porque a «palavra», neste sintagma, significa ou pode significar uma parte da obra do autor.

 

Li numa página da internet que Gil Deleuze dizia: «a escrita é um prazer masturbatório, pois se trata de fato de se olhar [...] estuprando a folha branca que me serve de testemunha».

 

Para mim, ao “estuprar”, carinhosamente, a folha branca que me serve de testemunha, pretendo, tão-somente, realizar um acto de amor: o de – através da transparência e da transfiguração do verbo – poder partilhar ou mediatizar o meu mundo e os meus sonhos.

 

Com a força mediática da palavra, o meu «eu» é capaz de significar, de transfigurar, de construir e de comunicar o mundo que nos rodeia, o social que nos preocupa, o cultural que nos enforma, o virtual que nos interpela.

 

Ainda numa página da internet deparei-me com a seguinte pergunta de Silvano Santiago: «quando é que a arte brasileira [deixa] de ser literária e sociológica para ter uma dominante cultural e antropológica?»

 

Creio que a arte não tem que deixar de ser literária e sociológica para se transformar em cultural e antropológica. O melhor ainda é poder ter, também, essas características.

 

No remaniamento da palavra e do verbo que faço, é este o meu intento, embora acredite que o lado literário não é o que mais me preocupa. Aliás, não é por acaso que, quando escrevo, sou mais ensaísta do que poeta ou romancista. Com efeito, a minha escrita tem sempre a cumplicidade da minha história, da minha vivência e dos meus sonhos.

 

Os textos que seguem testemunham a oficina e a lavoura das minhas palavras e do meu verbo, em algumas “azáguas”do meu quotidiano.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Aula Magna pelo Emb. Óscar Oramas


A Segurança da Guiné Conacri conhecia  ou não os planos para o assassinato de Amílcar Cabral? (2.5.2014)

 

Como previsto, realizou-se na manhã de hoje, dia 2 de Maio, no Campos do Palmarejo da Uni-CV, uma Aula Magna sobre “Amílcar Cabral para Além do Seu Tempo”.

 

O evento foi promovido pela Cátedra Amílcar Cabral, no quadro das suas atribuições de promover um maior conhecimento e valorização do legado de Cabral.

 

O acto foi presidido pela Magnífica Reitora, Doutora Judite de Nascimento, e contou com a presença da Equipa Reitoral; de Direcções do Sistema Uni-CV; do Director e membros da Cátedra Amílcar Cabral; de vários Combatentes da Liberdade da Pátria, entre os quais a viúva de Amílcar Cabral; de membros da Fundação Amílcar Cabral e do Instituto Pedro Pires; de vários docentes, investigadores e estudantes da Uni-CV.

 

O Auditório do Campus ficou completamente cheio, com uma moldura humana atenta e

interessada.

 

O Embaixador Óscar Oramas, com uma eloquência invulgar e cativante, discorreu sobre o tema, tendo-se referido, entre outros aspectos, aos seguintes pontos:

 

1) O paralelismo existente entre Amílcar Cabral e José Martí, duas personalidades de dimensão universal que, por serem um dos grandes obreiros na fundação das respectivas pátrias, continuam vivos no legado que nos deixaram;

 

2) Falou de Amílcar Cabral como um estratega e lutador, não só da Guiné-Bissau e Cabo Verde, mas de todas as colónias, então em luta. Considerou-o um ilustre filho de todos os povos colonizados, um homem de dimensão ética extraordinária;

 

3) Considerou que a luta armada, em situação difícil e desigual, só foi vitoriosa por causa da perseverança dos combatentes, da estratégia e da pedagogia do líder.

 

4) Considerou que o apoio do  Presidente Sécou Touré foi inestimável. Inestimável também foi o papel das Nações Unidas;

 

5) Considerou que o assassinato de Amílcar Cabral decorre do desespero do Regime Fascista Português e da sua Polícia Política – a PIDE DGS;

 

6) Terminou com um sobrevoo breve à volta dos 9 capítulos que integram o seu livro Amílcar Cabral para Além do seu Tempo.

 

No debate, vários intervenientes comentaram aspectos relevantes da Aula Magna, destacaram o valioso  contributo não só do povo da Guiné Conacri, como também o de Cuba, na Luta de Libertação Nacional, sugeriram que as instituições do ensino passem a dar maior atenção ao  legado de Cabral, já que a juventude só pode conhecer e valorizar esse legado se a ele tiver acesso.

 

Uma questão colocada que mereceu especial atenção do orador foi a seguinte: “ A Polícia de Segurança da Guiné Conacri tinha ou não conhecimento do plano secreto para o assassinato de Cabral? Se tinha, porque não agiu para evitar a tragédia?

 

Respondendo, o Embaixador Oramas confirmou que  a Segurança da Guiné Conacri tinha conhecimento do plano secreto, que Cabral foi avisado, e que a tragédia aconteceu porque o plano foi antecipado. Disse ainda que  Amílcar Cabral lhe tinha solicitado um encontro urgente e que ficou combinado para  ser as 11H00 do dia 21 de Janeiro de 1973.  Disse que presume que Cabral queria discutir com ele esse hediondo plano. Porém, a tragédia deu-se na noite do dia 20 de Janeiro. Declarou que foi ele, como Embaixador, o primeiro diplomata a ter conhecimento do bárbaro assassinato e foi ele também quem deu notícia ao Presidente  Sécou Touré, que ainda não sabia.

 

E  assim terminou a Aula Magna. A Cátedra Amílcar Cabral deu “rendez-vous” aos presentes para o lançamento da reedição do livro Amílcar Cabral para Além do seu Tempo, em Novembro próximo, no quadro do 90º aniversário natalício de Cabral, que acontece a 12 de Setembro do corrente ano.

 

Elaborado por Manuel Veiga, Director da CAC-CV

25 de Maio, DIA de África




 

Em Cabo Verde, para uns, ser africano é um orgulho. Para outros é uma dor. Para outros ainda é algo idílico, apenas sentimental. Uns dizem que temos fraco conhecimento de África e que África  também conhece muito pouco Cabo Verde. Há quem diga que para além do fraco conhecimento, há também fraca cooperação com a África e que os nossos “clusters” estão ancorados mais na Europa do que na África, defendendo a recentragem em África.

E eu, como africano e cidadão caboverdiano, penso que:

  1. Cabo Verde é um rosto de África. Tem especificidades, tem particularidades próprias.Tem aspectos positivos e negativos, como em todo o lado. É parte de um todo, com um ID próprio, id este que não é indiferente às matrizes: África, Europa e o Mundo. Por isso, temos uma Nação Global cuja marca (brand) é o diálogo, a tolerância, a partilha, a complementaridade. Se somos uma Nação crioula é, precisamente, porque o nosso ser e estar no mundo têm o DNA e o arco-íris do humanismo africano e mundial. É que ontem o nosso DNA tinha a cumplicidade de África e de Portugal, mas hoje, através da Nação diasporizada, a nossa cumplicidade é com o mundo, mesmo que a África ocupe um lugar especial, porque ali é que está  o nosso “oikos.
  2. O futuro da humanidade, como dizia um notável africano, é crioulo. O que para os outros é futuro, para nós é presente. Nós já somos o resultado da globalização. É por isso que o racismo e o etnocentrismo não devem ter espaço em nenhum lugar no mundo, particularmente na nossa sociedade crioula.
  3. E a nossa relação com a África deve ser uma relação inclusiva, sem nunca pretender excluir a relação com o mundo e com a globalização, mesmo na questão das ancoragens. Essa relação deve estar assente num triângulo em que num lado está a cultura e a história; noutro lado o sentimento profundo que nos liga à África; finalmente, no terceiro lado do triângulo devem estar os interesses económicos de Cabo Verde. Qualquer ancoragem com a África baseada apenas no sentimentalismo e na exclusão de outros espaços vai contra a essência da crioulidade; diria, mesmo, que vai contra o sentido da história, da nossa história.

No dia em que celebramos a África, queria saudar, vivamente, o Continente da esperança, o Continente do futuro, mas na tolerância, na inclusão e na equidade. Essa responsabilidade é, particularmente, nossa: nós os africanos de todos os rostos e de todas as latitudes, em África.

Neste dia de África, gostaria de saudar a memória de três caboverdianos que nos ensinaram não só a amar, mas também a admirar a África: Pedro Cardoso da Ode à África, quando escreve: ‘’Africa minha, das Esfinges berço/ Já foste grande, poderosa e livre:/ Já sob o golpe do gládio ingente/ Tremeu o Tibre/ ... Se foste tu quem acendeu o facho/Que fez da Grécia a glória peregrina/Porque hoje vergas para o chão a fronte/Adamantina?”.

Amílcar Cabral que diz ser “Um simples africano que quis saldar a sua dívida para com o seu povo”, tendo consentido o sacrifício da própria vida para a libertação de Cabo Verde e da Guiné-Bissau, como, de algum modo também, da própria África.

Finalmente, Manuel Duarte que em “Caboverdianidade e Africanidade” afirma: “Nós os caboverdianos estamos étnica e historicamente ligados tanto à África como à Europa, acrescendo sobremaneira no sentido da africanidade, a situação geográfica, o condicionamento climatérico, a predominância da corrente imigratória negra no povoamento das ilhas, ... em suma, o fenómeno colonial e as suas necessárias implicações ...”.

Mana Guta lança o seu primeiro livro, hoje, às 17H00, no Palácio da Assembleia Nacional


(Facebook de 18.7.2014.

Com enorme satisfação vou proceder, hoje, ao lançamento de um livro que é um tesouro raro no panorama literário caboverdiano. Trata-se de uma obra escrita não apenas com "uma sintaxe de luz e uma morfologia de morabéza”, mas também com uma semântica de inclusão efectiva e de autenticidade real. A sua escrita não é apenas guiada pela razão e pelo sentimento, mas sobretudo pela a voz da alma, uma doce melodia que nos surpreende, nos encanta, nos inquieta, nos absorve, nos interpela.
Ouso convidar os meus amigos para a descoberta deste tesouro raro. Venham todos os que puderem tomar parte nesta festa das letras. Gostaria que o prazer intelectual que a autora nos proporciona seja uma prenda inclusiva e partilhada com os amigos, com os compatriotas, com os amantes das letras e da inclusão autêntica, efectiva e transversal.
Obrigado, Mana Guta, por esta lufada de ar fresco que, cândida e caboverdianamente, trouxeste às nossas letras.
 

RIOLU DI KABUVERDI KONKISTA MÁS UN SPASU DI OFISIALIDADI


(facebook 11.8.140)

 

Na un inisiativa di Society for Pidgin and Creole Linguistics, di Society  for Caribbean Linguistics  y di Associação de Crioulos de Base Lexical Portuguesa e Espanhola realiza, na Aruba, di 5-8 di Agostu di 2014, un Konferénsi Internasional ku siginti tema: “The Caribbean Today: Language Awareness and Language Developement”.

Na es konferénsia, pa purmeru bês, na un palku internasional multilingi, kriolu di Kabuverdi foi, djuntu ku papiamentu y ku inglês, língua di konferénsia.

Komu raprizentanti di Kabuverdi, nu aprizenta un komunikason sobri “Kaminhus di Valorizason di Kriolu na Kabuverdi”. Pa alén di spozison oral na kriolu, tinha dôs painel jiganti ku testu na kriolu y na inglês.

Kriolu - ki dja sta na spasu di ofisialidadi na komunikason sosial; na spots publisitáriu; na majistériu (Uni-CV y skólas pilotu); na Parlamentu Kabuverdianu; na investigason; na literatura; na kultura  y arti; na diskursus,  konferénsias y paléstras na Kabuverdi; na ONU, ku diskursu di Purmeru-Ministru - konkista un nobu spasu di ofisiaidadi na TRIBUNA INTERNASIONAL di Aruba.

Es akontisimentu é stóriku y e ka podeba pasa dispersebidu. Nu ta agradise organizasons di konferénsia, mas sobritudu nu ta agradise organizason lokal: drs. Joyce Pereira, Ramon Dandaré, Ruby Eckmeyer, Williams...

Pa Merlynne Williams un obrigadu muitu spesial, dja  ki foi el ki traduzi nos komunikason pa inglês y fase razumu pa papiamentu di “charla” organizadu na Bibliotéka di Aruba.

Pa nhos tudu un grandi obrigadu – pa “boso tur masha danki”.

Nu krê rasalta, inda, ma tudu koruspondénsia trokakadu, y ki pirmiti nos partisipason na konferénsia, foi na papiamentu (di ses parti) y na kriolu (di nos parti). Kel-li ta da ideia di aprosimason ki ten entri kabuverdianu y papiamentu, na un persentájen ki debe txiga 50%.

Manuel Veiga

Celebração do XX aniversário do Projecto da Rota de Escravos




A convite da Senhora Embaixadora de Cabo Verde em França, tomei parte, ontem, dia 10/09/14, nas comemorações do XX aniversário do projecto da Rota de escravos, na sede da UNESCO, em Paris.

Foi emocionantes os diversos testemunhos sobre essa Rota, um momento dramático e horrendo que a história deve registar e a que a humanidade não deve ficar indiferente. O mundo foi formatado por essa tragédia e hoje as repercussões são visíveis nos mais diversos quadrantes do globo. O humanismo exige a reposição dessa consciência e o restabelecimento da justiça.

Infelizmente, a consciência desse drama, os males que provocou e a justiça que reclama continuam, teimosamente, a ser ignorados e, muitas vezes, marginalizados ou, até, em muitos casos, desprezados.

Na mesa-redonda, ouvi um testemunho que me fez pensar no contexto caboverdiano. Um jovem das Caraíbas disse : « je suis, moi-même, raté, du point de vue de mon histoire et de mon education ». Confessou que a história que lhe ensinaram e muitos aspectos da educação que recebeu só contribuíram para aumentar a sua alienação.

Sem me dar conta, dei-me comigo a pensar com os meus próprios botões : A consciência da alienação já é um sinal de autenticidade no horizonte. A pior alienação é quando nem sequer temos a consciência da nossa própria alienação. Pensem nisto.

Na mesa-redonda, pude falar da caboverdianidade como um resultado eloquente da Rota de escravos, destaquei a importância da inscrição da Cidade Velha na Lista de Património  Mundial e advoguei para que  o projecto da Morna, como candidata a Património Mundial venha a ter o sucesso merecido e desejado, tudo isto em nome do reconhecimento da Rota de escravos em Cabo Verde, por nós mesmos, mas também pela comunidade internacional.

90º Aniversário de Amícar Cabral


“Hoje, 12 de Setembro, celebramos o 90º aniversário daquele que um dia dissera: “sou um simples africano que quis saldar a sua dívida para com o seu povo”. Neste dia memorável, eu que não pude participar na epopeia da Luta de Libertação, queria dizer obrigado a Amílcar Cabral e aos seus companheiros da longa e penosa jornada que criou as condições para a conquista da Independência e para o restabelecimento da dignidade do nosso povo, uma Independência que nos trouxe a liberdade e a democracia, faltando apenas a conquista de uma maior densidade de inclusão social.

Em Cabo Verde, há a liberdade até para dizer que o Humanismo de Cabral é “uma ditadura” ou, o que é anticientífico, seria uma ditadura se estivesse ainda vivo.

Sempre ouvi dizer que a ignorância é atrevida e que a maior alienação é quando nem sequer temos consciência da nossa própria alienação Infelizmente isso acontece em Cabo Verde. Se assim é, a conclusão que se pode tirar é que há a necessidade cada vez mais premente do legado humanístico de Cabral ser mais investigado, melhor interpretado, mais estudado, mais divulgado.

A Cátedra Amílcar Cabral que dirijo partilha, com outras instituições, essa missão. É preciso que o sistema do ensino e o da cultura cumpram o seu papel quanto ao ensino, à investigação e à divulgação da nossa história.

Que o 90º aniversário natalício de Cabral traga a Cabo Verde maior consciência e maior compromisso com a nossa história e com a nossa cultura.

Cabral saldou, intensa e magnanimamente, a sua dívida para com o seu povo.  A nós o dever de saldar a nossa dívida para com Cabral e para com a nossa história. Não tenho dúvidas que essa será a melhor forma de festejarmos o nosso humanismo, o melhor presente de aniversário que podemos oferecer a Cabral”.

 

Saudações académicas  Manuel Veiga

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Parabéns antecipados ao Hélio Cruz

Caro Hélio, Só não é criticado quem não faz nada. Quem, como o Hélio, trabalha e apresenta resultados vê a crítica sem ódio, mas também sem subservência. Se ela tiver razão de ser, tira-se a devida lição. Se ela não tiver razão de ser, pedagogica e fraternalmente, damos o tempo ao tempo para que quem nos critica cresça e tire, ele também, as devidas lições. Eu tive um grande prazer em ler a bonita expressão de Barlavento moldada, poética e criativamente por Hélio Cruz, no alfabeto caboverdiano aprovado. Só por isso, e não é pouco, o Hélio já entrou na história da escrita, em Cabo Verde. Da minha parte, só me resta felicitá-lo e agradecer-lhe por essa bela oportunidade que me deu. Um dia, quando a tempestade passar e as nuvens que ainda insisstem em toldar o ambiente das ilhas desaparecerem, o Hélio terá o merecido reconhecimento do seu povo. Nessa altura, talvez eu esteja já numa outra dimensão. Por isso, eu que desgustei o sabor da sua poesia e da sua escrita, quero, aqui e agora, acompanhá-lo, não tanto num cálice de champanhe ou "porto de honra", mas sobretudo num "fogu de morabéza" ou, melhor ainda, num "monte kara: nos sertéza".

quinta-feira, 1 de maio de 2014

PIRES e O Compromisso com Cabo Verde

Pires e o COMPROMISSO COM CABO VERDE, através do trabalho, da afectividade, do respeito, do reconhecimento e da magnanimidade. Ontem, fui ao lançamento de O MEU COMPROMISSO COM CABO VERDE, no quadro do 80º aniversário de Pedro Pires. Considero que foi um momento de elevação da nossa história. Cabo Verde se orgulha de ter um filho com esta estatura moral, intelectual e política. Sempre admirei o Pires, mas não sabia que também ele nutria uma certa admiração para com a minha pessoa. Hoje, logo pela manhã, alguém telefonou-me a dizer se tinha lido, no número 347 de A Nação, a declaração do Comandante, a meu respeito. Não tinha lido, ainda. Senti-me deveras recompensado. Já tinha experimentado essa recompensa pela condecoração com a ordem do Vulcão que ele me atribuiu em Julho de 2009 e, ainda, pelas declarações feitas quando deixei de exercer a pasta da Cultura (ver PIRES 2014:174, O Meu Compromisso com Cabo Verde, vol. II). Eu que nunca disse o que pensava de Pires, hoje sinto a obrigação moral de o fazer, não por simples obrigação mas sobretudo pela necessidade imperiosa de manifestar-lhe o meu reconhecimento. Pires é, para mim, uma pessoa referência, um homem de palavra e de causas, um amigo discreto, mas presente. Profissionalmente, ele nunca foi o meu chefe directo. Mas, como Primeiro-Ministro e como Presidente da República, tinha que ser, ainda que indirectamente, o meu chefe. Acreditem que o meu relacionamento com ele nunca foi de subordinação. Nunca cheguei a ver nele um chefe autoritário, cego pela arrogância do poder. Pelo contrário, O que me impressionava e impressiona ainda é a sua aura de afectividade, de respeito, de reconhecimento e de estímulo. Mais do que um chefe, ele é um companheiro que não ignora um conselho amigo e frontal, sempre que necessário, mas também sempre com respeito pela pessoa humana. Obrigado meu COMANDANTE por me ter ensinado que a grandeza não está nos galões, mas sobretudo no valor do trabalho, na afectividade, no respeito, no reconhecimento e na magnanimidade. A hombridade manda-me dizer que nas eleições presidenciais de 2001 não votei nele na primeira volta porque ele não se manifestou logo e, como homem de palavra, tive que honrar o meu compromisso com uma outra candidatura. Na segunda volta, não só fiz campanha a seu favor como votei nele. Esta minha atitude, curiosamente, não foi censurada, em momento nenhum pelo Pedro Pires. Porém, alguns companheiros da mesma trincheira que eu não aprovaram a minha atitude e, sem sucesso, tentaram criar-me alguns problemas. Para mim, esta foi mais uma prova de magnanimidade de Pires. Obrigado, meu COMANDANTE.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

O Professor e os Desafios da Construção do Bilinguismo

O Professor e os Desafios da Construção do Bilinguismo Hoje, 23 de Abril, é dia do Professor Caboverdiano. Na vida, já fiz muita coisa: técnico, director e presidente, em diversas áreas da cultura; deputado; ministro e profesor-investigador. Devo confessar que ser professor-investigador é onde me sinto melhor realizado, porque o compromisso com o saber e com o magistério é das melhores opções que se pode ter na vida. Por isso, no dia em que se celebra o Dia do Professor Caboverdiano, quero agradecer a Deus por me ter dado o dom e o gosto de ensinar. Manifestar o meu grande reconhecimento para com: a Universidade de Cabo Verde, por me ter dado a oportunidade de exercer o magistério da minha língua materna; os alunos que me interpelam e me lançam, em todas as aulas, o desafio da ciência e do conhecimento, em matéria de crioulística; os meus colegas professorem que me dão a garantia de uma jornada solidária e de empatia partilhada. Nesta data especial, desejo a todos os que fizeram do magistério um compromisso com a ciência e com o saber uma celebração de compromisso, de engajamento e de empatia com o desafio da ciência e do conhecimento. O meu presente aos professores e ao sistema Uni-CV será uma palestra a ser proferida amanhã, dia 24 de Abril, no Campus do Palmarejo, sobre “O Professor e os desafios da Construção do Bilinguismo”. Abordarei as seguintes questões: O Português como Espaço Aberto; O Caboverdiano como Espaço Identitário; Os Desafios do Ensino do Caboverdiano, num Contexto de Variantes e de Variedades; A Responsabilidade dos Docentes-Investigadores na Construção de um Real Bilinguismo. A todos dirijo um especial convite.

sexta-feira, 28 de março de 2014

A todos e todas peço que aceitem esta forma colectiva de os agradecer, não apenas com a força das palavras, mas sobretudo com a grandeza do meu CORAÇÃO:

Ontem, 27 de Março foi um dia especial para mim, por dois motivos. Foi o Dia das Mulheres de Cabo Verde e foi a data que completei mais um ano de vida. Alegro-me de, como Director da Cátedra Amílcar Cabral, ter realizado, juntamente com outros membros da Direcção, uma Tertúlia sobre “A Questão do Género em Amílcar Cabral, com a animação das Doutoras Crispina Gomes e Eurídice Monteiro. O Auditório do Campus de Palmarejo ficou repleto, a rebentar pelas costuras. Alunas, alunos, docentes e Combatentes da Liberdade da Pátria marcaram presença activa. Em nome da Cátedra, da Uni-CV e das Mulheres de Cabo Verde, queria agradecer a todos. Também o dia 27 de Março registou mais um aniversário natalício meu. Foi surpreendente o número de amigos que se juntaram a mim, através do telefone, do e-mail e do Facebook para um “parabéns a você”. Só no Facebook, na minha cronologia, mais de duas centenas de amigos me formularam votos de sucesso e de saúde e isto sem contar os votos que entraram via mensagens privadas. A todos queria agradecer e dizer-lhes o quão importante foi para mim o seu gesto e carinho. Na verdade, hoje, atingi uma dimensão que tem em muito boa conta a relação entre o EU e o OUTRO. Em mim, essa relação cresce a cada dia que passa. A cumplicidade e a interdependência entre essas duas entidades, em mim, atingiram uma dimensão significativa. Daí que os votos formulados me fizeram crescer, ainda mais, nessa azágua do dar e receber. É por isso que, a todos, penhoradamente, agradeço. Tendo em conta o número de amigos que a mim se juntaram na celebração do dia, não poderei personalizar os agradecimentos. A todos e todas peço que aceitem esta forma colectiva de os agradecer, não apenas com a força das palavras, mas sobretudo com a grandeza do meu CORAÇÃO (28.3.2014).

segunda-feira, 24 de março de 2014

Um ramalhete de estima, de reconhecimento e de respeito para as mulheres da Uni-CV

Caríssimos Membros da Cátedra Amílcar Cabral Caríssimos Membros do Sistema Uni-CV, Em Cabo Verde, as MULHERES têm estado a marcar a agenda de transformação do País. Na Uni-CV, o lugar que a mulher vem ocupando é cada vez mais significativo: temos uma direcção marcadamente feminina; a percentagem das alunas-estudantes ultrapassa, de longe, a dos alunos-estudantes; não tenho dados, mas a percentagem das docentes e funcionárias, na Uni-CV parece ultrapassar a dos docentes e funcionários. Não há razões para alarmismos, mas há que diagnosticar as causas. De uma coisa estamos certos: o esforço das mulheres começa a colher os frutos. A Cátedra Amílcar, no âmbito do Dia 27 de Março, pretende oferecer “um ramalhete de estima, de reconhecimento e de respeito” para as mulheres da Uni-CV, em particular, e para a mulher caboverdiana, em geral. Com efeito, a mulher, como nossa mãe, esposa, filha, aluna, colega de trabalho e amiga, merece o melhor de nós homens, pelo companheirismo, pela dedicação, pelo respeito e pela agenda de transformação que ela vem marcando. O ramalhete acima referido terá o formato e o perfume de uma tertúlia sobre “A Questão do Género em Amílcar Cabral” e a questão do género para os homens e mulheres da Uni-CV. Na primeira parte, teremos como animadora a Doutora Crispina Gomes e como debatedora a Prof. Doutora Eurídice Monteiro. Na segunda parte, essencialmente consagrada ao debate terá, também, a moderação da Doutora Eurídice Monteiro. A tertúlia terá lugar na próxima quinta-feira, dia 27 de Março, no Auditório do Campus de Palmarejo, das 16-18 horas. Venham todas e todos dar forma e conteúdo a esse “RAMALHETE ESPECIAL que queremos oferecer às nossas crioulas. Tragam os vossos alunos e alunas, os vossos amigos e amigas. As crioulas, pela sua coragem e determinação merecem este e os restantes dias da semana. Se comungam das ideias acima expendidas, venham demonstrá-las na TERTÚLIA do DIA 27 de Março.

quarta-feira, 5 de março de 2014

KRIOLU KA TA DA PA SKREBE UN "TRATADO"

N sa ta volta di un almosu di Sinza, na kaza di nha mana ki N krê rai di txeu, undi, pa alén di trotxida y kuskús ku mel, statutu di kriolu, tanbe, marka un prezénsa fórti. Na es almosu, un konvidadu di familha fla, katigorikamenti, ma kriolu ka ta sirbi nin pa skrebe, nin pa traduzi un “tratado”. N fla-l: si nho nhu ta pâpia y N ta konprende, y mi N ta pâpia y nhu ta konprende-m, pamodi ki nos kriolu ka ta da pa skrebe y pa traduzi un “tratado”? El rusponde-m ma kriolu ka ten rekursus linguístiku pa kel-la. N tenta dimonstra-l ma rekursus si ka ten ta kriadu, ô ta enprestadu, sima oji, na dumíniu informátiku, txeu termu ô spreson, na txeu língua, ta ben di inglês. Nha interlokutor, profundamenti konvensidu ma razon staba di si ladu, el ka konkorda ku mi. Es puzison-li fase-m lenbra Étienne Dolet, sitadu pa George Monin, na Histoire de la Linguistique, PUF, 1974, p. 112, ki na 1540, el ta flaba ma tudu língua di Europa “sont des langues non réduites en art”. Na altura, únikus líhgua ki ta sirbiba pa arti , pa filozofia y pa siénsia éra latin ô gregu. Mounin, inda, ta fla ma na séklu XVIII padri Gédoyn skrebe: “Traduire c’est mettre en langue vulgaire un auteur ancien, soit grec, soit latin”. N ta verifika ma puzison di nha interlokutor, na es almosu di Sinza, é igual ku puzison di Étienne Dolet na 1540 y ku kel di “ l’ábbé Gédoyn”, na séklu XVIII. Si nu fika paradu na ténpu, ta fla ma kriolu ka ta sirbi pa dumínius di siénsia y di téknika, nos y nos língua, nu ta fika paradu na ténpu, tanbe. Si línguas di Európa é oji u-ki es é, é pamodi es ka fika paradu na ténpu. Kriolu tanbe ka pode fika paradu na ténpu. É pamodi kel-li ki nu krê difende-l y valoriza-l. Ken ki oji ta txoma-nu di dodu, pamodi es ta atxa ma es ki sta más avansadu, manhan es ki ta fika na lugar di Ken ki ka ten nen vison, nen anbison, dianti di ilimentu más fórti y más konplétu di nos kriolidadi (ô, si nhos krê, di nos identidadi).

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Como Traduzir o Português “Culto” para o Crioulo “Culto” e Genuíno?

A natureza do crioulo é híbrida. Um hibridismo que no dizer de Gabriel Mariano não é uma justaposição, mas uma harmonização. O crioulo caboverdiano é mesmo isso: o resultado da interpenetração do mundo africano com mundo lusitano, no aspecto étnico, cultural e linguístico. A essência do crioulo, ab initio, está na harmonização destes dois mundos. Hoje, o crioulo abriu também as portas para os contributos da “Nação Global” espalhada pelo mundo, porém, no aspecto linguístico, o contributo da língua portuguesa ocupa o primeiro plano. Segundo alguns estudiosos, Baltasar Lopes em particular (1957), “... o tesouro lexical é na sua quase totalidade português”. Isto é um facto inegável. E se tentarmos excluir as palavras ou vocábulos de origem portuguesa, a comunicação deixaria de existir. Então, onde está a originalidade do crioulo? Temos que convir que a língua não é o seu tesouro lexical. O que caracteriza uma língua, em primeiro lugar, é a sua gramática. Só em segundo lugar é que entra o seu tesouro lexical Hoje sabemos que a gramática do crioulo tem uma origem africana e uma reconstrução local. A especificidade do crioulo esta nessas duas componentes: a origem africana e a reconstrução local. Mesmo no tesouro lexical, o material provindo do português, na sua esmagadora maioria, recebeu em Cabo Verde uma “alma nova”, na expressão do linguista alemão Jürgen Lang, aquilo que eu chamaria um “core meaning” próprio. Assim, na tradução, a maior atenção deve ir para gramática e só em segundo lugar para o léxico. Vejamos algumas especificidades gramaticais do crioulo: 1.Na morfologia do género, só os seres animados é que dão conta de formas próprias para o masculino e para o feminino. Os inanimados são neutros: “pórta branku, mudjer bunita, ómi bunitu”. Contrariamente, em português, o género existe tanto para os seres animados como para os inanimados: “porta branca, mulher bonita, homem bonito. 2.Na morfologia do número (singular e plural), o crioulo é uma língua altamente económica, não permitindo redundâncias desnecessárias. Assim, utiliza apenas uma marca do número que pode ser um quantitativo, ou as desinências “s” e “is”. Ex: dôs amigu; txeu kabra, mudjeris di Kabuverdi; ómis di Kabuverdi”. Em português pode haver mais do que uma marca do número: “dois amigos; muitas cabras, mulheres de Cabo Verde, homens de Cabo Verde. Quando o plural vem expresso num determinante, o determinado não leva o plural: “nhas amigu”ses amigu”. Em português, a marca do plural vem tanto no determinante como no determinado: “os meus amigos; os seus amigos”. Também quando a marca do plural vem expressa no substantivo, o adjectivo que o determina não a traz, contrariamente o que se passa em português. Ex: “amigus intilijenti”/ “amigos inteligentes”. 3.Na morfologia dos verbos regulares não existem flexões. O crioulo utiliza marcadores ou actualizadores verbais que dão conto do tempo, do modo e dos aspectos verbais (cf. Manuel Veiga, O Caboverdiano em 45 Lições ou Introdução à Gramática do Crioulo). Ex: N kume, nu kume, N ta kume, nu ta kume, N kumeba, nhos kumeba, es sa ta kume...”. Em potuguês: comi, comemos, como, comemos, tinha comido, tínheis comido, estão a comer”. 4.Na sintaxe há alguma aproximação com o português, mas há também especificidades próprias do crioulo. No crioulo, o sujeito é obrigatório; em português é facultativo: “N ta trabadja”/ trabalho ou eu trabalho. Em português na ordem de hierarquização dos elementos morfológicos, temos, normalmente, sujeito, predicado, complemento directo e complemento indirecto. No crioulo, algumas vezes, o complemento indirecto do português transforma-se em complemento directo e vem em primeiro lugar: “Dei uma casa ao João”/ “N da Djon un kaza”. 5.Na forma passiva, o português utiliza as formas do verbo auxiliar “ser”com o particípio passado do verbo principal. No crioulo, habitualmente não se usa as formas do verbo auxiliar. Ex: “Um livro foi escrito pelo João”/ “un livru skebedu pa Djon”. No crioulo, ainda, a construção pode tomar forma relativa: “un livru ki Djon skrebe”. 6.No português, o emprego do artigo é obrigatório. No crioulo o artigo não existe, salvo o indefinido “un” e, raramente, o definido “kel”. Ex: “A minha casa”/ “Nha kaza”; “o homem que vi”/ “kel ómi ki N odja”. 7.Especificidade no emprego das “regências nominais e verbais”. A regência do português raramente se confunde com a do crioulo. Podemos até dizer que, na regência, o crioulo se demarca do português, afigurando-se como uma das grandes manifestações da sua especificidade. Exemplos: “ir à missa / bai misa; rico em vitamina/riku di vitamina; no ano passado/ na anu pasadu; dreito a esclarecimento/ direitu di sklarisimentu; rumo ao Fogo/ róstu pa Fogu; exigir que/ iziji pa; acho que/ N ta atxa ma...”. Na tradução, é sobretudo na especificidade gramatical e na reconstrução do “core meaning” local que devemos dar maior atenção. O léxico, quer queiramos ou não, na sua maioria expressiva veio e continuará a vir do português. Querendo nós um crioulo genuíno, a aposta, sem descartar o “core meaning” e a reconstrução local, tem que ser na especificidade gramatical. Tenho verificado que alguns defensores do crioulo se tem enfeudado na especificidade lexical do crioulo, esquecendo, que a maior especificidade do crioulo está na sua gramática e sintaxe. Espero ter dado resposta aos que mostram algum desconforto com a tradução que faço, não pela observância estrita da especificidade gramatical que faço, mas pelo léxico que utilizo. Imaginem o que seria do português e de todas as línguas latinas se se resolver excluir dessas línguas todo o tesouro lexical que receberam do latim e do grego! O mesmo aconteceria se excluirmos do crioulo o manancial do léxico proveniente do português.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Mantxuadu na Kriolu/Karaptidu na nos Língua

Facebook di 21 di Fevereiru, Dia Internasional di Língua Matérnu Mantxuadu na Kriolu/Karapatidu na nos Língua Na Dia Internasional di Língua Matérnu, N krê spresa nha sentimentu di gratidon pa nha povu ki lega-m, di grasa, un língua ki é un “lóka” di rikéza y un monumentu di sabedoria, na planu di kumunikason y di supórti di nos mundivivénsia. Korpu kustuma ta gurgunhi-m óki, pur izénplu, N ta analiza rikéza y konpleksidadi di strutura verbal na kriolu, ô, anton, ekonomia y pertinénsia linguístiku na kanpu morfolójiku di nos língua. Kriolu é un diamanti ki ka sta inda tudu lapidadu pamodi txeu di si rikéza sta sukundidu ô diskonhisidu pa un párti signifikativu di nos gentis. Nu ta veifika ma txeu gentis, inda, sta ofuskadu ku lus di purtugês, es ka krê ô es ka sa ta pode odja lus di kriolu. É un verdadi ma tudu dôs língua é di-nos, y ninun ka debe okupa lugar di kelotu, nen “inxorá”, “rusgá” ô “manhentá” un lugar di fórma skluzivu. Trinta y oitu anu dipôs di Indipendénsia, prusésu di afirmason di kriolu ganha txeu, mas nu tene inda txeu kaminhu pa frénti. Es kaminhu, nu debe anda-l tudu djuntu, kada un na si rénki. Oji, krioulu ta ensinadu na Uni-CV; sa ta funsiona dôs skóla pilotu, un na sidadi y otu na kanpu; ten dizénas di trabadjus di invistigason konkluídu y en kursu; rasentimenti, oitu studantis tirmina mestradu na kriolístika y língua kabuverdianu y séti otus tirmina pós-graduason na mésmu kursu; tézis, ensaius, gramátikas, disionárius, romansis, livrus di poezia dja publikadu ô sta na prélu; ten más artigus, prugramas y notisiárius na kumunisaon sosial; na adiministrason públiku, y na oralidadi, kriolu ta konvive ku purtugês, enbóra partikularmenti na oralidadi; dja traduzidu pártis signifikativu di Bíblia y dja fasedu filmi na variedadis di Santiagu y di S. Visenti; stabilisedu anu di língua matérnu na Uni-CV; atas na Parlamentu di intervensons na kriolu, ta skrebedu na kriolu; diskursu di PM, na 66ª Konferénsia di Nasons Unidu, foi na kriolu. Nu ten ki adimiti ma tudu kel-li é signifikativu, mésmu ki nu sta inda lonjidi konfiri pa kriolu lugar ki, pa direitu, el debe okupa. Pa okazion di Dia Internasiona di Língua Matérnu, nu krê rajista dôs akontisimentu, dôs prénda ki Radiu Nasional oferese si ovintis, oji, na notisiáriu di séti óra: un jornalista di Fogu da-nu un lison sobri alguns partikularidais leksikal di si ilha. Mi, N prende ku el, y dja N rajista pa nha disionáriu, signifikadu di “mantxuadu”. Un otu jornalista di Barlavéntu, ki ta tabadja na Santa Katarina di Santiagu, diklara ma el ta transmiti si prugrama na varianti di si ilha y ma gentis di intirior di Santiagu gosta di si prugrama y ta atxa ma el ten un “kriolu” sabi “pa frónta”. Tudu kel-li pa fla ma si nu djunta mô, mantxuadu na kriolu, nos língua matérnu ta sai di anonimatu, na planu di kumunikason formal.