sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Aula Magna pelo Emb. Óscar Oramas


A Segurança da Guiné Conacri conhecia  ou não os planos para o assassinato de Amílcar Cabral? (2.5.2014)

 

Como previsto, realizou-se na manhã de hoje, dia 2 de Maio, no Campos do Palmarejo da Uni-CV, uma Aula Magna sobre “Amílcar Cabral para Além do Seu Tempo”.

 

O evento foi promovido pela Cátedra Amílcar Cabral, no quadro das suas atribuições de promover um maior conhecimento e valorização do legado de Cabral.

 

O acto foi presidido pela Magnífica Reitora, Doutora Judite de Nascimento, e contou com a presença da Equipa Reitoral; de Direcções do Sistema Uni-CV; do Director e membros da Cátedra Amílcar Cabral; de vários Combatentes da Liberdade da Pátria, entre os quais a viúva de Amílcar Cabral; de membros da Fundação Amílcar Cabral e do Instituto Pedro Pires; de vários docentes, investigadores e estudantes da Uni-CV.

 

O Auditório do Campus ficou completamente cheio, com uma moldura humana atenta e

interessada.

 

O Embaixador Óscar Oramas, com uma eloquência invulgar e cativante, discorreu sobre o tema, tendo-se referido, entre outros aspectos, aos seguintes pontos:

 

1) O paralelismo existente entre Amílcar Cabral e José Martí, duas personalidades de dimensão universal que, por serem um dos grandes obreiros na fundação das respectivas pátrias, continuam vivos no legado que nos deixaram;

 

2) Falou de Amílcar Cabral como um estratega e lutador, não só da Guiné-Bissau e Cabo Verde, mas de todas as colónias, então em luta. Considerou-o um ilustre filho de todos os povos colonizados, um homem de dimensão ética extraordinária;

 

3) Considerou que a luta armada, em situação difícil e desigual, só foi vitoriosa por causa da perseverança dos combatentes, da estratégia e da pedagogia do líder.

 

4) Considerou que o apoio do  Presidente Sécou Touré foi inestimável. Inestimável também foi o papel das Nações Unidas;

 

5) Considerou que o assassinato de Amílcar Cabral decorre do desespero do Regime Fascista Português e da sua Polícia Política – a PIDE DGS;

 

6) Terminou com um sobrevoo breve à volta dos 9 capítulos que integram o seu livro Amílcar Cabral para Além do seu Tempo.

 

No debate, vários intervenientes comentaram aspectos relevantes da Aula Magna, destacaram o valioso  contributo não só do povo da Guiné Conacri, como também o de Cuba, na Luta de Libertação Nacional, sugeriram que as instituições do ensino passem a dar maior atenção ao  legado de Cabral, já que a juventude só pode conhecer e valorizar esse legado se a ele tiver acesso.

 

Uma questão colocada que mereceu especial atenção do orador foi a seguinte: “ A Polícia de Segurança da Guiné Conacri tinha ou não conhecimento do plano secreto para o assassinato de Cabral? Se tinha, porque não agiu para evitar a tragédia?

 

Respondendo, o Embaixador Oramas confirmou que  a Segurança da Guiné Conacri tinha conhecimento do plano secreto, que Cabral foi avisado, e que a tragédia aconteceu porque o plano foi antecipado. Disse ainda que  Amílcar Cabral lhe tinha solicitado um encontro urgente e que ficou combinado para  ser as 11H00 do dia 21 de Janeiro de 1973.  Disse que presume que Cabral queria discutir com ele esse hediondo plano. Porém, a tragédia deu-se na noite do dia 20 de Janeiro. Declarou que foi ele, como Embaixador, o primeiro diplomata a ter conhecimento do bárbaro assassinato e foi ele também quem deu notícia ao Presidente  Sécou Touré, que ainda não sabia.

 

E  assim terminou a Aula Magna. A Cátedra Amílcar Cabral deu “rendez-vous” aos presentes para o lançamento da reedição do livro Amílcar Cabral para Além do seu Tempo, em Novembro próximo, no quadro do 90º aniversário natalício de Cabral, que acontece a 12 de Setembro do corrente ano.

 

Elaborado por Manuel Veiga, Director da CAC-CV

25 de Maio, DIA de África




 

Em Cabo Verde, para uns, ser africano é um orgulho. Para outros é uma dor. Para outros ainda é algo idílico, apenas sentimental. Uns dizem que temos fraco conhecimento de África e que África  também conhece muito pouco Cabo Verde. Há quem diga que para além do fraco conhecimento, há também fraca cooperação com a África e que os nossos “clusters” estão ancorados mais na Europa do que na África, defendendo a recentragem em África.

E eu, como africano e cidadão caboverdiano, penso que:

  1. Cabo Verde é um rosto de África. Tem especificidades, tem particularidades próprias.Tem aspectos positivos e negativos, como em todo o lado. É parte de um todo, com um ID próprio, id este que não é indiferente às matrizes: África, Europa e o Mundo. Por isso, temos uma Nação Global cuja marca (brand) é o diálogo, a tolerância, a partilha, a complementaridade. Se somos uma Nação crioula é, precisamente, porque o nosso ser e estar no mundo têm o DNA e o arco-íris do humanismo africano e mundial. É que ontem o nosso DNA tinha a cumplicidade de África e de Portugal, mas hoje, através da Nação diasporizada, a nossa cumplicidade é com o mundo, mesmo que a África ocupe um lugar especial, porque ali é que está  o nosso “oikos.
  2. O futuro da humanidade, como dizia um notável africano, é crioulo. O que para os outros é futuro, para nós é presente. Nós já somos o resultado da globalização. É por isso que o racismo e o etnocentrismo não devem ter espaço em nenhum lugar no mundo, particularmente na nossa sociedade crioula.
  3. E a nossa relação com a África deve ser uma relação inclusiva, sem nunca pretender excluir a relação com o mundo e com a globalização, mesmo na questão das ancoragens. Essa relação deve estar assente num triângulo em que num lado está a cultura e a história; noutro lado o sentimento profundo que nos liga à África; finalmente, no terceiro lado do triângulo devem estar os interesses económicos de Cabo Verde. Qualquer ancoragem com a África baseada apenas no sentimentalismo e na exclusão de outros espaços vai contra a essência da crioulidade; diria, mesmo, que vai contra o sentido da história, da nossa história.

No dia em que celebramos a África, queria saudar, vivamente, o Continente da esperança, o Continente do futuro, mas na tolerância, na inclusão e na equidade. Essa responsabilidade é, particularmente, nossa: nós os africanos de todos os rostos e de todas as latitudes, em África.

Neste dia de África, gostaria de saudar a memória de três caboverdianos que nos ensinaram não só a amar, mas também a admirar a África: Pedro Cardoso da Ode à África, quando escreve: ‘’Africa minha, das Esfinges berço/ Já foste grande, poderosa e livre:/ Já sob o golpe do gládio ingente/ Tremeu o Tibre/ ... Se foste tu quem acendeu o facho/Que fez da Grécia a glória peregrina/Porque hoje vergas para o chão a fronte/Adamantina?”.

Amílcar Cabral que diz ser “Um simples africano que quis saldar a sua dívida para com o seu povo”, tendo consentido o sacrifício da própria vida para a libertação de Cabo Verde e da Guiné-Bissau, como, de algum modo também, da própria África.

Finalmente, Manuel Duarte que em “Caboverdianidade e Africanidade” afirma: “Nós os caboverdianos estamos étnica e historicamente ligados tanto à África como à Europa, acrescendo sobremaneira no sentido da africanidade, a situação geográfica, o condicionamento climatérico, a predominância da corrente imigratória negra no povoamento das ilhas, ... em suma, o fenómeno colonial e as suas necessárias implicações ...”.

Mana Guta lança o seu primeiro livro, hoje, às 17H00, no Palácio da Assembleia Nacional


(Facebook de 18.7.2014.

Com enorme satisfação vou proceder, hoje, ao lançamento de um livro que é um tesouro raro no panorama literário caboverdiano. Trata-se de uma obra escrita não apenas com "uma sintaxe de luz e uma morfologia de morabéza”, mas também com uma semântica de inclusão efectiva e de autenticidade real. A sua escrita não é apenas guiada pela razão e pelo sentimento, mas sobretudo pela a voz da alma, uma doce melodia que nos surpreende, nos encanta, nos inquieta, nos absorve, nos interpela.
Ouso convidar os meus amigos para a descoberta deste tesouro raro. Venham todos os que puderem tomar parte nesta festa das letras. Gostaria que o prazer intelectual que a autora nos proporciona seja uma prenda inclusiva e partilhada com os amigos, com os compatriotas, com os amantes das letras e da inclusão autêntica, efectiva e transversal.
Obrigado, Mana Guta, por esta lufada de ar fresco que, cândida e caboverdianamente, trouxeste às nossas letras.
 

RIOLU DI KABUVERDI KONKISTA MÁS UN SPASU DI OFISIALIDADI


(facebook 11.8.140)

 

Na un inisiativa di Society for Pidgin and Creole Linguistics, di Society  for Caribbean Linguistics  y di Associação de Crioulos de Base Lexical Portuguesa e Espanhola realiza, na Aruba, di 5-8 di Agostu di 2014, un Konferénsi Internasional ku siginti tema: “The Caribbean Today: Language Awareness and Language Developement”.

Na es konferénsia, pa purmeru bês, na un palku internasional multilingi, kriolu di Kabuverdi foi, djuntu ku papiamentu y ku inglês, língua di konferénsia.

Komu raprizentanti di Kabuverdi, nu aprizenta un komunikason sobri “Kaminhus di Valorizason di Kriolu na Kabuverdi”. Pa alén di spozison oral na kriolu, tinha dôs painel jiganti ku testu na kriolu y na inglês.

Kriolu - ki dja sta na spasu di ofisialidadi na komunikason sosial; na spots publisitáriu; na majistériu (Uni-CV y skólas pilotu); na Parlamentu Kabuverdianu; na investigason; na literatura; na kultura  y arti; na diskursus,  konferénsias y paléstras na Kabuverdi; na ONU, ku diskursu di Purmeru-Ministru - konkista un nobu spasu di ofisiaidadi na TRIBUNA INTERNASIONAL di Aruba.

Es akontisimentu é stóriku y e ka podeba pasa dispersebidu. Nu ta agradise organizasons di konferénsia, mas sobritudu nu ta agradise organizason lokal: drs. Joyce Pereira, Ramon Dandaré, Ruby Eckmeyer, Williams...

Pa Merlynne Williams un obrigadu muitu spesial, dja  ki foi el ki traduzi nos komunikason pa inglês y fase razumu pa papiamentu di “charla” organizadu na Bibliotéka di Aruba.

Pa nhos tudu un grandi obrigadu – pa “boso tur masha danki”.

Nu krê rasalta, inda, ma tudu koruspondénsia trokakadu, y ki pirmiti nos partisipason na konferénsia, foi na papiamentu (di ses parti) y na kriolu (di nos parti). Kel-li ta da ideia di aprosimason ki ten entri kabuverdianu y papiamentu, na un persentájen ki debe txiga 50%.

Manuel Veiga

Celebração do XX aniversário do Projecto da Rota de Escravos




A convite da Senhora Embaixadora de Cabo Verde em França, tomei parte, ontem, dia 10/09/14, nas comemorações do XX aniversário do projecto da Rota de escravos, na sede da UNESCO, em Paris.

Foi emocionantes os diversos testemunhos sobre essa Rota, um momento dramático e horrendo que a história deve registar e a que a humanidade não deve ficar indiferente. O mundo foi formatado por essa tragédia e hoje as repercussões são visíveis nos mais diversos quadrantes do globo. O humanismo exige a reposição dessa consciência e o restabelecimento da justiça.

Infelizmente, a consciência desse drama, os males que provocou e a justiça que reclama continuam, teimosamente, a ser ignorados e, muitas vezes, marginalizados ou, até, em muitos casos, desprezados.

Na mesa-redonda, ouvi um testemunho que me fez pensar no contexto caboverdiano. Um jovem das Caraíbas disse : « je suis, moi-même, raté, du point de vue de mon histoire et de mon education ». Confessou que a história que lhe ensinaram e muitos aspectos da educação que recebeu só contribuíram para aumentar a sua alienação.

Sem me dar conta, dei-me comigo a pensar com os meus próprios botões : A consciência da alienação já é um sinal de autenticidade no horizonte. A pior alienação é quando nem sequer temos a consciência da nossa própria alienação. Pensem nisto.

Na mesa-redonda, pude falar da caboverdianidade como um resultado eloquente da Rota de escravos, destaquei a importância da inscrição da Cidade Velha na Lista de Património  Mundial e advoguei para que  o projecto da Morna, como candidata a Património Mundial venha a ter o sucesso merecido e desejado, tudo isto em nome do reconhecimento da Rota de escravos em Cabo Verde, por nós mesmos, mas também pela comunidade internacional.

90º Aniversário de Amícar Cabral


“Hoje, 12 de Setembro, celebramos o 90º aniversário daquele que um dia dissera: “sou um simples africano que quis saldar a sua dívida para com o seu povo”. Neste dia memorável, eu que não pude participar na epopeia da Luta de Libertação, queria dizer obrigado a Amílcar Cabral e aos seus companheiros da longa e penosa jornada que criou as condições para a conquista da Independência e para o restabelecimento da dignidade do nosso povo, uma Independência que nos trouxe a liberdade e a democracia, faltando apenas a conquista de uma maior densidade de inclusão social.

Em Cabo Verde, há a liberdade até para dizer que o Humanismo de Cabral é “uma ditadura” ou, o que é anticientífico, seria uma ditadura se estivesse ainda vivo.

Sempre ouvi dizer que a ignorância é atrevida e que a maior alienação é quando nem sequer temos consciência da nossa própria alienação Infelizmente isso acontece em Cabo Verde. Se assim é, a conclusão que se pode tirar é que há a necessidade cada vez mais premente do legado humanístico de Cabral ser mais investigado, melhor interpretado, mais estudado, mais divulgado.

A Cátedra Amílcar Cabral que dirijo partilha, com outras instituições, essa missão. É preciso que o sistema do ensino e o da cultura cumpram o seu papel quanto ao ensino, à investigação e à divulgação da nossa história.

Que o 90º aniversário natalício de Cabral traga a Cabo Verde maior consciência e maior compromisso com a nossa história e com a nossa cultura.

Cabral saldou, intensa e magnanimamente, a sua dívida para com o seu povo.  A nós o dever de saldar a nossa dívida para com Cabral e para com a nossa história. Não tenho dúvidas que essa será a melhor forma de festejarmos o nosso humanismo, o melhor presente de aniversário que podemos oferecer a Cabral”.

 

Saudações académicas  Manuel Veiga