segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

20 de Janeiro de 2013


Eis o extracto de algumas considerações que fiz, no do lançamento (reedição) de obras escolhidadas de Amnílcar Cabral, no quadro do Fórum organizado pela Funadação Amílcar Cabral (18, 19 e 20 de Janeiro de 2013):

Nesta breve Nota, quis dar o meu testemunho e a minha visão relativamente à forma como os caboverdianos apreenderam , viveram e vivem o legado de Amílcar Cabral e a história da Luta de Libertação Nacional. Constatei a existência de três fases bem distintas: os Anos de Fogo, caracterizados por um nacionalismo exacerbado, mas que deixou vários aspectos positivos no modo de ser e de existir, na toponímia, nos nomes de pessoas, como também em alguma criatividade artística de poetas, escritores, trovadores, escultores e batucadeiras. Os Anos de Brasa protagonizados por um resfriamento dos anos de fogo e, por consequência,  numa erosão do nacionalismo dos primeiros anos e uma certa desvalorização do legado de Cabral, traduzidas na mudança de símbolos nacionais e na tentativa de substituir Cabral por outras figuras históricas e, ainda, em alguns questionamentos e eliminação da  efígie de Cabral em notas e moedas caboverdianas, uma conquista dos anos de fogo. Finalmente, os Anos de Luz, hoje em construção e que, sem dúvida, na base de uma reflexão mais consistente, a partir de dados existentes, coligidos e tratados em espaços de memória e de investigação, como o Instituto do Arquivo Histórico Nacional, a Fundação Amílcar Cabral, a Universidade de Cabo Verde, entre outras instituições públicas e privadas, vão desembocar num melhor conhecimento, divulgação e assunção crítica da história da luta e do legado de Cabral.

O sinais dos Anos de Luz são já visíveis na iniciativa de criação da Fundação Amílcar Cabral, como espaço de memória; na criação do museu de documentos especiais no Instituto do Arquivo Histórico Nacional; na criação da Cátedra Amílcar Cabral pela Universidade Pública de Cabo Verde; na institucionalização da Conferência Anual Amílcar Cabral/Paulo Freire, na Universidade de Santiago; na imortalização de Amílcar Cabral na Academia de Letras (em processo de criação); em várias iniciativas pedagógicas e cultuais que se encontram em fase de incubação nos Ministérios com vocação de ensino e de promoção da história e da cultura.

Se, no dizer do poeta,  Cabral representa a consciência, a bandeira e a liberdade do nosso povo, há que reconhecer que o seu legado empoderou e vem empoderando a nossa consciência. Há que reconhecer ainda que pela luta, trabalho, resistência e tenacidade do nosso povo,  hoje temos o orgulho de ter um hino e uma bandeira. Porém, para Cabral não chega ter hino e bandeira. Há que fazer da cultura e do conhecimento os motores do nosso desenvolvimento. Mas isto não chega. Há que ter mais liberdade de expressão, mais liberdade económica, mais liberdade cultural, religiosa e sindical. Há que edificar uma sociedade com menos violência, com mais qualidade ambiental e com mais inclusão social. Tudo isto, felizmente, está em processo. Há que fazer o devido upgrading, temos que sonhar mais e ser mais audaciosos.

Estas são alguns aspectos do legado de Cabral que nesses Anos de Luz somos  convocados a realizar. Que cada um (poderes públicos, instituições privadas e cidadania) faça a sua parte e coloque a sua pedra na pirâmide em construção, para que continue a haver mais consciência,  para que o nosso hino e a nossa bandeira continuem sendo símbolos maiores da Nação, para  que a LIBERDADE, nas suas diversas dimensões, configure o DNA e a matriz de vida de todos os caboverdianos. E que a metáfora da Julinha e o Testamento de Agostinho não sejam letras mortas, nem sacrifícios inúteis, como aliás não têm sido e nem estão sendo. Temos de reforçar a “corrente”, de diversificar as antenas, de estabelecer novas redes e de optimizar os procedimentos e resultados. Eis os desafios para os Anos de Luz que estamos inaugurando, sobre o legado de Amílcar Cabral e a gesta gloriosa do nosso Povo. Auguramos que a obra que se acaba de dar à estampa traga mais empoderamento e mais luzes, nestes anos de luz sobre a nossa história. Manuel Veiga

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