sábado, 6 de fevereiro de 2016

AUTONOMIZAÇÃO DA LÍNGUA CABOVERDIANA


AUTONOMIZAÇÃO DA  LÍNGUA CABOVERDIANA:

REESTRUTURAÇÃO LOCAL, COMPONENTES AFRICANA E LUSITANA                    
 A maior força da língua caboverdiana (LCV) está na sua reestruturação local. A partir do substrato africano e lusitano, o povo caboverdiano, do ponto de vista linguístico (mas também antropológico) soube absorver o material importado e conferir-lhe, no dizer de Jürgen Lang, uma alma nova. A expressão africana é significativa, como poderemos ver no decorrer da investigação que vamos fazer. Porém, a componente lusitana,  é verdadeiramente, expressiva, particularmente no aspeto lexical. Na investigação já iniciada, irei, enquanto a mesma durar, dar conta, periódica e sistematicamente, tanto da reestruturação local como da componente africana e lusitana. Conto com as críticas, comentários e achegas de quantos tiverem alguma luz sobre a questão.
Vai ser uma investigação de longo fôlego. Não tenho pressa. E se tomei a decisão de socializar as descobertas  ou as hipóteses formuladas, no decurso do caminho, é precisamente porque sei que o mesmo vai ser longo e, por vezes, difícil de trilhar.
Como linguista, depois de ter dado contributo nas áreas da escrita, da gramática e da lexicografia, esta é, provavelmente, a última etapa de um percurso que dura há cerca de quarenta anos. Contarei com a crítica que traz a luz, não aquela que destrói sem a capacidade de iluminar a mais pequena dúvida ou interrogação.
Para Cabo Verde que me legou uma língua, uma história e uma cultura, quero legar também o meu testamento cultural e linguístico inscrito nas obras já publicadas e nas que seguramente, agora, com o estatuto de professor universitário jubilado, vou continuar a publicar.
Muito proximamente, penso dar à estampa a obra A Palavra e o Verbo, assim caracterizada no pórtico:

Com a força mediática da palavra, o meu «eu» é capaz de significar, de transfigurar, de construir e de comunicar o mundo que nos rodeia, o social que nos preocupa, o cultural que nos enforma, o virtual que nos interpela... Como diria Clarice Lispector: 1986, em Perto do Coração Selvagem: “… continuo sempre me inaugurando, abrindo e fechando círculos de vida…”
Através da palavra  pensamos,  filosofamos, amamos, odiamos, destruímos, rezamos, criamos. Os textos da presente coletânea testemunham a oficina e a lavoura das minhas palavras e do meu verbo, em algumas “azáguas” do meu quotidiano, sempre em sintonia com o que dizia Eduardo Prado Coelho: 1978, em Os Universos da Crítica: «... é bom mexer nas palavras, organizá-las num espaço, estabelecer-lhes movimento de rotação e translação umas com as outras... [para a construção ou configuração de sentidos, tanto os do autor, como os do leitor]. Este é outro modo de ver a questão, mas sabe-se imediatamente que é outro modo do mesmo modo».
Obrigado a todos os que vão acompanhar-me nesta nova aventura. Manuel Veiga

 

1 comentário:

  1. No Facebook surgiram vários comentários que mereceram a seguinte reação minha:

    Obrigado a todos pelo reconhecimento e pelas palavras encorajadoras. A cultura e a investigação são como que uma pedra mágica que iluminam e vitaminam o meu existir, uma espécie de elixir existencial. Em 2006, na "Carta de Nova Iorque", dei conta da importância da cultura para o meu existir. É através dela que "continuo me inaugurando, abrindo e fechando ciclos de vida". Assim, sou eu a agradecer a todos vocês e, particularmente, ao meu povo que me (nos) presenteou com um legado cultural, linguístico e antropológico, fruto da miscigenação do global e do local, no palco das nossas ilhas, miscigenação essa que enriqueceu o património cultural e humano do planeta, razão por que a UNESCO, em 2009, declarou a Cidade Velha "Património da Humanidade".

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