sábado, 15 de setembro de 2012

Acesso ao Ensino Superior em Cabo Verde



Hoje, estive num colóquio sobre o ensino superior em Cabo Verde. Alguém falou do desequilíbrio existente nesse acesso, considerando que os que estudam em Cabo Verde são sobretudo os filhos das classe mais desfavorecidas e que há muito mais filhos dos chamados «copo de leite» que estudam em Universidades estrangeiras. Já, recentemente, no Parlamento, um dep...
utado falou desta situação, em termos dramáticos.

Fiquei a pensar cor com os meus botões: esta situação é mesmo dramática? Ela será um caso típico de Cabo Verde? A minha resposta é que ela não é nem dramática e nem é um caso típico de Cabo Verde. Estou certo que, em Portugal ou em França, sempre houve e haverá mais filhos de ricos que estudam no estrangeiro do que filhos de pobres. Estou certo também de que uma boa política de ensino superior, em Cabo Verde, não é aquela que equilibra o acesso do ensino superior no estrangeiro, entre ricos e pobres, mas aquela que aposta na qualidade e na diversidade do ensino superior em Cabo Verde.

Nós conhecemos as causas da procura do ensino superior no estrangeiro: 1) porque achamos que no exterior a qualidade é melhor; 2) porque para os caboverdianos, o que vem de fora tem sempre mais valor; 3) porque há cursos no exterior que ainda não existem, ainda, em Cabo Verde.

Face a esta situação, a melhor solução não é dar a toda a gente a possibilidade de estudar no exterior, mas criar as condições para que toda a gente, querendo, possa fazer o ensino superior em Cabo Verde.

Para isto, há que apostar na qualidade do ensino; há que criar uma boa imagem do ensino superior em Cabo Verde; há que apostar na classe dos professores-investigadores; há que criar as condições para que os professores-investigadores possam dedicar-se à investigação, porque não têm problemas de subsistência, porque não têm constrangimentos nem de tempo, nem de recursos financeiros, nem de material bibliográfico ou laboratorial, nem de possibilidade de divulgação em livros ou revistas.

O acesso ao ensino superior em Cabo Verde exige uma maior inclusão social dos pais, é certo, mas também dos professores e investigadores. Ele exige, ainda, uma aposta contínua na qualidade do ensino, no melhoramento da imagem desse mesmo ensino e na diversidade de oferta.

Nunca devemos nos esquecer que o ensino superior em Cabo Verde é recente, nem sequer atingiu a idade da adolescência. Então, há que reconhecer o caminho que já foi feito da Independência a esta parte. Há que ter a ambição de ir mais além, sobretudo numa perspectiva endógena.

Conhecendo nós as causas do «staqus quo», não há razão para nenhum alarmismo. Sejamos tão-somente pró-activos, inconformados sim, mas lúcidos e coerentes. Esse nós é o sistema, é a cidadania, são os professores, são os investigadores, são os estudantes.

Finalmente, gostaria de dizer que conheço caboverdianos que se privam do essencial, para poder custear a formação dos filhos no exterior; como conheço também caboverdianos que podem custear a formação dos filhos no exterior e que optaram por fazer essa formação em Cabo Verde.

Isto quer dizer que uma aposta na qualidade, na imagem e na diversidade do ensino em Cabo Verde pode aumentar a procura. Assim penso, mas respeito a opinião contrária.

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