sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Até Sempre, Amiga Elsa Rodrigues dos Santos!



Esta manhã, recebi uma notícia inesperada que me deixou triste. Refiro-me ao passamento da amiga e confrade, a estudiosa da obra de Jorge Barbosa, Dra. Elsa Rodrigues. Nesta hora amarga para os familiares e amigos, inclino-me diante da memória daquela que me ajudou a descobrir a grandeza e a beleza da poesia de Jorge Barbosa, através, sobr...
etudo, da sua tese de mestrado, As Máscaras Poéticas de Jorge Barbosa, publicada pelas Edições Caminho, em 1989.

Sempre quis provar que a crítica de David Mourão Ferreira, relativamente à poesia de Jorge Barbosa, era injusta e revelava um grande desconhecimento das técnicas e da linguagem-tropo e alegórica utilizada pelo autor de Caderno de um Ilhéu.

Jorge Barbosa viveu na época colonial e as críticas que fazia ao Regime salazarista e caetanista eram subterrâneas, utilizando a técnica alegórica de dizer sem ter dito, o que, muitas vezes, faz com que a estrutura de superfície da poética utilizada seja simples, enquanto a estrutura profunda seja complexa e de difícil descodificação.

Mourão Ferreira, provavelmente por desconhecer esta técnica, no Diário Popular de 7/10/1956, falando de Caderno de um Ilhéu, disse: «Jorge Barbosa é um nome que imediatamente ocorre quando se fala de poesia cabo-verdiana. E, no entanto, que decepção este Caderno de um Ilhéu (...)».

Em 1986, com as ferramentas académicas que o curso de linguística me proporcionou e influenciado pelas análises que Elsa Rodrigues dos Santos fez no livro As Máscaras Poéticas de Jorge Barbosa, aceitei o convite de participar no colóquio organizado em Cabo Verde, em homenagem ao cinquentenário da Revista Claridade, com um ensaio sobre « Signo e Símbolos em Jorge Barbosa – Tentativa de um a Análise Semiológica».

O meu objectivo era demonstrar que a crítica de David Mourão Ferreira era injusta, uma crítica que, segundo um conhecido intelectual caboverdiano, teria provocado uma profunda tristeza ao autor de Ambiente, tendo levado esta tristeza consigo à sepultura.

No colóquio de 1986, um renomado intelectual português pediu-me para não publicar a minha comunicação porque ela poderia beliscar a imagem de David Mourão Ferreira. Disse-lhe que a crítica de Mourão Ferreira não só beliscou como destruiu, em certa medida, a imagem de Jorge Barbosa. E que, por isso, o ensaio seria publicado. A publicação foi concretizada no meu livro A Sementeira, 1994, Edições ALAC. Tinha sido já publicado como introdução ao livro Poesia I, de Jorge Barbosa, editado em 1889, pelo Instituto Caboverdiano do Livro.

Elsa Rodrigues dos Santos, com a sua análise em As Máscaras Poéticas de Jorge Barbosa (tese de mestrado), ajudou-me a compreender melhor a poética do autor de Arquipélago.
Por isso, o meu reconhecimento para com ela é da grandeza do seu trabalho e do seu amor a Cabo Verde.

A morte é uma separação e esta é sempre triste. Mas quando o passamento é de alguém que cumpriu a sua missão, como a Elsa, a luz da sua obra resplandece no firmamento das nossas vidas, amenizando a tristeza da separação.

Obrigado, Elsa, em meu nome, em nome de todos os amantes da poesia de Jorge Barbosa, em nome de Cabo Verde.

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