sexta-feira, 20 de março de 2020

A GRANDE LIÇÃO DO CORONA VÍRUS (COVID 19)




No seu magistério de Humanismo Universal, Amílcar Cabral via a HUMANIDADE como uma família. E o COVID 19 veio provar e proclamar que somos mesmo uma Família. É por isso que na sua digressão pelo mundo todo, ele visita todas as classes sociais, todos os regimes políticos, todas as instâncias do poder, todos os níveis de formação académica e cultural, todas as confissões religiosas, todas as agremiações desportivas, todas as organizações associativas. É caso para dizer que o COVID 19 é mesmo um "democrata".

Claro que nessa sua prática ele castiga a humanidade inteira, porque todos têm alguma culpa no cartório, culpa essa que se manifesta de diversas maneiras: o egoísmo, a violência, a falta de solidariedade, a discriminação, o abuso do poder, a exploração, a negação da inclusão, os crimes contra o ambiente, o racismo, a xenofobia, os muros da vergonha para se livrar dos outros…
Já Amílcar Cabral dizia:

«Somos, em África, a favor de uma política africana que procure defender em primeiro lugar os interesses dos povos africanos, de cada país africano, mas a favor também de uma política que não esqueça em momento algum os interesses do mundo, de toda a humanidade. Somos a favor de uma política de paz em África e de colaboração fraternal com todos os povos do mundo” (Unidade e Luta 1, 2013:197).

Não há dúvidas que o humanismo universal de Cabral, da fase de luta armada, corresponde hoje a tão celebrada globalização de direitos e de deveres a favor da Humanidade, que ainda está longe de corresponder ao desejável. Se cada um, no devido tempo e lugar, colocar a sua pedra e a sua mão no edifício que a todos nós pertence, o mundo seria mais justo, mais humano, mais fraterno e sem discriminação de género, de raça, de religião, de credo político, de cor e de extrato social.

Concluindo diríamos que da pandemia do COVID 19 deveríamos tirar algumas lições, quais sejam:

a    A humanidade, verdadeiramente, deve ser uma família; o investimento na saúde, na educação, na investigação, na inclusão, na solidariedade social, na não violência, no respeito pelo ambiente deve ser uma prioridade.

Aos que fazem do economicismo e do egoísmo um “bem absoluto, intocável e exclusivo” há que lembrar-lhes que, sem a saúde, sem a educação, sem a investigação, sem a solidariedade e sem a inclusão, poderá vir um outro COVID 19 que mata as pessoas, que destrói a economia, que semeia o pânico por todo o lado, sem discriminação, mas também sem piedade.

Saibamos, pois, tirar as devidas lições deste implacável COVID 19.


                                                                Manuel Veiga, 20 Março 2020

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