sábado, 12 de dezembro de 2020

""MUDJER BUNITA TA DA-BU NA TXON:

 

 


Uma alegoria musical, poeticamente concebida

 

Como linguista, desde muito cedo me interessei pela alegoria poética, particularmente a do grande vate, Jorge Barbosa que, para fintar a opressão colonial fascista e a crueldade da Polícia Política – a famigerada PIDE DGS, fez largo uso da alegoria poética que é “a arte de dizer, sem ter dito, ou de não dizer, dizendo”. Para tal, há que construir uma poética em que o significado de superfície o oposto do sentido profundo da mensagem.

Ora, com essa linguagem-máscara, Jorge Barbosa conseguia criticar o regime, sem ser preso, já que este, limitado, intelectualmente, só conseguia descortinar a mensagem de superfície da sua mensagem.

Acontece que ontem, 11 do corrente, no belíssimo programa sobre a “Morna – Património da Humanidade”, da jornalista Margarida Fontes, o música Eutrópio Lima da Cruz falou dessa “arte de dizer, sem ter dito”, presente na belíssima composição “Nha Fidju Matxu, Uví Nha Konsedju…”, magistralmente interpretada por Ildo Lobo, num crioulo que mistura a variedade Norte com a do Sul.

Eis um extrato dessa composição: “Nhá fidju matxu, uví nha konsedju / ka bu abrí bóka pa bo kantá / si bo kantá ô si bo toká / mudjer bunita ta da-bu na txon”.

Na interpretação verosímil do músico Eutrópio Lima, “mudjer bunita” é a PIDE-DGS, no sentido profundo da expressão, ou seja, uma perfeita alegoria.

Obrigado Eutrópio, obrigado Ildo Lobo por nos terem demonstrado que o nosso povo, para além da ousadia de fintar a estiagem e de driblar a falta de recursos naturais, em Cabo Verde, soube também driblar e fintar a opressão colonial fascista e é por isso que hoje celebramos a Independência.

 

Manuel Veiga, Facebook de 12/12/2020





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