sábado, 10 de março de 2012

ALOCUÇÃO  AQUANDO  DA CONDECORAÇÃO, NO ÂMBITO DA INSCRIÇÃO DA CIDADE VELHA A PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE DO ACTUAL MINISTRO DA CULTURA, DOS EX-MINISTROS DAVID H. ALMADA E  ANTÓNIO JORGE DELGADO, DO PRESIDENTE DO IIPC E DO COORDENADOR CIENTÍFICO DO DOSSIER DE CANDIDATURA CHARLES ARKIBODÉ, POR SE O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, A 5 DE JULHO DE 2009


Senhor Presidente da República, Excelência,
Senhores Galardoados,
Senhoras e Senhores Convidados,
Minhas Senhoras e Meus Senhores!


Cabe-me, em nome dos galardoados, fazer uso da palavra para agradecer e louvar o gesto de Vossa Excelência, Senhor Presidente da Republica, que, como Alto Magistrado da Nação, quis distinguir o contributo que, de forma pessoal, colectiva e institucional, demos ao projecto grandioso de preservação e valorização da Cidade Velha, berço da nossa caboverdianidade e laboratório primeiro da nossa crioulidade.

Assim, os meus companheiros e eu próprio, gostaríamos, em primeiro lugar, de felicitar o Povo de Cabo Verde pela gesta gloriosa, pela epopeia maravilhosa que, não obstante as agruras dos tempos de triste memória, soube construir uma pátria livre, com um nome de baptismo inconfundível, com uma língua, uma história e uma cultura que nos singularizam, nos identificam, nos dão o orgulho do legado deixado, da epopeia realizada e do desafio lançado.

Merece também o nosso respeito e a nossa admiração a laboriosa população da Cidade Velha, guardiã desse sítio histórico onde se encontra impregnado, na memória  do tempo e na tessitura das pedras carcomidas, o DNA inicial dos primórdios da nossa caboverdianidade.

Os obreiros do trabalho que conduziu ao reconhecimento do estatuto ora outorgado pela comunidade internacional, são vários. Desde logo, o próprio Presidente da República que, com a sua magistratura cultural, exercida ao longo de dois mandatos, conseguiu imprimir, no tecido da Nação, o respeito pela nossa história e o orgulho pela nossa caboverdianidade. Com essa mesma magistratura, defendeu no território pátrio e nos palcos da globalização, incluindo a UNESCO, o valor patrimonial excepcional da Cidade Velha e a dimensão universal desse mesmo património.

Os sucessivos governos, mas particularmente o da presente legislatura, investiram no património humano, material e imaterial da Cidade Velha, e também de Cabo Verde.

Tanto a Comissão Instaladora do Município da Ribeira Grande de Santiago, como também a actual edilidade, colocaram a sua pedra no processo que culminou com a inscrição da Cidade Velha na Lista de Património Mundial.

Também os técnicos nacionais e estrangeiros, de diversas valências, particularmente os do IIPC, ou então os de instituições já extintas, como a Direcção Geral da Cultura, a Direcção Geral do Património Cultural e o Instituto Nacional da Cultura deixaram também a sua impressão digital no processo conducente ao estatuto ora conquistado.

Uma palavra especial de reconhecimento deve ser dirigida à Comissão de Candidatura da Cidade Velha a Património da Humanidade, pelo trabalho técnico de qualidade e pela luta renhida no sentido de levar a comunidade internacional a ter a real percepção do valor histórico e do significado transcivilizacional da Cidade Velha.

De igual modo, a diplomacia caboverdiana, particularmente o trabalho do actual Representante de Cabo Verde junto da UNESCO, deve ser louvado e destacado.

A comunicação social nacional e internacional também desempenharam um papel fundamental na construção da percepção do valor nacional e universal da Cidade Velha.

A sinergia de todos, que conduziu ao resultado alcançado, seria inexpressiva sem a parceria da  Espanha e de Portugal. Para esses dois países, o nosso melhor reconhecimento, em nome de Cabo Verde, em nome da Cidade Velha, em nome da universalidade que ora Património Mundial representa.

Como disse algures, na Cidade Velha, as ruínas dos monumentos estão lá para provarem a história secular desse sítio de memória; os documentos históricos estão lá para provarem que a Cidade Velha foi o centro de Atlântico Norte nos séculos XV e XVI; os factos estão lá para confirmarem que ele serviu de laboratório antropológico, zoológico, botânico e ainda de placa giratória e de ponte que ligou quatro continentes: África, Europa, América e Ásia.

Finalmente, o que sem dúvida teve peso decisivo no reconhecimento do estatuto ora outorgado é o facto da Cidade Velha ter sido um espaço de experiências laboratoriais onde foi formada e formatada uma nova antropologia: a nossa crioulidade; uma cultura incorporada pela língua, pela música, pelos hábitos, costume e tradições; pela filosofia e pelo imaginário caboverdiano; pela morabéza e tolerância que nos caracterizam, em fim, por tudo o que constitui a nossa singularidade histórica, antropológica e ambiental, singularidade essa que não existia antes do século XV. Tudo isto, para dizer que não há dúvida de que a Cidade Velha acrescentou mais valia ao património da humanidade e daí que o estatuto outorgado não seja uma dádiva, mas sim um merecimento e um justo reconhecimento.

Não foi fácil levar o mundo a ter a percepção daquilo que o? que para nós era uma evidência.

O processo começou desde os anos 80 do século passado e, incansavelmente, o País e as instituições ligadas ao património cultural foram, de maneira determinante, fazendo a caminhada que culminou em Sevilha, no passado dia 26 de Junho, com a declaração da UNESCO que reconheceu à Cidade Velha o estatuto de Património da Humanidade.

Em Cabo Verde, a notícia foi recebida com muito orgulho e com uma explosão de contentamento espelhados nas declarações dos altos dirigentes do país, no rosto dos caboverdianos, do território e da diáspora, mas sobretudo na manifestação espontânea da população da Cidade Velha que, à volta do monumento Pelourinho, símbolo da justiça e do sofrimento, dançou, cantou e celebrou, numa euforia de alegria e de auto-estima que se podem comparar, na justa medida e proporção, ao sentimento patriótico vivido e experimentado aquando do acontecimento maior do povo das ilhas que foi a proclamação da Independência Nacional.

Por tudo isto, julgamos que a declaração da Cidade Velha como Património da Humanidade reclama a edificação de um Memorial no Local para testemunhar, para a posteridade, o alto significado do acontecimento e o grande valor que a Nação inteira atribui ao estatuto outorgado.

Está é uma proposta que deve ser encarada no âmbito do plano de Gestão da Cidade Velha. Sabemos que a UNESCO exige que esse plano abarque a preservação e a valorização do património histórico material e imaterial; a melhoria da qualidade de vida das populações; o equilíbrio arquitectónico, ambiental e turístico; a construção de largos consensos entre o poder central, o local, as populações, os moradores e investidores da Cidade Velha, no que toca ao respeito pelas normas e procedimentos da salvaguarda e valorização de um Património mundial.
Sendo Cidade Velha um Património nacional e mundial, torna-se um imperativo da Nação, diríamos mesmo, um desígnio nacional, a sua salvaguarda, valorização e requalificação.
Essa ingente tarefa constitui dever patriótico de todos os poderes políticos, governamentais e municipais, de todas as instituições culturais e sociais, de todos e de cada caboverdiano.

E se esse djunta-mô da Nação acontecer, e se a parceria da cooperação internacional não se desfalecer, o estatuto ora conquistado, mais do que duradoiro, será eterno.

Nós, os galardoados, prometemos continuar a dar o nosso melhor, a bem da história e da cultura caboverdiana, em geral, e da Cidade Velha, em particular.

Senhor Presidente da República,

Aqui fica o nosso compromisso, mas também o nosso profundo reconhecimento pela distinção que V.EXª. entendeu atribuir-nos num momento tão exaltante e tão edificante da história do nosso povo.

Que nos seja permitido, uma vez mais, felicitar a Cidade Velha e todos os obreiros da sua distinção, parabenizar Cabo Verde e agradecer a V.EXª. pelo gesto, mas também pelo papel desempenhado em prol da cultura caboverdiana, da Cidade Velha e de Cabo Verde.

Muito obrigado

                                                                       Manuel Veiga
                                                                  Ministro da Cultura

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