sábado, 10 de março de 2012


INTERVENÇÃO  POR OCASIÃO DO ENCERRAMENTO DO CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE MANUEL LOPES NO PORTO NOVO




As minhas primeiras palavras são de agradecimento e reconhecimento. Agradeço, em primeiro lugar, as gentes e a ilha de Santo Antão, particularmente o Município do Porto Novo, chão que motivou e constituiu o enredo da extraordinária criação romanesca de Manuel Lopes.

A revista Claridade seria menos rica sem o decisivo contributo das terras e das rochas de Lajedos, sem o ideário de «fincar os pés no chão» de Chuva Braba ou as lutas titânicas face às adversidades do ambiente de Os Flagelados do Vento Leste.

Há que reconhecer na gesta dos santantoneses a heroicidade do povo de Cabo Verde. Obrigado Santo Antão pelo exemplo de luta, de resistência e de conquistas no processo da nossa história, umas vezes dramática, outras vezes empolgante; umas vezes com o amor de mãe, outras vezes com os caprichos da madrasta; umas vezes acalentando o sonho da «terra longe» e outras vezes com a determinação de «fincar os pés no chão».

O meu agradecimento é extensivo aos organizadores do evento, aos conferencistas, às autoridades municipais, por terem, em estreita colaboração, proporcionado à Ilha das Montanhas este extraordinário momento de reflexão  e de partilha sobre a obra de Manuel Lopes.

Reflectir sobre a criação literária do autor de Chuva Braba é a melhor forma que se podia escolher para celebrar o centenário de nascimento de Manuel Lopes,  esse grande vulto das letras  e da cultura caboverdianas.
E Santo Antão é uma ilha privilegiada por  o destino ter feito dela o chão e o laboratório que fecundaram e alimentaram o desígnio cultural, histórico e literário da revista Claridade.

Sem Lajedos ou Ribeirãozinho; sem Mané Quim ou nho Joquinha; sem as grutas do Leandro ou as lutas de José da Cruz, a gesta da caboverdianidade seria menos heróica, a Claridade e a literatura caboverdiana seriam menos ricas.  

Graças a Manuel Lopes e a todos os outros elementos da jornada Claridosa a gesta heróica do nosso povo ficou indelevelmente impregnada no mapa da nossa história e no ADN da caboverdianidade.

É portanto de justiça que a ilha de Santo Antão, em particular, e o Arquipélago de Cabo Verde no seu todo rendam uma profunda e merecida homenagem a Manuel Lopes, por ocasião do centenário do seu nascimento.

No Simpósio realizado no passado mês de Abril, na Praia, sobre o Centenário de Nascimento da Geração do Movimento Claridoso, foi feita, na Declaração do Simpósio, uma proposta visando a criação da «Fundação Claridade».

Creio que Porto Novo deveria reclamar uma antena dessa Fundação para funcionar na casa onde viveram Manuel Lopes e Baltasar Lopes, em Lajedos.

O Ministério da Cultura estará na disposição de negociar com os herdeiros e com a Câmara local no sentido de se proceder à recuperação dessas duas «casas-memórias» para perpetuar a memória de Manuel Lopes e de Baltasar Lopes.

No Porto Novo vai cair o pano das celebrações centenárias da Geração do Movimento Claridoso. Essas celebrações tiveram eco em toda a Nação Global, particularmente em S. Nicolau, em Santiago, S. Vicente, Fogo e Brava. A chama da Geração Claridosa Centenária chegou a brilhar ainda no além-fronteira,  em Fortaleza, em Coimbra, na Itália e nos Açores.

No momento de proceder ao encerramento de todas as celebrações, aqui no Porto Novo, devo reconhecer o quanto me sinto reconfortado pela homenagem prestada, pelo nível dos debates, pela variedade do programa, pela representatividade dos participantes nacionais e estrangeiros, pelo ideário das comemorações lapidadas no lema «Nação Unida num Claro Porvir».

Obrigado Geração Claridosa Centenária, obrigado Manuel pela lavra cultural e identitária emergente da vossa oficina poética e romanesca, no chão das ilhas, mas também nas ribeiras e cutelos de Santo Antão a Brava.

Julgo que Lajedos ficará no mapa do Arquipélago como um santuário da nossa história sofrida mas heróica; e a figura de Mané Quim deverá ser corporizada em Monumento Nacional, com a grandeza e a força do chão e das rochas dessas ilhas no meio do mar que sabem semear a dignidade para colher a liberdade, a caboverdianidade e a qualidade de vida para todos, em tempos de estiagem e de carestia, mas também nos anos de chuva e de boas «azáguas».

A Manuel Lopes, um dos grandes escultores da alma crioula, através do imortal Mané Quim, o nosso eterno reconhecimento. Se o poeta não morre porque é um criador, então Manuel Lopes está vivo nas terras do Ribeirãozinho, vivo nas rochas da Ilha das Montanhas, vivo nas personagens que criou, vivo sobretudo na resistência e na determinação de Mané Quim.

E se os caboverdianos, o sistema de ensino e as estruturas da cultura conseguirem ver no Mané Quim o herói de uma epopeia em que todos nós fomos ou somos sujeitos, compreenderemos então, e só então, a grandeza dos homens de Claridade e a razão por que já entraram, para nunca mais sair, na galeria da nossa história e da nossa memória.

Termino rendendo, em nome do Governo, mas sobretudo como cidadão, a minha profunda homenagem a toda a Geração Centenária do Movimento Claridoso.

Gostaria de vos deixar a todos no embalo e na meditação do pertinente lema das comemorações centenárias do Movimento Claridoso e que vê e antevê Cabo Verde como «Nação Unida num Claro Porvir».

A todos muito obrigado

                                                       Porto Novo, 15 de Dezembro de 2007

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