sexta-feira, 8 de maio de 2015

"Ignorância Especializada"

Alguém disse que a nossa língua materna é demasiadamente importante para ficar confinada à "cidade dos doutores" ou então dependente da "ignorância especializada". Só que a atitude desse ilustre doutor, que se acha no direito de dar lições em todas as matérias do saber, mesmo nas que desconhece, em relação à valorização da nossa língua materna - um dos maiores tesouros que enformam e particularizam o nosso ser e estar no mundo -, é mesmo reveladora de uma "ignorância especializada". É confrangedor constatar que, em matéria da nossa língua materna, há muitos "doutores"que precisam, urgentemente, de serem alfabetizados. Os 40 anos da nossa independência não foram suficientes para ensinar a ler e a escrever, a esses doutores, na língua da nossa identidade primeira. Temos que reconhecer o falhanço havido. Porém, há que ter esperança. Um dia, o sol nascerá, no cimo da montanha, para iluminar as achadas e ribeiras da nossa Terra, mas também"a cidade dos doutores" e debelar a "ignorância especializada". Enquanto isto não acontecer, a nossa Independência não será completa.

terça-feira, 5 de maio de 2015

O Dia da CPLP na Sorbonne

O Dia da Língua Portuguesa na Sorbonne Hoje, dia 5 de Maio, a convite da CPLP local e da Prof. Doutora Isabelle de Oliveira, pude apresentar, na Sorbonne, uma comunicação sobre “Os Desafios da Construção de uma Identidade Comunitária na CPLP”. Discorri sobre seis desafios. Porém, neste espaço, vou dar conta apenas de alguns aspectos do desafio mais complexo que é o da Cidadania e de Mobilidade Social: “Na minha perspectiva, este é, talvez, o desafio mais complexo da CPLP, se quisermos que ela seja, efectivamente, a expressão de uma comunidade identitária. Como falar de uma comunidade identitária se ainda não podemos ser cidadãos plenos dessa mesma comunidade? Como falar de comunidade identitária se precisamos de vistos para podermos circular no espaço que dizemos ser comunitário? Como falar de uma comunidade identitária se cidadãos de espaços geográficos diferentes na CPLP não podem usufruir das mesmas regalias sociais dos cidadãos nativos em cada um dos países da Comunidade? Há que ser coerente e consequente: não podendo haver, por alguma razão, cidadania efectiva, então, há que repensar a identidade da comunidade. Não é salutar ter uma instituição que preconiza construir uma identidade comunitária apenas com declarações de intenção. Ou somos cidadãos da e na CPLP, com todas as consequências que daí advêm, ou, então devemos deixar cair o espírito de identidade comunitária na CPLP. Não é salutar continuarmos a enganar-nos a nós próprios e ao mundo. Quem é académico, como eu, sem compromissos diplomáticos, políticos ou de estratégia política, tem a liberdade de ver e dizer as coisas como elas são. Os que criaram a CPLP têm que criar, também, as condições para a Comunidade funcionar ou então há que rever a identidade da mesma e o espírito que presidiu à sua criação”.