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ARISTIDES PEREIRA: Uma Referência Moral Exemplar
Um Exercício de Autoridade Eficaz, Temperado pelo Respeito pelos Outros, pela Procura do Bem-Comum e pelo Desprendimento Pessoal
Pela segunda vez, estou a deliciar-me com a obra: Aristide Pereira – Nossa História, Minha Vida, uma coletânea de entrevistas conduzidas pelo jornalista José Vicente Lopes, dada a estampa pela Spleen Edições, em 2012.
Vale a pena ler este livro. Nele encontramos pedaços importantes da história da Luta de Libertação Nacional conduzida pelo PAIGC/CV e, ainda, da reconstrução do País, nos primeiros 15 anos de Independência.
Pode-se não estar de acordo com tudo o que ele disse, mas a forma desprendida, autorizada e honesta como relata os factos não deixa indiferente quem o lê.
Nunca privei com Aristides Pereira e devo dizer, publicamente, pela primeira vez, que, em 1991, quando ele concorreu ao 4º mandato não votei nele, mas sim no seu adversário, que não era da minha cor política, pela simples razão que o seu ciclo de poder presidencial, na minha perspetiva, tinha chegado ao fim e que deveria deixar o lugar ao um outro candidato. Por outro lado, Mascarenhas Monteiro, também ele uma referência moral para mim, tinha o perfil adequado para o exercício do cargo. E, como patriota que sou, o meu sentido de voto não podia ser diferente.
Lendo o livro em pauta, fico a saber que já desde 1985, no termo do segundo mandato, já o Aristides Pereira queria deixar o lugar, e que só continuou devido à pressão dos seus pares, e à necessidade de manter coeso o poder do Estado e o do Partido de que era um dos fundadores. Na altura, não era consensual quem o poderia substituir e, em sendo substituído por Pedro Pires, punha-se o problema de quem deveria ser o Primeiro-Ministro. Havia mais do que um concorrente, todos com legitimidade política para a Primatura. A solução, a contragosto de Aristides Pereira, foi a sua continuação, no lugar, como Presidente e Pedro Pires como Primeiro-Ministro.
Da leitura do livro, fiquei convencido de que, depois de Amílcar Cabral, o Aristides foi o combatente e político mais consensual durante a Luta Armada e nos primeiros 15 anos de governação. Por consenso sucedeu a Amílcar Cabral, por consenso esteve 15 aos como Presidente da República de Cabo Verde. Mesmo a ala guineense reconhecia nele isenção e autoridade. Devo acrescentar que em 1991 o MpD exigiu a realização das Legislativas antes das Presidenciais porque conhecia o prestígio e a aceitação popular de que o Aristides gozava, e a vitória nas Presidenciais poderia condicionar o resultado das Legislativas.
Devo acrescentar que Aristides Pereira (juntamente com Pedro Pires, João Pereira Silv...) só não colheu os loiros da abertura ao multipartidarismo e à abertura económica, estranhamente, nas palavras do próprio Aristides, por causa da ala mais jovem do Partido. Entretanto temos que convir que o 19 de Fevereio e o 13 de Janeiro de 1991 tiveram o sucesso que tiveram devido a almofada do III Congresso do PAICV (em 1988) onde a tese da "sociedade civil", apesar de não ter passado, propiciou um ambiente de abertura política e económica que viriam a culminar em 1991, diretamente com a constestação do MpD e, indiretamente, devido às mentes mais visionárias de elementos preponderantes do PAICV.
Mais: Estou convenciddo de que sem o papel moderador de Aristides Pereira e também de Pedro Pires, na fase de Reconstrução Nacional, dificilmente estariamos, hoje, a festejar o Estado de Direito Democrático, o 13 de Janeiro de 1991 não seria o que foi, CaboVerde, dificilmente, estaria no estado de desenvolvimento em que hoje se encontra.
Sem nunca ter privado com ele, sempre reconheci, também, nele estatura e perfil para ser o meu Presidente. Se em 1991 não votei nele é porque achei que o seu ciclo tinha chegado ao fim. Aliás, lendo o livro em pauta, fica-se a saber que ele próprio achava que esse ciclo tinha chegado ao fim.
Cabo Verde deve sentir-se orgulhoso dos seus grandes HOMENS e Aristides Pereira é um de entre eles.
Saibamos, pois valorizar a nossa história. Assumamos o nosso passado com realismo e honestidade. Nós que fomos também sujeitos dessa história, deixemos a infantilidade de assumir apenas o lado positivo, como uns anjinhos, e recambiar para os colegas de jornada, visto como uns diabinhos, tudo o que hoje, com o novo sentir do tempo, condenamos. Infelizmente, isto tem acontecido e é um mau serviço que prestamos à juventude e a Cabo Verde. Um cidadão íntegro assume a sua história, regozija-se pelos bons momentos, e regista, com humildade, o que de menos bom enforma o seu passado.
Ao jornalista Vicente Lopes, obrigado por este grande contributo que deu à história recente de Cabo Verde.
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Mariadosanjos Sanchez Moreira, Iva Cabral e 13 outras pessoas
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  • Boa tio, undi qui podi encontra livro!
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  • Trata-se de uma obra fundamental e de grande pertinência histórica, social, política e cultural. Durante a elaboração da minha Tese de Doutoramento tive o ensejo de a ler e de a citar em diversas passagens da Tese! A forma clara e desapaixonada como ex… 
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  • Manuel
     Veiga bom dia...lhe enviei uma mensagem in Box...por favor, dê uma olhadinha.. obrigada.. saudações do Brasil
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