DERROTA SOFRIDA, ATITUDE RESILIENTE
Não há dúvida que o MpD
ganhou as eleições e é compreensível a alegria reinante no seio da tropa
ventoinha. Porém, trata-se de uma vitória agridoce, tendo em conta a complexa e
preocupante situação económica,
sanitária e social prevalecente no País.
Ora, passada a euforia dos primeiros instantes, há que
começar com o mais difícil da festa: a concretização dos vários compromissos.
Não será fácil acabar com a pobreza extrema; não será fácil diminuir
drasticamente o desemprego; não será fácil transformar a Brava numa Zona
Económica Especial; não será fácil a concretização de projetos como o de um hospital
de referência na Capital; o do Terminal
de Cruzeiros em S. Vicente e do Aeroporto Internacional de Santo Antão; do
mesmo modo, a solução do problema de transportes aéreos e marítimos continuará
a ser um bico de obra.
Seguramente, o Governo vai ter que perder muitas horas
de sono. Impossível não é, mas serão necessários o engenho e a arte para não
defraudar o eleitorado. Há que ter em conta que a jornada de campanha para
curtir não poderá ser a jornada de governação para incumprir. O eleitorado vai
cobrar o sentido do seu voto e alguém terá que pagar.
Por outro lado, a derrota sofrida do PAICV foi algo
inquietante, tendo em conta o nível e a qualidade de campanha feita e a
expetativa criada. Porém, não se ganha uma luta quando parte da tropa se mostra
desgarrada e dividida, confundindo, às vezes, a árvore com a floresta; quando
manchas de misoginia teimam em toldar o céu das ilhas; quando o poder económico
do adversário é capaz de determinar o sentido do voto, face à pobreza extrema
de grande parte do eleitorado.
Não é fácil ganhar uma luta quando, em vésperas das
eleições, alguns parceiros e amigos, nacionais e estrangeiros, resolvem dar uma mãozinha ao Partido da sua
preferência.
Não é fácil ganhar eleições numa terra onde a mancha
de pobreza é expressiva e a dependência laboral, em relação aos poderes
públicos, é grande.
Para que a democracia seja reforçada numa terra pobre
como a nossa, devia-se definir como crime o uso de dinheiro e de qualquer outro
aliciamento financeiro e material. Seria crime tanto para quem distribui, como
para quem recebe. Devia-se montar uma fiscalização independente e apartidária
para uma efetiva fiscalização.
Vimos que o MpD ganhou no território nacional e o
PAICV na diáspora. Só um ingénuo não compreenderá o porquê.
Oxalá que nas próximas eleições o PAICV saiba tirar as
lições da força da UNIDADE E LUTA, que deixe, também, de confundir a árvore com a floresta. Quanto ao MpD, que aposte mais na bondade do seu
programa do que na força dos recursos materiais. Quanto à nossa sociedade, é
bom que continue a caminhar na senda de uma democracia cada vez mais autêntica
e que a igualdade do género passe a ser tão natural como o ar que respiramos.
Até lá, desejo boa sorte a uns e outros,
particularmente aos partidos pequenos que trouxeram outro colorido e outra
vivacidade à nossa democracia.
Para terminar, eu também defendo que, em países com
alto grau de pobreza, como o nosso, para além de ser proibido o uso de aliciantes
materiais nas campanhas, dever-se-ia estabelecer a obrigatoriedade do voto.
Manuel Veiga, Abril 2021
Sem comentários:
Enviar um comentário