segunda-feira, 26 de abril de 2021

VITÓRIA SUADA, COMPLEXA, AGRIDOCE

 

DERROTA SOFRIDA, ATITUDE RESILIENTE

 

Não há dúvida que o MpD ganhou as eleições e é compreensível a alegria reinante no seio da tropa ventoinha. Porém, trata-se de uma vitória agridoce, tendo em conta a complexa e preocupante  situação económica, sanitária e social prevalecente no País.

Ora, passada a euforia dos primeiros instantes, há que começar com o mais difícil da festa: a concretização dos vários compromissos. Não será fácil acabar com a pobreza extrema; não será fácil diminuir drasticamente o desemprego; não será fácil transformar a Brava numa Zona Económica Especial; não será fácil a concretização de projetos como o de um hospital de referência na Capital; o do  Terminal de Cruzeiros em S. Vicente e do Aeroporto Internacional de Santo Antão; do mesmo modo, a solução do problema de transportes aéreos e marítimos continuará a ser um bico de obra.

Seguramente, o Governo vai ter que perder muitas horas de sono. Impossível não é, mas serão necessários o engenho e a arte para não defraudar o eleitorado. Há que ter em conta que a jornada de campanha para curtir não poderá ser a jornada de governação para incumprir. O eleitorado vai cobrar o sentido do seu voto e alguém terá que pagar.

Por outro lado, a derrota sofrida do PAICV foi algo inquietante, tendo em conta o nível e a qualidade de campanha feita e a expetativa criada. Porém, não se ganha uma luta quando parte da tropa se mostra desgarrada e dividida, confundindo, às vezes, a árvore com a floresta; quando manchas de misoginia teimam em toldar o céu das ilhas; quando o poder económico do adversário é capaz de determinar o sentido do voto, face à pobreza extrema de grande parte do eleitorado.

Não é fácil ganhar uma luta quando, em vésperas das eleições, alguns parceiros e amigos, nacionais e estrangeiros,  resolvem dar uma mãozinha ao Partido da sua preferência.

Não é fácil ganhar eleições numa terra onde a mancha de pobreza é expressiva e a dependência laboral, em relação aos poderes públicos, é grande.

Para que a democracia seja reforçada numa terra pobre como a nossa, devia-se definir como crime o uso de dinheiro e de qualquer outro aliciamento financeiro e material. Seria crime tanto para quem distribui, como para quem recebe. Devia-se montar uma fiscalização independente e apartidária para uma efetiva fiscalização.

Vimos que o MpD ganhou no território nacional e o PAICV na diáspora. Só um ingénuo não compreenderá o porquê.

Oxalá que nas próximas eleições o PAICV saiba tirar as lições da força da UNIDADE E LUTA, que deixe, também, de confundir a  árvore com a floresta. Quanto ao  MpD, que aposte mais na bondade do seu programa do que na força dos recursos materiais. Quanto à nossa sociedade, é bom que continue a caminhar na senda de uma democracia cada vez mais autêntica e que a igualdade do género passe a ser tão natural como o ar que respiramos.

Até lá, desejo boa sorte a uns e outros, particularmente aos partidos pequenos que trouxeram outro colorido e outra vivacidade à nossa democracia.

Para terminar, eu também defendo que, em países com alto grau de pobreza, como o nosso, para além de ser proibido o uso de aliciantes materiais nas campanhas, dever-se-ia estabelecer a obrigatoriedade do voto.

 

Manuel Veiga, Abril 2021

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