sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

CARLOS REIS - Uma Vida a Semear Conhecimento para Colher Desenvolvimento


As minhas primeiras palavras são para saudar o distinto doutorando Carlos Reis cuja sementeira de conhecimento para o desenvolvimento ofereceu à Uni-CV o feliz ensejo de o distinguir com o mais alto grau honoríficoatribuído pela Instituição: o de Doutor Honoris Causa.

Saúdo e felicito a Uni-CV – a Magnífica Reitora, Prof. Doutora Judite de Nascimento, a Direção da Uni-CV, o coletivo de Doutores, de professores, de estudantes e de todos os trabalhadores, pela abertura em acolher, no seu seio, um semeador de conhecimento para o desenvolvimento, com o perfil e a dimensão de Carlos Reis.

Saúdo, ainda, os distintos convidados, o Governo, as instituições académicas, os/as Combatentes da Liberdade da Pátria, a Comunicação Social e todos quantos se dignaram, com a sua presença prestigiar o ato.

Na qualidade de padrinho do homenageado, a minha intervenção vai cingir-se aos seguintes pontos:

a)   Alguns aspetos relevantes do CV do homenageado;

b)   Resumo de alguns aspetos académicos que habilitam o homenageado a receber a distinção da Uni-CV;

c)   Apresentação de outros elementos que reforçam os estritamente académicos;

d)   O testemunho dos outros, em crédito do homenageado;

e)   Palavras finais.
 

1.   Aspetos  Relevantes  do  CV  do Homenageado

É natural de S. Vicente, onde nasceu a 31/08/1946. É casado, encontrando-se atualmente na situação de Reformado como Comandante das Forças Armadas de Cabo Verde. 

1.1                 -Formação Académica:

·      Estudos secundários realizados no Liceu Gil Eanes e estudos universitários no Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina (Universidade Técnica de Lisboa), entre 1964 e 1969.

·      Concluiu o curso de Administração Ultramarina em 1967, frequentou e participou em cursos ligados às questões de segurança e defesa, estabilidade institucional e gestão de conflitos nos Institutos de Defesa Nacional de Portugal, França e Estados Unidos da América.

·      Foi cofundador e membro de uma rede oeste-africana para assuntos de segurança e defesa a «WANSED» (West African Network for Security and Defense), criada em 2005, no quadro da qual recebeu e desenvolveu várias ações de formação. 
 

1.2                 - Atividade Socioprofissional 

·      Ainda estudante do curso de Administração Ultramarina foi auxiliar de investigação no Centro de Estudos Missionários dirigido pelo Professor Padre Silva Rego, organismo de investigação da História Colonial (1966 e 1967).

·      Trabalhou com o investigador António Carreira, no quadro do Centro de Antropologia Cultural dirigido pelo antropólogo Professor Jorge Dias (1968).

·      Foi Professor do Ensino Secundário no Externato – Liceu Ribeira Grande, Santo Antão (1968/1969);

·      Foi Professor na Escola Piloto do PAIGC, Conakry (1970).

·      Foi quadro da Marinha do PAIGC (novembro de 1970 a março de 1974), no âmbito da qual, deu e recebeu aulas e teve responsabilidades.

·      Desenvolveu ações de sensibilização e de mobilização para a causa da Independência Nacional junto das comunidades cabo-verdianas no exterior, e de articulação entre a Direção do movimento de libertação nacional no exterior e a organização em Portugal e em Cabo Verde.

·      Foi Membro do Governo de Transição para a Independência de Cabo Verde (janeiro a julho de 1975).

·      Foi Ministro da Educação, Cultura, Juventude e Desportos do primeiro Governo da I República (Julho de 1975 a 1977) e Ministro da Educação e Cultura) de 1977 a Fevereiro de 1981).

·      Foi Ministro-adjunto do Primeiro-ministro, residente no Mindelo (1982/1984).

·      Foi Embaixador de Cabo Verde residente em Portugal, credenciado em Espanha, França, Itália e Marrocos (1984/1989).

 

1.3                 - É autor dos seguintes trabalhos:  

·      «A Educação em Cabo Verde: um outro olhar» (Editora Pedro Cardoso – 2019).

·      «A luta de libertação nacional: contribuições e impasses», comunicação apresentada na Presidência da República, por ocasião da Semana da República, 13-18 de janeiro de 2019.

·       «A importância do registo da memória institucional», prefácio do livro de Maria Adriana Sousa Carvalho «O ensino superior em Cabo Verde», editado pela Uni-CV em 2019.

·      «Amílcar Cabral, Estratega» e «Amílcar Cabral, Diplomata»: textos elaborados no quadro de um contributo para preparação de um «dossier» para a candidatura de alguns escritos de Amílcar Cabral, a serem apresentados à UNESCO, pelo Governo … com o objetivo da sua inclusão na Lista do Património “Memória-Mundo” da UNESCO.

·      «Cultura pela Escola», comunicação apresentada na Conferência Nacional «Diálogos pela Cultura», organizada pelo Ministério da Cultura, em outubro de 2015.

·      «Cabo Verde na encruzilhada do Atlântico e do Sahel – ameaças, desafios estratégicos e alianças (possíveis). Comunicação apresentada no III Seminário do Curso de Liderança e Inovação na Gestão do Desenvolvimento, no âmbito das atividades do Instituto Pedro Pires (18.02.14).

·      «Desafios à investigação no âmbito da vida e da obra de Amílcar Cabral: pistas para uma maior apropriação caboverdiana do revolucionário africano», publicado no nº 3 de «Desafios», revista da Cátedra Amílcar Cabral (2014).

·      «Paulo Freire e Amílcar Cabral: libertação nacional, cultura e participação popular», comunicação apresentada no fórum de homenagem a Paulo Freire, organizado na Praia pelo Instituto Paulo Freire, do Brasil, e a Direção Geral de Educação de Adultos, em setembro de 2010.

·      «Consciência nacional e Construção da Nação em Cabo Verde», comunicação apresentada na 1ª edição do ciclo de Conferências «Descobrir, conhecer e debater Cabo Verde», organizado pelo Departamento de Ciências Sociais e Humanas da Uni-CV, em abril de 2009.  

·      «Desenvolvimento Humano: o papel das Fundações», apresentado no 3º Encontro das Fundações Lusófonas realizado na Praia, em 2006.

·      «Cidadania», in Cultura, Educação e Cidadania, Mesa Redonda organizada pelo Ministério da Cultura em 2005.

·      «Cabral e a Dignidade Humana», in «Atualidade do pensamento de Amílcar Cabral», Edição do Grupo Parlamentar do PAICV, janeiro de 2003.
 

2.   Elementos que Justificam a Distinção a ser Outorgada

 
2.1- Aspetos Académicos

Um dos aspetos mais decisivos que habilitam o homenageado a receber a distinção de Doutor Honoris Causa consubstancia-se na sua atitude e práxis visionárias de, na qualidade de Ministro da Educação, Cultura Juventude e Desportos, promover e dinamizar o projeto de semear conhecimento para poder colher o desenvolvimento.

Na manhã da Independência, ocorrida em Julho de 1975, Cabo Verde se encontrava despido dos tradicionais recursos materiais de desenvolvimento, tais como o petróleo, o ouro, o diamante, o ouro ou o gás natural. A própria chuva era um fenómeno caprichoso que só de raro em raro bafejava as ilhas, mesmo assim em quantidades insuficientes.

Urgia transformar o país político e culturalmente independente num país social e economicamente viável.

É aqui que entra em campo a política visionária do Governo da República, estando Carlos Reis ao leme do Ministério responsável pelas áreas da Educação, Cultura, Juventude e Desportos.

Parafraseando um político francês que dizia que no seu país «… on n’a pas pas de petrol, mais on a des idées», o então Ministro da Educação, em consonância com a política do Governo a que pertencia, decidiu apostar seriamente nos recursos humanos, a maior riqueza do país. Para tal, era fundamental ter instituições credíveis de educação, programas e equipamentos adequados, professores e formadores bem preparados, alunos e estudantes motivados e engajados.

A Educação ocupava assim uma das prioridades maiores de desenvolvimento, na medida em que através dela se poderia semear o conhecimento para, depois, colher o desenvolvimento. Foram criados liceus, escolas primárias (algumas em salas alugadas), escolas de formação e de aperfeiçoamento pedagógico. Foram também planeadas, negociadas e atribuídas várias bolsas de estudo, no país e no estrangeiro.

Das instituições de educação criadas no tempo do Ministro Carlos Reis destaca-se o Curso de Formação de Professores do Ensino Secundário que, neste Dezembro de 2019, celebra o seu 40º aniversário. Para a Uni-CV esta é uma instituição-legado, na medida em que é nela que se encontra o ponto de partida para o grande projeto que viria a ser, hoje, a Universidade Pública de Cabo Verde. É que, de Curso de Formação de Professores do Ensino Secundário, em 1979, evoluiu para Instituto Superior de Educação, em 1995, e, mais tarde, em 2006, consagrou-se em Uni-CV. Todo esse processo foi possível graças à política visionária do Governo da 1ª República, estando Carlos Reis ao leme da instituição cabouqueira.

Note-se que a política visionária de se apostar nos recursos humanos trouxe dividendos positivos para a Uni-CV, para as instituições de ensino primário, secundário e superior, para as outras instituições académicas públicas e privadas, para todos os setores de desenvolvimento do país, sendo certo que a alma do desenvolvimento é a educação.

Aliás, é por isso que Cabral dizia:

“Toda a educação … tem por fim: permitir aos homens e às mulheres a realização de uma vida útil e feliz, de harmonia com a evolução do seu meio, desenvolver os melhores elementos da sua tradição e facilitar-lhes o acesso a um nível económico e social superior que os coloque em estado de desempenhar cabalmente a sua função no mundo moderno e viver pacificamente (…). Hoje a educação visa o objectivo da realização plena do Homem, sem distinção de raças ou de origem, como ser consciente e inteligente, útil e progressivo, integrado no mundo e no seu meio (geográfico, económico e social), sem qualquer espécie de sujeição” (CV-RM:70 e 71).

E numa outra altura, o mesmo Cabral continuava dizendo que devemos:

“… aprender na vida, aprender junto do nosso povo, aprender nos livros e na experiência dos outros. Aprender sempre”(UL2:184)

Foi esta visão que norteou a política e a práxis educativa do Governo da 1ª República, sendo Carlos Reis o responsável direto da instituição que tinha sob a sua responsabilidade a política educativa do país.

 

2.2 - Pedagogia de Desafios e Resiliência

O património de Cabo Verde, à época da Independência, se resumia a: rocha, pedra, sol, mar e seres humanos. Na altura, eram pouco conhecidas  a economia azul e as energias não convencionais. Neste cenário, os recursos humanos eram a riqueza, quase que exclusiva, de Cabo Verde.

Sabia-se que investir nesses recursos era investir no desenvolvimento. Mas como fazê-lo sem os outros recursos materiais?

A luta, a resiliência, a persistência e o apelo à cidadania e ao patriotismo foram os caminhos a seguir. Igualmente uma liderança que acreditava na colaboração e participação dos professores e dos técnicos, particularmente os do Gabinete de Estudos, então dirigido pela Dra.Maria Luisa Ferro Ribeiro, e que foi decisiva para o sucesso alcançado, com persistência, tenacidade e resiliência.

Hoje, a 44 anos da Independência, olhando para trás, num cenário de carência de praticamente tudo, pergunta-se: Qual foi o milagre caboverdiano? O país não se afundou. Pelo contrário, atingimos o patamar de pais de desenvolvimento médio, o nosso índice de desenvolvimento humano em África é dos mais altos, alguns problemas persistem, mas estes não impedem a visão de sucesso internacionalmente reconhecido, quanto à estabilidade, à paz social, à democracia e ao Estado de Direito.

E o segredo de Cabo Verde consiste em lutar sempre, em enfrentar os desafios com a cara levantada; em cultivar a resiliência, com persistência e tenacidade. Esta foi o contributo de Carlos Reis e a pedagogia do Governo a que pertenceu, uma pedagogia que resultou porque, particularmente no setor da Educação, houve uma liderança que acreditava nos colaboradores. Outra atitude não se poderia esperar de quem aprendeu na escola de Amílcar Cabral.

A Uni-CV só tem a ganhar com um magistério baseado e alimentado por uma liderança partilhada, pela pedagogia de desafios e pela prática de resiliência. E nisto, a atitude e a práxis da instituição dirigida e coordenada por Carlos Reis são um legado de inestimável valor e uma referência para Cabo Verde.
 

3. Elementos que Reforçam o Legado Cívico do Homenageado

Carlos Reis não foi apenas um educador. Ele foi também um soldado da cidadania. É nesta qualidade que, desde muito jovem, fez parte do PAIGC/CV, partido que lutou pela Independência de Cabo Verde. A sua motivação cívica tinha um nome: a conquista da liberdade, o reconhecimento da dignidade do seu povo; a valorização e o reconhecimento da história, das tradições, da língua e cultura do seu povo; a celebração de um desenvolvimento harmonioso e integral da sociedade a que pertencia.

Na Escola Piloto, nas matas de Conacry, a bordo de barcos da marinha do PAIGC exerceu, com entusiasmo e afinco as tarefas que lhe eram confiadas. É ainda em nome ou devido a  uma cidadania militante que

·      Foi Membro da Comissão Política e do Secretariado permanente do PAICV que dirigiu a mudança política proclamada por Pedro Pires, em nome do PAICV, a 19 de fevereiro de 1990.

·      É Combatente da Liberdade da Pátria, reformado como Comandante das Forças Armadas de Cabo Verde e titular de várias condecorações, nomeadamente, o 2º grau da Ordem Amílcar Cabral.

·      É Presidente da Associação dos Combatentes da Liberdade da Pátria;

·      É Administrador da Fundação Amílcar Cabral e membro da Fundação António Mascarenhas Monteiro.

·      Foi Homenageado pela Escola Secundária Abílio Duarte, em julho de 2009, «em reconhecimento pelo esforço e dedicação à causa da Educação em Cabo Verde e por toda a entrega e sacrifício pela Liberdade da Pátria».

·      Foi Homenageado pelo Departamento de Ciências Humanas e Sociais da Universidade de Cabo Verde, no quadro geral da homenagem «aos cabouqueiros do ensino superior», em novembro de 2011.

·      Foi Agraciado com a Medalha dos Serviços Distintos, primeira classe, em julho de 2014, pelo Primeiro-Ministro de Cabo Verde.
 

4.   Testemunho dos Outros em Crédito do Homenageado 

Carlos Reis no Testemunho dos outros 

a)   Do Doutor Manuel Brito Semedo, ex-aluno do CFPES, ex-Vice-Reitor da Uni-CV. Por ocasião do V aniversário da Uni-CV, em 2011, destacou Carlos Reis como:

“…um dos cabouqueiros e semeadores do Ensino Superior, em Cabo Verde…” 

b)   Da Doutora Adriana de Carvalho, ex-Vice-Reitora da Uni-CV. Em  O Ensino Superior em Cabo Verde, 2019, Ed. Uni-CV, p. 314), afirma:        

“O início do curso chegou a parecer quase impossível” -  e citando Carlos Reis – continua: “A situação internacional, geralmente solidária, não tinha ainda assumido a cooperação para a educação com generosidade que passou a ter  a partir de meados de oitenta. As instituições financeiras só aceitavam financiar os chamados projetctos produtivos, ou da esfera económica e financeira”.  

c)   Dos Doutores Jorge Veiga e Maria Luisa Veiga, respetivamente Vice-Reitor da Universidade de Coimbra, Presidente e Investigadora da Escola Superior de Educação de Coimbra, ambos consultores do Projeto de criação do CFPES, em Cabo Verde. Segundo os mesmos, ao abraçarem o projeto,

“O sentimento… era de privilégio por podermos participar no início do percurso da vida de um país no domínio do ensino superior.

Contudo esperava-nos o desconhecido! … Rapidamente as nossas legítimas preocupações se desvaneceram, porque desde os primeiros contactos com o então Ministro da Educação nosso prezado e grande Amigo Carlos Reis, percebemos estar perante uma fonte de apurada sensibilidade pedagógica, de fino sentido crítico, de afável trato, de grande frontalidade e de elevada capacidade de exercício da liderança no respeito pela diversidade de opinião…

A criação do Curso de Professores do Ensino Secundário, instituído pelo D.L nº70/79, de 28 de Julho, constituiu assim, também, o embrião da nossa já longa e sempre tão descomprometida quanto empenhada colaboração com Cabo Verde, em vertentes que se foram diferenciando de acordo com o perfil de cada um.

Julgamos que valeu a pena registar aqui alguns breves e impressivos sinais de um tempo que tivemos o gosto de viver em Cabo Verde. São sinais ancorados em memórias longínquas que têm teimado em persistir ao longo dos anos, porque sempre reavivada pela continuidade de uma colaboração altamente gratificante”

Tudo isto, repito, citando os ilustres Professores da Universidade de Coimbra, graças a

“… apurada sensibilidade pedagógica, de fino sentido crítico, de afável trato, de grande frontalidade e de elevada capacidade de exercício da liderança no respeito pela diversidade de opinião” do Ministro Carlos Reis e da sua equipa. 

d)   Da professora Marina Ramos, na apresentação do livro Educação em Cabo Verde – Um Outro Olhar, da autoria do homenageado, diz:                        

“Carlos Reis é sobejamente conhecido em Cabo Verde, não só como um dos Heróis Nacionais, que fazendo parte da elite estudantil que ousou abandonar a promessa de um futuro tranquilo para abraçar a incerteza e os perigos da luta armada em prol da libertação nacional, sob a égide do PAIGC, a fim de ‘dar ao povo de Cabo Verde a autoria do seu destino’ e … por haver sido o 1º Ministro da Educação após a Independência Nacional. É um conhecedor profundo da nossa História passada e recente, não só pela formação académica, mas também, pela vivência participante e ativa em ambos os períodos do devir temporal…

Através da obra, o autor desnuda-se enquanto homem consciente e participante ativo da luta travada em busca da liberdade e como construtor desde a primeira hora, do sonho de um Cabo Verde novo, próspero e livre.

A educação é uma das premissas fundamentais para o desenvolvimento do Homem enquanto ser e detentor das capacidades de saber e saber fazer, a qual, de forma construtiva, processual, pode vir a ser utilizada como arma de dois gumes em consonância com a ideologia aplicada ou os objetivos a atingir.

O livro que ora apresentamos, mostra-nos essas duas facetas ao longo do devir da nossa história - induzir à assimilação e à libertação.

Com efeito, o autor, através de uma análise crítica e uma abordagem histórica-política, produto de uma investigação profunda, testemunhada pela vasta revisão da literatura e da sua rica vivência experiencial, problematiza a evolução histórica da Educação em Cabo Verde, nos períodos antes e após a independência”.
 

5.   Palavras Finais

Carlos Reis é tudo o que consta no seu CV; tudo o que escreveu e publicou; tudo o que fez como cidadão e como Ministro da Educação, Cultura, Juventude e Desportos; tudo que os outros disseram dele, nos textos que citei. Falta acrescentar o que ainda não foi dito: Carlos Reis foi, também, um visionário, em matéria de política linguística. Com efeito, foi no seu consulado, como Ministro da pasta acima referida que, com os impulsos da então Diretora-Geral da Cultura, Dra. Dulce Duarte, concedeu o seu alto patrocínio à realização do Primeiro Colóquio Internacional sobre o Crioulo de Cabo Verde, em Abril de 1979, há já, como no caso do CFPES, 40 anos atrás. Ora, se o crioulo foi introduzido, desde a primeira hora no CFPES, se o magistério do crioulo continuou no ISE e na Uni-CV, se o Mestrado de Crioulística e Língua Caboverdiana foi realizado com sucesso na Uni-CV, se em 2009 foi possível institucionalizar o Alfabeto caboverdiano, se hoje já é possível escrever o crioulo com normas e regras bem definidas, se estudos linguísticos e sociolinguístico se multiplicam na Uni-CV e nas Universidades estrangeiras, tudo isto é devedor do Primeiro Colóquio Linguístico de 1979, Colóquio este que contou o pensamento e a práxis visionários do nosso homenageado.

Ora, sendo Carlos Reis um semeador de conhecimento para colher desenvolvimento, como vimos em todo o processo da sua cidadania e magistério, ouso propor ao coletivo dos Doutores desta Casa, que se dignem, aceitá-lo, por mérito próprio, na Ágora do Conhecimento que é a Uni-CV, para, em conjunto, continuar a semear o saber, cultivar, valorizar e partilhar o conhecimento. A todos, Muito obrigado.

 

                                                              O Padrinho,  

                                                             Manuel Veiga

                                                          Dezembro de 2019

 

 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

CUMPLICIDADE FECUNDA ENTRE A MORNA E O CRIOULO

 
Muito mais do que as outras artes, em geral, a Morna tem sido o grande laboratório e o grande palco onde a afirmação e a dignificação do Crioulo aconteceram, têm acontecido. Não há dúvida que ela representa, por um lado, um dos aspetos mais dinâmicos da criatividade e da idiossincrasia do nosso povo e, por outro lado, um dos fatores mais fortes da unidade nacional.
Com efeito, pela Morna cantamos, amamos, choramos (a saudade e o infortúnio), exortamos, criticamos, ensinamos… E o suporte de tudo isto é o Crioulo. Rico ou pobre, letrado ou iletrado, residente ou emigrante, citadino ou camponês, criança ou adulto, todos se irmanam, todos se reconhecem nos ritmos e melodia da Morna...
É ainda a Morna um dos elementos culturais que mais contribuíram para levar Cabo Verde ao mundo e trazer o mundo a Cabo Verde, nas asas do seu ritmo, na voz dos seus intérpretes e na sintaxe de uma gramática que a transporta e dá sentido…
Muito devedora é a Morna do Crioulo. O mesmo se pode dizer do Crioulo em relação à Morna… Eles são como dois irmãos inseparáveis e com cumplicidades na construção e na representação da idiossincrasia caboverdiana. A Morna é digna (de ser Património da Humanidade) como rica e digna é também a língua que a incorpora e veicula. Então, saibamos defender e valorizar estes dois pilares do nosso ser e estar no mundo, como fizeram Eugénio Tavares, Cesária Évora e tantos outros compositores e intérpretes (extrato, com pequenas modificações, de O Caverdiano em 45 Lições, da minha autoria, p. 25 e 26).

NHA VÓTU 2020

KODDJÉTA FADJADU DI 2019
É NHAS PRÉNDA PA 2020
Na melodia sábi, sabinhu di Mórna,
Oji Patrimónia di Umanidadi,
N kre pa tudu kabuverdianu, nha armun,
Pa tudu ser umanu, nha similhanti,
Pa tudu nhas amigu y amigas,
Pa tudu nha família di sangi y di kurason,
UN ANU NHAKU 2020:
Ku agu ta kóre na labada y na rubera,
Ku txuba korenti na txon di masapé,
Ku trabadju, inkluzon, amás sifron,
Ku ruspetu pa klima, anbienti y ekosistéma,
Ku pás, saúdi, suguransa y dizenvolvimentu,
Ku amor, toleránsia y solidariedadi,
Ku ekonomia azul, verdi y di konhisimentu,
Ku liberdadi, demokrasia y Stadu di direitu,
Na konpasu di ”DÓSI GÉRA
Y na rítimu di NOS KABUVERDI DI SPERANSA”.
Pa nhos tudu fépu, nhas prénda é kodjéta di 2019: