Muito mais do que as outras artes, em geral, a Morna tem sido o grande laboratório e o grande palco onde a afirmação e a dignificação do Crioulo aconteceram, têm acontecido. Não há dúvida que ela representa, por um lado, um dos aspetos mais dinâmicos da criatividade e da idiossincrasia do nosso povo e, por outro lado, um dos fatores mais fortes da unidade nacional.
Com efeito, pela Morna cantamos, amamos, choramos (a saudade e o infortúnio), exortamos, criticamos, ensinamos… E o suporte de tudo isto é o Crioulo. Rico ou pobre, letrado ou iletrado, residente ou emigrante, citadino ou camponês, criança ou adulto, todos se irmanam, todos se reconhecem nos ritmos e melodia da Morna...
É ainda a Morna um dos elementos culturais que mais contribuíram para levar Cabo Verde ao mundo e trazer o mundo a Cabo Verde, nas asas do seu ritmo, na voz dos seus intérpretes e na sintaxe de uma gramática que a transporta e dá sentido…
Muito devedora é a Morna do Crioulo. O mesmo se pode dizer do Crioulo em relação à Morna… Eles são como dois irmãos inseparáveis e com cumplicidades na construção e na representação da idiossincrasia caboverdiana. A Morna é digna (de ser Património da Humanidade) como rica e digna é também a língua que a incorpora e veicula. Então, saibamos defender e valorizar estes dois pilares do nosso ser e estar no mundo, como fizeram Eugénio Tavares, Cesária Évora e tantos outros compositores e intérpretes (extrato, com pequenas modificações, de O Caverdiano em 45 Lições, da minha autoria, p. 25 e 26).
Texto publicado no Facebook de 17/12/2019.
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