sábado, 31 de março de 2012

Que variante para a padronização da LCV?

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Resposta ao jornalista Orlando Rodrigues

Perguntas do jornalista: 1. Qual ou quais pensa que deve (m) ser a (s) variante (s) que deve (m) ser eleita (s) como padrão? 2. Aponte os principais argumentos científicos, históricos, culturais e políticos para essa escolha. 3. Qual será o futuro possível das outras variantes menos expressivas em termos de número de falantes? 4. Quais poderão ser as implicações da padronização de uma, ou de um número limitado de variantes para a diversidade cultural existente nas diferentes ilhas?

Respostas:

1. Em vez de se falar da escolha da variante padrão, penso ser melhor falar-se de que estratégia para o enriquecimento linguístico orientado e sistematizado do crioulo caboverdiano.
Há que ter uma política linguística que dê oportunidade de desenvolvimento e de afirmação a todas as variantes, e isto dentro do espírito da valorização da diversidade cultural.
Para que isto seja possível, é necessário a definição de uma estratégia que tenha em conta não só a diversidade linguística, mas também  os aspectos práticos, metodológicos e económicos.

Se não é aconselhável a imposição de uma única variante, nem tomar todas as variantes e colocá-las num mesmo saco, julgo ser possível proceder-se da seguinte maneira: Ver os eixos linguísticos existentes, em termos de proximidade gramatical (no sentido estrutural, fonético-fonológico e morfo-sintáctico; ver esses mesmos eixos em termos de intercompreensão e aceitabilidade linguísticas mais vastas.

A minha proposta vai no sentido da escolha do Eixo Norte, a partir de S. Vicente, e em confluência com as outras variantes do Norte do Arquipélago. A oportunidade de enriquecimento linguístico em confluência dá-se em dois sentidos: no da variante de S.Vicente (a grande confluência, com vocação supra-regional); e no de cada uma das variantes, com imputs de S. Vicente (a pequena confluência, com vocação local).

Na prática, em S.Vicente estuda-se a variante de S. Vicente e faz-se a ponte possível com as riquezas e as particularidades específicas das outras variantes do Norte. Em cada uma das outras ilhas do Norte, estuda-se a respectiva variante e faz-se a ponte possível com as riquezas e especificidades da variedade de S.Vicente.

Ao estudante, em S. Vicente, dá-se-lhe a competência na respectiva variante e os conhecimentos básicos do funcionamento das outras variantes do Norte. Se se entender que este procedimento é muito complexo ou muito dispendioso, pode-se optar pela variante que para os sanvicentinos tem mais potencialidades enriquecedoras, melhores possibilidades de intercompreensão e maior dimensão em termos de mercado linguístico.

A sociabilização das diferenças, a partir da competência adquirida, pode ou não dar-se espontaneamente. No caso afirmativo, paulatinamente consolidará  em S. Vicente uma expressão muito rica e outras expressões  em cada uma das outras ilhas, cada vez mais rica. E isto não pontualmente, mas num processo que pode durar vários anos.

No Eixo Sul, a partir de Santiago, a estratégia se repete, nos mesmos moldes. Será aconselhável que a expressão de Santiago tenha vocação nacional e a das restantes ilhas, ao Sul, vocção local.

Com essa estratégia, cria-se oportunidade para se ter, a nível do Norte e do Sul, duas expressões linguísticas muito fortes (à volta de S. Vicente e de Santiago), e expressões mais ricas que as que hoje existem em cada uma das ilhas do Arquipélago.

O futuro poderá, eventualmente, dar conta da confluência Norte/Sul. A grande mobilidade social (através das ligações aéreas e marítimas, da comunicação social, do ensino, da investigação e da arte, do matrimónio entre pessoas de ilhas diferentes, da globalização do mercado nacional) poderá ser responsável por essa confluência. Se ela se der, será bom e teremos uma expressão linguística muito rica. Se não se der, não haverá nenhum drama, e teremos duas expressões linguísticas fortes e expressões mais ricas em cada ilha.
2. A proposta para a escolha dos dois Eixos:  a) A variedade de S. Vicente é o resultado de uma unificação linguística a partir de Fogo, S. Antão, S. Nicolau e Boavista. b) Em todo o Norte há uma larga intercompreensão desta variedade e a sua aceitação é pacífica, depois da respectiva variante local.
A unificação linguística que emergiu em S. Vicente e a intercompreensão e aceitação da variedade emergente, em todo o Norte do País, são três forças sociolinguísticas muito fortes e que aconselham que o Eixo Norte, em confluência, tenha S. Vicente por palco privilegiado.
A escolha do Eixo Sul, à volta de Santiago, em confluência com as outras variantes do Sul e com S.Vicente, tem por fundamentos: a) A variedade de Santiago constitui a matriz de todas as variantes. b) Do ponto de vista estrutural é a mais autónoma, neste momento, talvez por ser mais antiga. c) Mais de metade dos locutores caboverdianos fala esta variedade. d) Há uma larga intercompreensão a nível do Eixo Sul. e) Possui um grande manancial de tradições culturais. f) A sua autonomia redunda-se numa autenticidade e originalidade muito grandes. g) Por ser uma variedade que não come vogais, em todos os contextos  (no início, no meio e no fim das palavras) faz com que os compositores, mesmo os do Norte, tenham a necessidade de a ela recorrerem muito frequentemente, creio eu que para vincar a acentuação sonora, no final de sílabas, de um trecho musical. I) É a variante que, até este momento, tem merecido maior atenção de académicos estrangeiros e, mesmo a nível nacional, está melhor estudada.
3. A estratégia proposta dá oportunidade a todas a variantes. Porém, uma coisa é certa: as variantes que mais vão contribuir para o enriquecimento dos dois eixos e que, também, vão ter mais possibilidade de enriquecimento próprio, serão aquelas que forem: objecto de mais estudo científico e de mais investigação, que tiverem mais investigadores e mais professores formados; que for suporte de mais produção cultural e literária; veículo mais usado na comunicação social; objecto de mais tradução, de mais ensino no básico e secundário, na respectiva ilha, mas também de ensino superior no país.
4. A pergunta 4, pela estratégia apresentada, deixa de ter razão de ser. A proposta é de dar oportunidade de desenvolvimento orientado a todas as variantes. Por isso, a diversidade cultural e linguística ficam salvaguardadas.
Devo dizer que a estratégia proposta não é para ser materializado a curto prazo. É uma estratégia que começa com o primeiro passo ( a curto prazo, fazer o que de facto podemos fazer em cada momento) e que, progressivamente dará os outros passos a médio e longo prazos. A sabedoria popular diz que “é caminhando que se aprende a caminhar”. O que certamente não é uma boa estratégia é ficar parado à espera que todas as condições se reúnam.
Esperando ter contribuído pelo debate, agradeço as perguntas do jornalista e saúdo a  todos os que já participaram ou venham a participar neste debate. Março (30) de 2012, Manuel Veiga.

27 comentários:

  1. Da minha esposa, recebi o seguinte comentário que, como sempre, muito me reconforta. E porque ela tem sido a estrela que ilumina muitos passos da minha caminhada, deixo aqui o comentário que, de Washington, ela me enviou, via e-mail: "Tambem acho- as esclarecedoras, fruto de uma reflexao amadurecida e uma experiência consolidada de um trabalho aturado de vários anos, de uma observação atenta da vivência e da evolução das atitudes culturais do nosso povo.
    Tal como o Helder, espero que esclareçam o grande publico, sabendo de antemão que haverá sempre um grupo de oponentes inveterados que nunca quererão ver e aceitar o óbvio.
    Beijos para todos. Fátima".

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  2. E do meu filho Hélder chegou a seguinte mensagem: "Excelente... Gostei das respostas. Espero que sejam esclarecedoras para o público".

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  3. Este comentário é do senhor Marciano Moreira. O mesmo tinha sido colocado no texto anterior que, por lapso, foi eliminado:

    "Ten pesoas, sima Profesor Doutor Manuel Veiga, ki sta interesadu na djobe solusons en prol di prezervason, valorizason i promoson di lingua maternu kabuverdianu, na linha di komandu insertu na alinia i) di Artigu 7º di nos Konstituison. Ten otus pesoa ki so ta garbata prublemas pa po na materializason di mensionadu komandu konstitusional".

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  4. N ta otxá ese stratejia, dentre des argumentasaun, un manera viavel pa kontorná es kamin asidentóde nes sforse pa patronizá linga kabe-verdiane skrite. Na verdade no presiza de aselerá nos póse pamóde kada dia pasóde e un dia pirdide. Kada dia sen skreve nha kriol e un dia ke linga portuges, tanbe nha linga, ta invadi spase de nha kriol. Poren N ta oiá ke txeu jente kre rekomesá prosese novamente. Rekomesa un deskusaun ja konkluide. E un prosedimente pa pode pxá pretijiu y konsegi glória de ken ke ja sbi tude es rotxa y ke já ta kuaze na gude. En ves de dá kontinuidade a ese trabói de Dotor Manuel Veiga es ta otxá juste e ben rekomesá un nove prosese ke kuante a eje e amdjor y mas pensode. Falta de respeite pa trabói ate agora fête.
    Entretante N ta otxá kma kriol padraun ja ta izisti na sidade da Praia la de sima na Plato. La e ate grinhasin zona ke N e falóde un kriol taun misturode y suave pa nha uvide ke N ka tive de fazê sforse pa konprendê o pa komuniká. Parse-me ke Plato na Praia e prova ke future de padronoizasaun natural de nos idioma e breve. Dentre de 25 óne maior parte de kabe-verdianes e kapas de kre falá na sotake y manera de Plato. N ta sperá ke mais autores ta da pulse a torser pa komesá ta publiká na LCV inkluzivamente livres pa infatile pa nos kriansas komesá ta ale disde de mnine, ses linga kes tita ben ta uvi disde de barriga de ses mãi. Guy Ramos - Rotterdam

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  5. Comentário de Helena Fontes, no espaço O Púlpito:

    "Afinal o entendimento que tinha sobre o assunto estava correcto. Propõe-se pois a adopção de duas variantes como padrões, numa primeira fase, não se tratando pois de uma imposição de uma sobre a outra como muitos por aqui estavam achando in...fundadamente (o que chamei de badyocismo por partes destes...). E num futuro próximo dependendo das confluências das variantes, por razões de interacções sociais, económicas, tecnológicas, etc, poder-se-á pensar provavelmente, numa convergência dos modelos-padrão, sem se perder a especificidade de todas as variantes, o que confere uma maior riqueza à nossa língua materna. Obrigada Manuel Veiga pelas informações oportunas".

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  6. Comentário de Orlando Rodrigues ao comentário de Helena Fontes e, indirectamente, à minha proposta:

    "O teu entendimento não estava certo, Helena Fontes. Se bem te lembras, dizias no início deste debate que não haveria qualquer ascendência de nenhuma variante sobre outras. Afinal. há sempre. É assim em qualquer processo de oficialização lin...guística. Se não há uma variante, há no mínimo duas que se irão sobrepor às restantes. Uma delas é a minha (SV), pelo menos de acordo com a solução apresentadas por Manuel Veiga. Mesmo assim, defendo que não deve ser. Eu, enquanto cabo-verdiano com diferentes ascendências geográficas e culturais e com vivências diversificadas ao nível de várias ilhas, não reconheço a nenhuma variante direitos de privilégio sobre as outras".

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  7. O jornalista Orlando Rodrigues comenta assim, no espaço O Púlpito, as respostas que dei às suas perguntas":

    "MANUEL VEIGA DEFENDE CO-PADRONIZAÇÃO DAS VARIANTES DE SANTIAGO E SÃO VICENTE

    Há dias, a propósito da padronização da LCV, coloquei ao linguista e académico Manuel Veiga, aqui no Púltito, algumas questões a que ele prometeu responder com a necessária profundidade. Prometeu e cumpriu, o que permite fazer alguma luz sobre as ideias e posições dos especialialistas em relação a um assunto que nos interessa a todos. Se, até agora, os académicos que se têm ocupado deste assunto do mais elevado interesse nacional têm centrado o debate na questão da instrumentalização, com enfoque no alfabeto, o ALUPEC (em grande medida porque as interpelações da sociedade têm sido dirigidas mais nesse sentido, convém dizer), a questão da padronização tem mecerido pouca atenção, o que é de estranhar, quando é aí que reside justamente o grosso da complexidade do processo de oficialização da LCV. As respostas de Manuel Veiga às questões colocadas constituem a formulação mais clara de que tomei conhecimento, até agora, das posições que os linguistas e outros académicos defendem em relação à questão da padronização, o que permite estabelecer, a partir daqui, um debate mais sólido sobre a matéria, porque baseado em arqgumentos objectivamente expostos. Pode não se concordar com as soluções defendidas por Manuel Veiga e alguns dos seus pares (a Alice Matos deu a entender, num post aqui colocado há alguns dias, que defende a mesma posição, embora sem a formular explicitamente), mas pode-se agora discutir, debater e questionar com mais propriedade, uma vez que se começa a fazer luz sobre o que pensam os linguistas".

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  8. Devo esclarecer ao jornalista Orlando Rodrigues que aceito a padronização e o desenvolvimento de todas as variantes. Essa padronização e desenvolvimento podem ter um âmbito local, um outro supra-regional e, finalmente, um outro que pode ser nacional, se assim entenderem os caboverdianos a nível local, supra-regional e nacional. A minha proposta é um esforço no sentido de salvaguardar a diversidade cultural e linguística em Cabo Verde. Porém, estou aberto a qualquer proposta que seja melhor do que a formulada por mim.

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  9. Que significa "padronização"?
    Na resposta às perguntas do jornalista Orlando Rodrigues, falei de três níveis de padronização: a local, a supra-regional e a nacional. Pelos comentários feitos no espaço O Púlpito, fiquei coma a impressão que a palavra padronização não é interpretada por tos da mesma maneira. Aqui fica a interpretação que dou ao termo, num contexto em que se quer padronizar, mas também se quer preservar a diversidade cultural e linguística.
    Padronização local: é a harmonização linguística convencionada em cada ilha, a partir da variante local. Por exemplo, em Santiago, temos a realização “baka/vaka, kasa/kaza, oxi, oji...”. Na padronização local consensualiza-se que, a nível da formalidade escrita, vamos tomar uma dessas variantes. A partir desse momento, a variante consensualizada passa a ser a expressão padronizada.
    Padronização supra-regional: é o mesmo que a padronização local, só que a sua abrangência deixa de ser simplemente local e passa a ser regional. Por exemplo, no Fogo diz-se “mindju, inférru, bórsa....”. Em algumas outras ilhas do eixo Sul se diz: “midju, infénu, bólsa”. A padronização supra-regional seria consensualizar que em todo o eixo Sul se passaria, em situações formais de escrita, a utilizar uma das variantes. Por exemplo: midju, bólsa, inférnu”.
    Padronização nacional: a metodologia é a mesma das outras duas referidas atrás. Simplesmente, o âmbito seria nacional. Para tal, há que escolher a variante ou a variedade mais representativa do ponto de vista linguístico e sociolinguístico; a mais representativa em termo de autonomia linguística; a mais representativa em termos demográficos; a que alberga no seu seio maior número de locutores oriundos das outras ilhas; a que em termos de compreensão e de aceitabilidade é mais representativa, a nível nacional; a que, eventualmente poderá estar melhor estudada; a que, a nível nacional é mais utilizada na comunicação social, na criação literária e artística; a que é suporte de um leque mais vasto de tradições culturais.
    Se houver uma variedade que reunir todos esses consensos e outros que, eventualmente, não referi, seria essa a base de confluências de todas as particularidades enriquecedoras do mapa linguístico nacional.
    A consensualização não seria objecto nem de decreto, nem de qualquer outro tipo de imposição. Ela aconteceria como fruto da mobilidade social, do ensino, da investigação, da criação literária e artística, do uso na comunicação social, em fim, da intra e da interdialectalização.
    Em quanto tempo isso se daria? Não se pode precisar. Pode ser a médio ou a longo prazos.
    Neste momento, a melhor estratégia é dar competência linguística das variantes a nível local e regional; é ensinar lá onde seja possível; é investigar; é encorajar a criação literária e artística, em todas as variantes; é promover o uso na comunicação social de todas as variantes. O resto deixemos com a própria dinâmica linguística do nosso povo.
    A padronização pode ser também a imposição pura e simples de uma variante, mas em tempo de democracia e de defesa da diversidade cultural, não é isto que o nosso povo quer.
    Espero ter contribuído pelo debate. Estou aberto a outras interpretações que, porventura, forem mais judiciosas e mais pertinentes.

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  10. Porquê que a Variante de S. Vicente é Supra-Regional?
    O senhor Armindo Pires pede-me para apresentar as razões que fazem com que a variante do crioulo de S. Vicente seja supra-regional, conforme afirmara na resposta dada às perguntas do jornalista Orlando Rodrigues. Eis as razões:
    1. A variante de S. Vicente, como se sabe, é, fundamentalmente, o resultado da confluência entre as variantes do Fogo,... S. Antão, S. Nicolau e Boavista. Todas essas variantes tiveram cumplicidade directa na formação da de S. Vicente. Creio que este é um dado pacífico.
    2. A nível do eixo Norte, não só goza de uma larga intercompreensão, como também os locutores dessa zona linguística têm uma grande facilidade em usá-la correctamente.
    3. Em todo o eixo Norte, a variante de S. Vicente é aquela que, de acordo com as minhas observações, goza de maior grau de aceitabilidade regional. Penso que na Boavista ou em S. Nicolau, a variante de S. Vicente é melhor compreendida e falada que, por exemplo, a variante de Santo Antão. Porém, em Santo Antão, a variante de S. Vicente, segundo me consta, é melhor compreendida e falada que as de S. Nicolau e Boavista.
    São as razões apontadas em 1, 2 e 3 que fazem da variante de S. Vicente uma variante supra-regional, na minha perspectiva. E não há dúvidas de que essas razões devem ser tidas em conta no processo de padronização.

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  11. Eis o comentário do senhor Armindo Pires que mereceu já a minha resposta no spot anterior. Devo informar ao senhor Armindo que há muito tempo que venho defendendo a padronização no eixo Norte/Norte, Sul/Sul e Norte/Sul. Porém, se esse último eixo nõ se concretizar não será nenhum drama.

    Armindo Pires: Com todo respeito intelectual e não só,responde-me sff Dr.Manuel Veiga,como se pode fundamentamentar que SV é uma variante supra regional em termos de antiguidade,tradiçao,estruturaçao e estudo como refere a matriz de Santiago?? Eu não perc...ebo onde esta o obvio que o Sr. refere. Ja agora também não percebo estas cambalhotas,se não estou em erro o Sr.como Luinguista,estudioso do Crioulo,Ministro da Cultura,foi sempre defensor de um unico variante como matriz referência,pq agora vem com esta dupla padronizaçao?? PS-Pessoalmente não sou linguista,sou um mero Cidadão comúm Caboverdiano,que acha isso um assunto muito sério,digno de ser tratado com as melhores cautelas,susceptivel de um debate sério sem ser excessivamente politizado e alargado na sociedade Caboverdiana com a maior abertura a fim de procurar o melhor consenso possivel a nivel Politico e da sociedade Civil de Santo Antão a Brava e diaspora. Não tenho uma posiçao formada ainda sobre o tema pq ainda não me convenci dos argumentos a favor(posso estar enganado),mas acho que não é por imposiçao ou decreto a martelo e a pressa que vamos la. Haver vamos!!!!!

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  12. O Dr. Victor Osório comentou no espaço Púlpito, de 5/4/2012:"... a minha única preocupação é que não estraguem o crioulo e nem sobrealternizem (cit) variantes em nome de outros critérios que nada têm com a 'lingua viva!"

    Manuel Veiga responde: Cada variante do nosso crioulo tem a força que tem.Há de convir comigo que se todas, do ponto de vista cultural, têm a mesma força, o mesmo não se pode dizer do ponto de vista linguístico e sociolinguístico. Por exemplo, a variante de S. Vicente, que é supra-regional, pelas explicações que já dei ao senhor Armindo Pires, não pode ter, do ponto de vista sociolinguístico, pelo menos neste momento, igual importância que cada uma das variantes, em separado e que confluiu na sua formação. Se eu disser, por exemplo, que a supra-variante de S. Vicente tem (está tendo) um peso maior no processo de padronização, não estou nem a sobrevalorzar S. Vicente, nem a subalternizar Boavista. Estou simplesmente a colocar cada coisa no seu lugar. Se eu disser, ainda, que o Dr. Victor percebe de leis mais do que eu, e que eu tenho obrigação de perceber de estudos linguísticos mais do que o Dr. Victor, estou a reconhecer factos. Não estou nem a subalternizar, nem a sobrevalorizar ninguém. "Atqui, ergo...".

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  13. Diz a Dra Helena Fontes : "Padronizar não significa então superioridade nem inferioridade como andam por aqui a dizer ...".

    ManuelVeiga responde: Não é superioridade nem inferioridade cultural. Padronizar significa harmonizar, tendo sempre em conta a tendência emergente na própria sociedade. A padronização pode ser sancionada, com uma medida legal ou administrativa, mas esta medida só poderá vir depois da comprovação da tendência mais representativa, do ponto de vista linguístico e sociolinguístico.

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  14. Escreve o senhor Lúcio Teixeira no espaço o Púlpito de 5/4/2021: "Cara Helena, o Sr Manuel Veiga, pode nao aceitar isso publicamente mas o que esta sugerindo e que as geracoes futuras falem o Criolo de Santiago e de Sao Vicente!!! Acho que e coragem a mais pedir isso as pessoas das outras ilhas! Considero isso um insulto de todo o tamanho!"

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  15. Senhor Lucio Teixeira!, leia com atenção tudo o que escrevi no processo do debate sobre a padronização, e tire as conclusões realistas e não impressionistas. Defendo a harmonização das expressões linguísticas, a nivel local, la onde é possível e desejável. Isto, na lógica cartesiana significa que todos vão continuar a falar a sua própria variante. podendo em situaçõe formais de escrita utilizar a sua variante com alguma diferença da maneira como se fala. Sabe, certamente, que o código da língua falada não é 100% o código da língua escrita. Defendo também a harmonização a nível supra-regional. Isto significa que pode haver pontos de convergência lingística, como aliás tem havido, entre variantes de uma região. É por causa desta convergência que a variedade de S. Vicente nasceu. Defendo também uma harmonização linguística possível, como aliás tem acontecido, na perspectiva nacional. A expressão linguística da ilha de Santiago, para além de ser a matriz de todas as variantes, alberga maior número de locutores procedentes de todas as ilhas. Essa convivência provoca, quase que espontâneamente, a convergência linguística em alguns aspectos. É por isso que hoje, na Praia se houve dizer "vaka, kazamentu, oji". É por isso ainda que na Praia se ouve frases como esta : " kel minina la é bunita pa frónta". Deve, seguramente, saber que no crioulo basilectal se diz : "baka, kasamentu, oxi, kel minina la é rei di bunita". Não é preciso ser linguísta para se notar a convergência nacional. Pode estar certo também que no Sal e na Boavista, que neste momento que neste momento estão a acolher um número significativo de caboverdianos das outras ilhas, dento de algum tempo, se o processo continuar, vai haver casos de convergência linguística nacional. Espero ter contribuído para uma melhor compreensão da minha posição.

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  16. Lúcio Teixeira escreve no espaço Púlpito de 6/4/2012:

    "Falamos como queremos, mas escrevemos como "badios"? Por que cargas d'agua? O meu criolo de Fogo e perfeito e se tiver que "melhora-lo" vai ser com ingles que me e util! Conversa mole de lado, o que esta e causa nao e significar coisa nenhuma mas sim impor a vontade de uma suposta maioria! Nao deixaria, contudo, de agradecer a disponibilidade do Sr".

    Manuel Veiga esclarece: "Compatriota Lúcio Teixeira: o senhor e os foguenses, em geral, terão a liberdade de, na sua ilha, falarem e escreverem a sua própria variante. Só que o código falado será menos cuidado que o escrito. E eu que sou badio, hei-de o compreender perfeitamente, como compreendo Pedro Monteiro Cardoso do Folclore Caboverdiano. E isto porque tenho uma relação saudável e pacífica com todas as variantes. Gostaria que todos os caboverdianos tivessem esta mesma relação saudável e pacífica, em nome da diversidade cultural. Há de convir comigo que Santiago não tem culpa de ser a matriz de todas as variantes. O Fogo pode ser considerado uma variante irmã porque surgiu pouco tempo depois da de Santiago. Todos nós reclamos pela liberdade, mas a condição humana não nos permite escolher a mãe ou o pai que temos. Porém, nem por isso deixamos de ser livres.

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  17. O senhor Lúcio Teixeira coloca-me as seguintes questões: 1) Qual a finalidade da oficialização do crioulo? 2) Porquê que Santiago é matriz de todas as outras variantes? 3) O que significa padronizar o crioulo?
    Relativamente à primeira pergunta, devo informar ao senhor Lúcio Teixeira que a oficialização de uma língua significa o reconhecimento do estatuto jurídico-constitucional que legitima o ensino dessa língua, o seu uso na administração, na comunicação social, na criação literária e artística e nas diversas formas da vivência e convivência do povo que a fala. Quando uma língua é materna, como no caso do crioulo caboverdiano, o estatuto atrás referido é consuetudinário. Esta é a razão por que, em vários países, os EUA, por exemplo, não se consagra que a língua materna é oficial. Em Cabo Verde temos a necessidade dessa consagração porque a Constituição de 1992 e as sucessivas revisões, consagram o português, em Cabo Verde, como língua oficial (artigo 9º .1) e determinam que “O Estado promove as condições para a oficialização da língua materna cabo-verdiana, em paridade com a língua portuguesa (artigo 9º .2). Em Cabo Verde, a língua materna, sem o reconhecimento explícito de língua oficial, já vem ocupando o espaço de oficialidade no ensino, na administração, nos mídia, na criação artística e cultural, nas diversas formas de vivência e convivência do nosso povo. Apenas falta alargar e consolidar o seu ensino; alargar e consolidar o seu uso na administração, na comunicação social, na criação literária e científica. Até parece que a oficialização não é uma mais-valia. Porém, temos que admitir que será uma mais-valia, na medida em que vai aumentar a auto-estima dos caboverdianos e vai promover, paulatinamente, a massificação do ensino como matéria e como veículo de outras matérias. Se me perguntar se, neste momento, estou interessado em lutar pela oficialização da nossa língua materna, dir-lhe-ei que o que de facto me interessa é trabalhar para aumentar o espaço da sua oficialidade. Mais cedo ou mais tarde os políticos vão chegar à conclusão que o estatuto de língua oficial é um direito fundamental de todas as línguas maternas e uma das condições para uma real democracia.
    Pergunta o senhor Lúcio Teixeira porquê que Santiago é matriz das outras variantes. Devo dizer-lhe que matriz vem do latim “mater”, que significa mãe. Dizer que Santiago é matriz das outras variantes significa que o berço do crioulo caboverdiano foi Santiago, a primeira ilha povoada. A expressão de Santiago, pelo menos alguns elementos, viajou para as outras ilhas onde se processou uma autonomização local, através de descendentes originários da primeira ilha habitada, desde o longínquo ano de 1462.
    Quanto à terceira pergunta ver o spot seguinte que já tinha sido publicado nas páginas do meu facebook, no âmbito do debate sobre a padronização.

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  18. No espaço o Púlpito, li hoje, dia de Páscoa (8/4/2012), o seguinte post do jornalista Orlando Rodrigues: "Eu achei que devia aqui enaltecer a paciência, a dedicação e a generosidade de Manuel Veiga para, no intervalo das suas actividades obrigatórias, particiupar activamente neste debate. Como linguista e académico tem as suas posições, que derivam necessariamente do estudo que tem dedicado a esta matéria, e pode-se não estar de acordo com elas, seja com argumentos académicos ou através de reacções epidérmicas e de instinto. Enalteço igualmente a coragem para se expor e, principalmente, para sujeitar as suas ideias ao escrutíneo público imediato e em real-time neste fórum de carácter público, o que muito poucos dos nossos homens públicos seriam capazes de fazer. Bem haja, Manuel Veiga".

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  19. Também do compatriota Júlio Teixeira, li no mesmo espaço e na mesma data este outro post: "Dr Manuel Veiga, agradeco os seus esclarecimentos e toda a sua paciencia para com as minhas provocacoes. Ajudou-me a superar a minha ignorancia em relacao a essa materia e so me resta dar-lhe os meus parabens pela dedicao e pelo trabalho que vem fazendo em relacao a nossa lingua! Mais uma vez, obrigado."

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  20. Eis o que diz Isaurindo Évora Furtado no facebook de hoje, dia 8/4/2012, dia da Páscoa:

    "É um trabalho dele e ele está lutando por algo em que ele acredita.Acho que ele já avançou muito.Talvez até como ninguém nunca avançou.Devemos bater-lhe palmas e quem sabe aparece alguém para continuar os esforços do mesmo.Parabéns Manuel Veiga".

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  21. Da amiga Dulce Duarte, chegou também, nesta manhã da Páscoa, via facebook, o seguinte comentário : Veiga, felicito-o pelo excelente trabalho que você tem vindo a fazer esclarecendo as pessoas sobre aspectos vários da nossa língua materna. Ao fazê-lo, um número cada vez maior de cabo-verdianos se interessa pela nossa língua porque não são apenas os que o contactam ou trocam impressões consigo que ficam esclarecidos ou se apercebem da importância do crioulo cabo-verdiano como língua. São todos aqueles que, quanto mais não seja por curiosidade, vão lendo as explicações, seguindo os debates, fazendo comentários com os amigos".

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  22. O post da Dulce mereceu o seguinte comentário meu: "Prezada Dulce,
    Eu estou a semear alguma semente que colhi na azágua linguística da Dra Dulce. Não me esqueço que foi a Dulce que me deu a mão, em 1978, para trabalhar na então Direcção-Geral da Cultura. Creio ser um simples continuador".

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  23. Felicito o jornalista Orlando Rodrigues, a Dra. Helena Fontes, os compatriotas Júlio Teixeira e Silva Carlos, bem como os demais paricipantes no debate sobre a padronização da língua caboverdiana.
    Na Páscoa da Ressurreição e da comunhão "urbi et orbi", gostaria de expressar o meu reconhecimento para com os compatriotas acima referidos pela participação cívica no debate, um debate que, seguramente, terá contribuído para esclarecimentos vários. Nem tudo terá ficado esclarecido e, certamente, continua a haver algum disenso. Porém, o debate deve ter aumentado o consenso, em alguns pontos, pelo menos. A cidadania é isto mesmo: participação aberta, frontal, responsável e respeitadora. A todos os que participaram no debate, uma Páscoa de renovação, de reissureição e de comunhão.

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  24. Silvio Martins escreve no facebook, a 9/4/2012: “Prezado Senhor Linguística que sempre admirei pelo trabalho admirável em prol da língua e cultura caboverdiana. Muito Obrigado pelo seu excelente contributo. Agradecia que você respodesse-me as seguintes questões: Quais são os Obstáculos para a oficialização da nossa língua Crioula?? E quando vai entrar em vigor o Novo Acordo Ortográfico em Cabo Verde ???? Agradeço a sua resposta!!!”.
    Manuel Veiga responde: Caro Sílvio, antes de mais, obrigado pelo reconhecimento que tem do meu trabalho. Hoje, os obstáculos da oficialização da nossa língua são, sobretudo, de cariz político e sociolinguístico. Os políticos (alguns) num puxa-puxa de quem tira maior dividendo eleitoral com a oficialização, vão adiando a decisão, embora ninguém seja contra a oficialização. A sociedade está apertando o círculo aos políticos e a “hora grande” não vai tardar, na minha perspectiva.
    Porém a resistência não é só dos políticos. Há quem, por desinformação, continue a pensar que oficializar o crioulo é desoficializar o português e por isso resiste. Há outros ainda que, erradamente, pensam que com a oficialização vai-se adoptar a variedade de Santiago e ninguém quer ver a sua variante marginalizada. Há os que, por conforto com a língua portuguesa que aprenderam desde as primeiras letras, vêem na oficialização do crioulo um desperdício económico e um desconforto em termos de aprendizagem. Há um ou outro que continua a achar que as condições técnicas ainda não estão reunidas.
    O senhor Sílvio já sabe qual é a minha posição: a língua materna já está no espaço de oficialidade (que se alarga dia por dia) e não há como não reconhecer o estatuto de oficialidade ao crioulo. A língua é de todos e os políticos só dignificariam o seu mandato reconhecendo um direito que é inalienável a qualquer língua materna. A oficialização terá que ser em paridade com a língua portuguesa, como a própria Constituição já determinou no antigo 9º. 2. Cada vez mais se faz consenso que é a língua caboverdiana que vai ser oficializada e não a variedade apenas de Santiago. Com a oficialização toda a diversidade linguística será valorizada e o peso dessa valorização dependerá da própria dinâmica imprimida a nível local (mais uso, mais produção literária e artística, mais investigação, mais ensino). Quanto aos custos da oficialização é preciso ter em conta que tudo o que vale tem custos. Se a língua materna é rosto e suporte da nossa identidade, como não consentir os custos da sua afirmação e valorização? Do ponto de vista técnico, hoje conhecemos a ciência da nossa língua: já há gramáticas, dicionários, textos literários, teses e dissertações. É preciso apenas fazer as adaptações necessárias e em cada momento fazer o que realmente podemos. Ficar, eternamente, a repetir que as condições (óptimas) não estão reunidas não vai levar a lugar nenhum. Hoje fazemos o que podemos. Amanhã será outro dia e o passo também será diferente.
    Quanto ao Acordo Ortográfico, o Governo já aprovou e já ratificou a sua entrada em vigor. A ratificação da entrada em vigor aconteceu em 2009, com um período de experiência que, se não me engano, é de quatro anos. Isto significa que em 2013, o efeito da ratificação será pleno.

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  25. Eis a resposta do senhor Silvio Martins no facebook de 12/4/2012:

    "Exmo. Senhor Manuel Veiga fiquei muito feliz ao receber a sua mensagem. Foi muito explícito. Só posso dizer um muito obrigado, Obrigado! Penso que esta é a oportunidade ideal para agradecer-lhe por tudo aquilo que o senhor fez e faz pela cultura cabo-verdiana, por todos os seus ensinamentos, pelas imensas lutas para a da valorização da Língua Cabo-verdiana. E também, por tudo de bom que a sua postura séria, honesta e ética sugere a mim. Desejo-lhe muito saúde e uma vida longa e feliz ao lado dos seus e que o senhor continua semeando cidadania em todos os passos e ……. Saiba lhe admiro muito. Aprecio muito a sua comunicação assertiva. As palavras são impregnadas de VIBRAÇÕES crioulas e inteligência.
    Sobre o Conteúdo fiquei satisfeitíssimo com a sua resposta. É que eu suspeitava mas queria ter a sua opinião, um linguística sério e de referência a nível nacional e internacional!
    Mais uma vez um Bem Haja para si!!!"

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  26. As palavravras acima proferidas mereceram o seguinte comentário:

    "Caro compatriota,

    As suas palavras são deveras recorfortantes. Toma-as na justa medida. Elas me reconfortam, mas não me ufanam, nem me fazem perder o Norte. O caminho andado é e tem sido uma azágua de todos nós, e onde a faina do meu compatriota Silvio Martins também conta, também contará".

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  27. Resposta do senhor Sílvio Martins no facebook do dia 13/4/2012:

    "Exmo.SenhorManuelVeiga Os meus agradecimentos são mais que merecidos. Pois tenho acompanhado a sua luta e de mais alguns desde ha muito. Mas a sua habilidade de seguir em frente, com uma sólida determinação, e sempre com mesmo entusiamo mesmo com problemas e obstâculos de Vários níveis. Um Bom dia para si e um óptimo dia de trabalho".

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