terça-feira, 22 de novembro de 2016

PEDRO PIRES Recebe o Título de Doutor Honoris Causa na Uni-CV (Fundamentação)



A Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) celebra, a 21 de Novembro, o seu 10º aniversário. Toda a Academia encontra-se em festa e muito orgulhosa do caminho percorrido.
 Foram visionários os que em 2006, a partir do legado do ISE, lançaram os fundamentos da instituição que hoje é aniversariante. Foram ousados os que colocaram as primeiras pedras na edificação deste areópago do conhecimento: o Governo do Dr. José-Maria Neves, a Comissão Instaladora, as direções subsequentes, os serviços académicos e administrativos, as diversas coordenações, o corpo docente, a comunidade estudantil.
Volvidos já dez anos, hoje a Uni-CV é uma instituição credível e ousada, afigurando-se como um estabelecimento do Ensino Superior, em Cabo Verde, com maior oferta formativa, com maior número de alunos e melhores condições em termos de propina, do número e da qualidade dos docentes.
Recentemente, no número 478 do jornal A Nação, uma voz autorizada chegou mesmo a declarar que: 
a Uni-CV é, reconhecidamente, a melhor universidade de Cabo Verde e é também a universidade que tem melhores condições para acolher uma boa parte dos estudantes que têm expectativas para fazer cursos superiores no país”.
Qualquer que seja a top position da Uni-CV, uma coisa é certa: nestes dez anos de percurso, ela conta com uma folha de serviço que orgulha o coletivo dos seus docentes e discentes, que orgulha os caboverdianos. Parabéns  para a Uni-CV, parabéns para a equipa reitoral, para o Conselho da Universidade, para as faculdades e coordenações existentes, para os Conselhos Científicos, para os Serviços Académicos e Pedagógicos, para o corpo docente, para o coletivo de estudantes e para toda a administração.
É no âmbito da celebração desses dez fecundos anos de percurso que, por aprovação dos Conselhos Científicos da Uni-CV (de 18/12/15 e 21/1/16) o Conselho da Universidade (pela deliberação número 004, de 5 de Fevereiro de 2016), decidiu homologar a atribuição do título de honoris causa a um ilustre filho da nossa terra.
Trata-se do Combatente da Liberdade da Pátria e ex-Presidente da República, o Comandante Pedro de Verona Rodrigues Pires.
Coube-me a mim, na qualidade de professor jubilado, da Uni-CV, que exerceu as funções de coordenador do primeiro Mestrado de Crioulística de Língua Caboverdiana e, ainda, as de ex-diretor da Cátedra Amílcar Cabral, apresentar a justeza, a pertinência e a oportunidade da atribuição do título de Doutor Honoris Causa a este ilustre compatriota, o homem que participou ativamente na Luta de Libertação Nacional e que pertenceu a uma geração “… sonhadora, generosa e corajosa[1]; o compatriota que chefiou a delegação do PAIGC nas difíceis e complicadas negociações para a Independência; o primeiro Primeiro-Ministro de Cabo Verde Independente; o 3º Presidente da República; o líder visionário e humanista, galardoado com o Prémio Mo Ibrahim 2011.
A Uni-CV, ao atribuir o seu mais alto título académico, acaba por realizar um ato de justiça e de reconhecimento a um dos mais ilustres filhos da nossa terra. Com essa atribuição, ela própria fica mais prestigiada e melhor cotada tanto no País como no exterior.
A minha fundamentação, quanto à pertinência e ao mérito do título atribuído, vai cingir-se a três aspetos que considero importantes e, por isso, determinantes:

1)  Pedro Pires: Patriota e Humanista;
2)  Pedro Pires: Líder e Visionário;
3)  Pedro Pires: Um Homem de Palavra, Comprometido com o seu Povo.

Comecemos com
I.              PEDRO PIRES: PATRIOTA E HUMANISTA
Ser patriota e humanista são epítetos que ficam bem a qualquer cidadão. Porém, quando, para tal, aceitamos, com determinação, em defesa do nosso povo, assumir os riscos que podem custar a própria vida, deixamos de ser apenas um cidadão comum para vestirmos as vestes de um herói nacional. Foi o que aconteceu com Pedro Pires.
Com efeito, tendo nascido na ilha do Fogo, em 1934, presenciou, com indignação, o embarque de contratados para as roças de S. Tomé e, em 1942/43, com oito anos de idade, assistiu, com o coração partido, aos horrores da fome que, drasticamente, tinha assolado Cabo Verde.

Datam desta época tristes cenas como, por exemplo, aquela em que o nosso homenageado, ainda criança, chegou a ver “um pai que tinha sido obrigado a trocar cada telha da sua casa por uma bolacha, no esforço de salvar os filhos de morrer de fome”.
Esta situação leva qualquer ser sensível a manifestar a sua revolta. Porém, quando essa revolta assume os riscos que podem custar a própria vida, estamos diante não apenas de um ser sensível, mas de um espírito superior, profundamente engajado com o seu povo e com a sua terra. Aliás, é o próprio Pedro Pires que, no documento “Pequena Narrativa da Libertação” afirma:
Aderi ao projecto político do PAIGC com muita paixão e, com sentido estratégico do futuro. Foi um compromisso patriótico e ético assumido com Cabo Verde, com os meus camaradas de luta e com os outros povos oprimidos da África. Estava certo da validade da minha opção e da possibilidade do seu triunfo. Investi o melhor de mim mesmo para o desenvolvimento e o triunfo dessa causa, procurando servi-la com abnegação, lealdade e sinceridade…”.
O projeto político maior do PAIGC consistia na libertação dos povos da Guiné e de Cabo Verde da opressão colonial-fascista e na restituição da sua dignidade. Tendo falhado todas as tentativas de diálogo aberto e construtivo, aos homens do PAIGC, de que Pedro Pires fazia parte, apenas restou o caminho da luta, não apenas a diplomática, mas também a armada.
No documento “Nota biográfica” constata-se que, em 1961, encontrando-se a prestar serviço militar em Portugal, foge, clandestinamente, para se juntar ao PAIGC, em Conacri. Entre 1962 e 1965, empreende, em França e depois no Senegal, a mobilização de emigrantes caboverdianos para a luta. De 1968 a 1974 exerce altas responsabilidades no campo político e militar, na qualidade de membro do Comité Executivo da Luta e do Conselho de Guerra e, ainda, como Comandante de Região Militar.
Face à investida das lutas armada e diplomática levadas a cabo pelo PAIGC, mas também pelos outros movimentos de libertação nas outras antigas colónias portuguesas, o regime colonial fascista de Portugal estava condenado ao fracasso. Aliás, já em Fevereiro de 1974, o General António Spínola que comandava as tropas portuguesas na Guiné-Bissau, chegou a declarar no seu livro Portugal e o Futuro (1974:235):
“… não é pela força, nem pela proclamação unilateral de uma verdade que conseguiremos conservar portugueses os nossos territórios ultramarinos. Por essa via apenas caminharemos para a desintegração do todo nacional pela amputação violenta e sucessiva das suas parcelas… [já que] Nação e Pátria, muito mais do que criação de um estatuto legal, são sentimento e vivência no subconsciente de cada homem[2]”.
O 25 de Abril de 1974, com a revolução dos cravos, em Portugal, veio dar razão à luta do PAIGC e à magnanimidade do projeto no qual Pedro Pires e os seus companheiros de luta estavam envolvidos.
A Guiné-Bissau e Cabo Verde alcançaram a sua Independência, respetivamente a 24 de Setembro de 1973 e 5 de Julho de 1975.
Pedro Pires não só lutou para a proclamação dessa “Hora Grande”, mas foi quem liderou o grupo de negociações com a antiga potência colonial.
Somente um patriota e um grande humanista seria capaz de lutar para a dignidade e libertação do seu povo, custe o que custar, mesmo que esse custo viesse a ser o sacrifício supremo da própria vida.
Hoje somos independentes, vivemos numa democracia em construção, com o nosso parlamento, o nosso governo, o nosso sistema judicial, o nosso sistema de ensino e de saúde, o nosso hino, a nossa bandeira.
Não fosse o projeto de luta no qual Pedro Pires e outros estiveram envolvidos, não fossem o patriotismo e o humanismo dele e de outros compatriotas, dificilmente a liberdade e a democracia fariam hoje parte do nosso quotidiano. Então, a nossa dívida para com os cabouqueiros da nossa Independência, onde Pires está incluído, é grande. Daí que o título de Honoris Causa, a Pires atribuído, pela Uni-CV, não só é justo como é também merecido. Esse merecimento advém de outros fatores. Pedro Pires, para além de patriota e humanista foi e é para o nosso povo um

II.           LÍDER E VISIONÁRIO
Um líder é aquele que, coordenando uma equipa, é capaz de mobilizar vontades à volta de projetos, de índole diversa, levando os colaboradores, com empatia e espírito de generosidade, a assumi-los, a defendê-los e a valorizá-los, assegurando, deste modo, tanto a eficiência como a eficácia da operação.
Este mesmo líder será um visionário quando for capaz de viver o presente, antecipando o futuro e antevendo os resultados da sementeira feita no presente. E a faculdade de antever as coisas pode condicionar a sementeira, como esta pode influenciar a qualidade e a natureza do futuro em perspetiva.
Ora, não tenho a menor dúvida: Pedro Pires tem sido um líder e um visionário. Vou propor-vos apenas três de entre os momentos que considero mais significativos da sua liderança visionária: 1) chefiando, logo após o 25 de Abril de 1974, a delegação que negociou a Independência da Guiné e de Cabo Verde, tanto em Londres, como em Argel e em Lisboa; 2) na qualidade de Primeiro-Ministro de Cabo Verde Independente, de 1975-1991; 3) fundando, em 2013, o Instituto Pedro Pires, uma instituição voltada para a incubação da liderança no seio da juventude, empoderando-a para a consolidação do processo de desenvolvimento de Cabo Verde e da África. Segundo uma nota de imprensa (ver A Semana online de 30 de Agosto de 2013),
“O IPP pretende desenvolver actividades que promovam e implementem acções de carácter científico, técnico, educativo e sociocultural, em diversos domínios. Por isso vai formar e capacitar jovens líderes, que fomentem uma liderança transformadora e o desenvolvimento da participação cidadã, cooperativa e emancipadora”.
Vejamos cada um dos três momentos de liderança visionária acima referidos:
1.   Chefiando a Delegação que negociou a Independência
Com uma trajetória que inclui: a participação na luta clandestina para a libertação do nosso povo; a mobilização de emigrantes para a luta, no Senegal e em França; a guerrilha nas matas da Guiné; a coordenação do núcleo de militares para a formação em Cuba, e depois na então URSS, para o início da luta armada em Cabo Verde, Pedro Pires granjeou respeito e reconhecimento nas hostes do então PAIGC.
Indigitado chefe de delegação para negociar a Independência, Pedro Pires sabia o quão difícil e complicada era essa missão. Foram a sua habilidade diplomática, as suas qualidades de liderança e a sua capacidade de visionário que possibilitaram a tão bem-sucedida negociação, tendo convencido os seus interlocutores. Aliás, o artigo 6.° do Acordo diz que  O Governo português reafirma o direito do povo de Cabo Verde à autodeterminação e independência…”. E o artigo 7º do mesmo Acordo reafirma que O Governo Português e o PAIGC consideram que o acesso à independência, no quadro geral da descolonização dos territórios africanos sob dominação portuguesa, constitui factor necessário para a paz duradoura e uma cooperação sincera …”.

Se hoje, mais de quatro décadas volvidas, vimos celebrando o 5 de Julho, é, em grande medida, devido ao sucesso da liderança de Pedro Pires nas negociações havidas. Ora, esta mesma liderança teve continuidade
2.   Na Qualidade de primeiro Primeiro-Ministro de Cabo Verde
Trata-se de um novo contexto em que o exercício da liderança implicava grandes riscos e grandes desafios. Cabo Verde carecia tanto de recursos materiais e económicos, como da própria mão de obra qualificada, numa situação em que mais de 60% da população era analfabeta. Se a organização e a implantação do Estado de direito eram uma preocupação, a formação, a saúde e a luta contra a fome, numa terra de escassez de água, de chuva e de recursos naturais, eram a prioridade das prioridades. É assim que
Durante três mandatos sucessivos, os Governos chefiados por Pedro Pires levaram a cabo uma política ponderada e pragmática, visando a edificação de um Estado organizado, eficaz e credível... foram concebidos e realizados planos de emergência e impulsionaram-se programas de reforma em diversos domínios da vida nacional. Em seguida, adoptaram-se medidas de liberalização da economia cabo-verdiana, incentivando o investimento da poupança nacional e atraindo os investimentos externos” (in Nota Biográfica).
Apraz registar que, de 1976 a 1988, o PIB per capita passou de 260 para 818 dólares. Atualmente, esse mesmo PIB per capita ascendeu a $4.400, segundo os dados do Banco Mundial de 2013. Os ganhos nos domínios da educação, da formação, da alfabetização e do desenvolvimento económico e social são de tal ordem que Cabo Verde é apontado como exemplo em África, apesar do sonho caboverdiano continuar a aspirar por dias sempre melhores.
Foi o realismo, a pragmática e a liderança visionária de Pedro Pires que conseguiram aquilo que para muitos era uma espécie de fantasia. Com efeito,
“Havia camaradas que tinham posições muito revolucionárias, queriam que o PAIGC se declarasse um partido marxista-leninista. Pedro Pires moderava-os: A única revolução que podemos fazer é promover o desenvolvimento de Cabo Verde …”.
E no cenário de dúvida sobre a viabilidade do País uma missão do Banco Mundial visita Cabo Verde (1975/76) e termina “o seu relatório com a fria conclusão de que Cabo Verde era um país impossível”.
Com a habilidade que o caracteriza, Pedro Pires convence os seus interlocutores a admitirem que o país é difícil, mas que havia a possibilidade de recuperação (cf. Perfil de um Combatente, por G.A.). A história acabaria por dar razão a Pedro Pires e hoje o país é tido como um caso de sucesso em África.
Podia-se referir, ainda, ao contributo da diplomacia caboverdiana na busca da paz e da estabilidade na região africana, particularmente na África Austral, na década de 1980, em que Pedro Pires foi um dos grandes impulsionadores, na convicção de que a opção para uma política de paz era a que melhor servia os intereses  de África e de Cabo Verde.
Revisitemos um outro momento em que sobressai a liderança pragmática e visionária de Pedro Pires. Quero referir-me à
3.   Criação do Instituto Pedro Pires para a Liderança
O exercício e o magistério de liderança de Pedro Pires não se esgotam nas negociações para a independência e nos quinze anos de governação, como Primeiro-Ministro. No final dos seus dois mandatos como Presidente da República, aceita, nos termos legais, abandonar o poder e criar o Instituto Pedro Pires, com o objetivo de passar para a nova geração a experiência de liderança, não apenas no plano pessoal, mas sobretudo no plano global. É que a liderança, nas mais diversas frentes, conduz a um desenvolvimento integrado e inclusivo.
Ora, O instituto Pedro Pires mais não é do que um espaço de incubação de novas lideranças para o desenvolvimento. Temos de admitir que foi a atitude visionária do nosso homenageado e à grande importância que atribui à formação e à gestão de uma liderança fecunda e produtiva que o levou a empreender uma tal iniciativa, sendo certo que se trata de um projeto a que o desenvolvimento de Cabo Verde não pode ficar indiferente.
Numa recente palestra feita na Uni-CV, com a sabedoria que o carateriza, Pedro Pires discorre sobre a problemática “da gestão e da transição”, nos seguintes termos:
“O termo gestão abrange uma ampla lista de atividades que incidem sobretudo na procura da utilização eficiente de recursos disponíveis - humanos, tecnológicos, materiais, económicos financeiros e culturais – concernentes a uma instituição, com o propósito intencional de maximizar o seu bom uso, os seus respectivos rendimentos e, logo, assegurar resultados finais profícuos”.
Referindo-se à transição, Pedro Pires, na minha interpretação, deixa entender que ela surge no âmbito da competição política, não devendo confundir-se nem com a simples mudança, nem com a substituição desenfreada, sem a mínima preparação, sem o devido equacionamento. Ela deve ser “um processo, com um começo e uma conclusão”, processo esse que deve maximizar e potenciar os resultados da mudança, legitimamente conquistada, num quadro democrático, legal e ético, com respeito pelos direitos e garantias, tanto os das minorias como os da maioria, direitos esses constitucionalmente consagrados.
No nosso entendimento, a transição só pontualmente pode interessar ao Instituto Pedro Pires. O mesmo não se pode dizer da gestão para o desenvolvimento que, ao que tudo indica, constitui o fundamento do Instituto acima referido. O empoderamento de gestores, através da “utilização eficiente dos recursos disponíveis” para “assegurar os resultados finais profícuos” constitui o principal objetivo da instituição criada por Pedro Pires. Ainda que fosse apenas pela importância que atribui à formação, e pela política cada vez mais inclusiva de educação, nos quinze anos que chefiou o Governo de Cabo Verde, política esta defendida e encorajada nos dez anos que exerceu a Magistratura Suprema da Nação, a atribuição de Honoris Causa teria razão de ser. Arrisco-me a dizer que, sem essa política educativa, a Uni-CV poderia não existir hoje.
Não restam dúvidas de que é vasto o contributo de Pedro Pires para o desenvolvimento de Cabo Verde, da paz e estabilidade em África, mas ele é muito mais de tudo o que ficou já dito. Uma outra faceta dele consiste em ser
III.          UM HOMEM DE PALAVRA,
          COMPROMETIDO COM O SEU POVO
Um homem de palavra é aquele que procura a verdade, que diz a verdade, que respeita a verdade, que partilha a verdade, sem a distorcer, nem a adulterar. Um homem de palavra é tanto mais estimado e respeitado quanto maior for o seu sentido de ética e a sua prática de justiça, quanto mais elevado for o nível do seu humanismo e patriotismo.
É por ser um homem de palavra, estimado e respeitado por um número significativo de concidadãos, que Pedro Pires, por dois mandatos consecutivos, foi Presidente da República. Não é sem sentido que escolheu como lema, no primeiro mandato, “Um Homem de Palavra” e, no segundo mandato, “Um Homem Comprometido com o seu Povo”.
A verdade e a sinergia contidas nesses dois lemas catapultaram Pedro Pires à Magistratura Suprema da Nação.
É, seguramente, o estatuto de homem de palavra, comprometido com o seu povo, que levou Pedro Pires a envolver-se na luta para a libertação o seu povo; que o levou a ter sucesso nas negociações para a Independência; que o ajudou, juntamente com outros compatriotas, a construir um Cabo Verde de esperança, cada vez mais inclusivo, cada vez mais desenvolvido, cada vez mais ancorado na cultura, no orgulho nacional, na educação e na formação, com cada vez mais pão e fonema, com cada vez mais qualidade de vida e do ambiente.
Em Cabo Verde, a nossa riqueza maior são os recursos humanos, mas a matéria-prima que molda a nossa cultura, a nossa história, a nossa vivência, o nosso quotidiano e o nosso desenvolvimento é, sobretudo, a palavra, mas também o compromisso criativo e inclusivo que com ela possamos ter, a favor do humanismo, em geral, e do nosso povo, em particular.
Sabe-se que é por falta de compromisso sério com a palavra, com a verdade que ela deve veicular, e com a ética que a deve enformar e condicionar, que hoje assistimos, na cena mundial, às guerras fratricidas; à corrupção generalizada; à exploração do mais forte; à fome e à miséria, particularmente nos países menos desenvolvidos; à luta cega pelo poder; ao enriquecimento ilícito; ao desrespeito pelos direitos humanos; à exclusão social; à info-exclusão; à negação da qualidade de vida para todos.
Pedro Pires, ao assumir-se como um homem de palavra, queria também ter um forte compromisso com a verdade e com a ética, a favor do seu povo, mas também a favor do humanismo. O compromisso feito foi respeitado. Aliás, se em 2011 foi galardoado com o Prémio Mo Ibrahim, é porque o País e a comunidade internacional reconhecem a justeza e a vitalidade do seu compromisso com a palavra, com a verdade, com a ética, com a boa governança e com o desenvolvimento da sua terra. De ressaltar que o presidente de júri do prémio, o senhor Salim Ahmed Salim declarou que:
O Comité ficou impressionado pela visão do Presidente Pedro Pires em transformar Cabo Verde num modelo de democracia, estabilidade e crescente prosperidade”.
Creio que a Uni-CV ao atribuir-lhe o título de Honoris Causa o reconhece, ainda, como patriota e humanista, como líder e visionário, como homem de palavra, comprometido com a verdade e com a ética.
Obrigado, Pedro Pires, pelo rico legado que proporcionou e vem proporcionando ao nosso povo. Obrigado, Uni-CV, por esta tão merecida distinção.
Ao nosso homenageado, a comunidade académica e o coletivo dos doutores da Uni-CV desejam as maiores venturas e formulam votos de longa vida e de muitas outras azáguas da palavra, da ética, de liderança visionária e de compromisso patriótico com o nosso povo.

                                                            Novembro de 2016
                                                                Manuel Veiga
                                                     (Professor Jubilado da Uni-CV)





[1] Afirmação do Professor Luís Fontoura no discurso, como padrinho, na outotorga de doutotor honoris causa a Pedro Pires pelo Instituto de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, em 2011.
[2]Citação de Jorge Querido em Tempos de um Tempo que Passou (2015:226):

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