CABRAL VISTO POR ALDA DO ESPÍRITO SANTO
(ex-Presidente da Assembleia Nacional de S. Tomé e Príncipe)
(ex-Presidente da Assembleia Nacional de S. Tomé e Príncipe)
"… a influência da mensagem de Cabral marcou desde os anos da juventude um contributo precioso à sua evolução e ao seu desenvolvimento à luta do Povo, e o sentido universalista do combate conjunto forjado na luta anticolonial e que ganhou a sua verdadeira dimensão na certeza da vitória dos Povos pela Paz e pela causa da Humanidade.
A simplicidade e a coerência de Cabral e o seu poder de comunicação e de esclarecer, numa linguagem directa a posição da juventude africana face à missão histórica que teria de realizar na Pátria ocupada pelo colonialista português, constitui um prelúdio de preparação para as acções directas no terreno da luta. Com Cabral aprendemos a manejar a arma da crítica e autocrítica, as intervenções elaboradas para os encontros com a juventude, com as mulheres africanas, com os marítimos, na antiga metrópole colonial, encontros esses que forjaram dirigentes destacados que em plena maturidade participaram na arena do mundo, na direcção dos destinos dos seus povos (Continuar Cabral, 1983, FAC:29).
CABRAL VISTO POR JÚLIO DE CARVALHO
(Combatente da Liberdade da Pátria, ex-Ministro de Administração Interna, em entrevista a Paulo Freire)
(Combatente da Liberdade da Pátria, ex-Ministro de Administração Interna, em entrevista a Paulo Freire)
Numa entrevista concedida a Paulo Freire, Júlio de Carvalho deixa entender o humanismo e a grandeza de alma de Amílcar Cabral. Diz ele que
“… um dia, uma equipe de comandantes, de que ele fazia parte, organizou, fez um projeto armado, no sentido de destruir o principal quartel português e esta ação seria uma perda irreparável para as forças colonialistas. Com aquela derrota dos portugueses, vislumbrada no projeto que os comandantes militares faziam, dificilmente o exército colonialista poderia sobreviver.
[Os comandantes levaram] o projeto a Amílcar, e ele examinou, discutiu durante duas horas o projeto e, em certo momento, ele pergunta aos comandantes - E qual é o custo social … deste projeto?
- Militarmente [não temos] dúvida nenhuma que realmente funciona.
- Mas eu quero saber é … o que vai custar?”
- Mas eu quero saber é … o que vai custar?”
[Responderam] - Olha, nós liquidaremos as tropas portuguesas, em cem por cento, perderemos cinquenta por cento das nossas.
A resposta de Amílcar: - É muito caro para ser posto em prática".
(Em entrevista a Paulo Freire e referida numa conferência dada na Universidade de
Baia, em 1985).
Baia, em 1985).
CABRAL VISTO POR PAULO FREIRE
(Pedagogo Brasileiro, especialista do método de alfabetização de adultos)
(Pedagogo Brasileiro, especialista do método de alfabetização de adultos)
Para Paulo Freire, Cabral era o pedagogo da revolução que, partindo da realidade envolvente antecipava o futuro, conferindo à cultura e à educação um lugar de primeiro plano na luta de libertação nacional.
Na conferência pronunciada na Universidade da Baia, em 1985, dá conta da capacidade visionária de Cabral, e da sua pedagogia revolucionária, pela boca de um dos seus entrevistados. Diz Paulo Freire que uma entrevista que o impressionou grandemente é a de um jovem, supervisor de educação na Guiné-Bissau.
Na conferência pronunciada na Universidade da Baia, em 1985, dá conta da capacidade visionária de Cabral, e da sua pedagogia revolucionária, pela boca de um dos seus entrevistados. Diz Paulo Freire que uma entrevista que o impressionou grandemente é a de um jovem, supervisor de educação na Guiné-Bissau.
“… Ele conversando comigo eu lhe perguntei: - O que foi que mais te impressionou, na tua passagem por Amílcar?”
E ele disse: - Camarada Paulo Freire, o que mais me impressionava no camarada Cabral era a capacidade que ele tinha de conhecer o que ainda não estava aqui” (…).
- Explica isso. Ele disse: - Uma vez nós estávamos na frente de batalha, numa certa zona de luta, depois de uma semana de castigo forte da aviação tuga, o camarada Cabral chegou para uma visita de inspeção e de estudos (…)
[Ele disse]: - Eu preciso retirar duzentos de vocês da frente da luta, para mandar para outra frente de luta. Eu preciso de duzentos de vocês para mandar para Conacri, para o Instituto de Capacitação, para capacitar os duzentos e depois trazê-los para o interior do país para as zonas libertadas, no sentido de trabalhar como professores (…).
[Ora], - Como é que eu, que estava com um fuzil na mão, vendo o meu companheiro cair morto junto de mim, os tugas matando a gente, como é que eu podia naquela hora pensar que pudesse haver a possibilidade de duzentos de nós saírem da frente de luta para ir estudar. Então a minha reação foi a seguinte: Mas camarada Amílcar, esse negócio de educação fica para depois (…).
… pra quando a gente botar os tugas para fora, aí a gente pensa na educação, e aí a gente se forma, se capacita. Eu pensava que o camarada Cabral ia trazer para cá mais duzentos guerrilheiros, e não tirar duzentos de cá.
[Cabral responde]: - E por que você acha que não está certo isso? - E o moço diz: - Porque a gente não pode perder essa guerra.
Cabral então diz: - Mas é exatamente para não perder a guerra, que eu preciso de duzentos de vocês (…).
O moço me olha e me diz: - Camarada Paulo, eu fui então para Conacri. Confesso ao senhor que eu fui sem entender muito, mas fui. Estudei, capacitei-me e voltei. Formei quadros aqui que eram realmente os quadros da geração que tinha que ganhar, e vi alunos que estudaram comigo derrubando aviões tugas, com foguetes, esses foguetes soviéticos.
- Parou, olhou para mim e disse: - Camarada Paulo Freire, foi por isso que no começo eu disse ao senhor que eu sou capaz de pensar seiscentos metros em torno de mim, e que o camarada Cabral pensava seis anos na frente” (Conferência de Paulo Freire na Universidade de Baia, 1985).
E ele disse: - Camarada Paulo Freire, o que mais me impressionava no camarada Cabral era a capacidade que ele tinha de conhecer o que ainda não estava aqui” (…).
- Explica isso. Ele disse: - Uma vez nós estávamos na frente de batalha, numa certa zona de luta, depois de uma semana de castigo forte da aviação tuga, o camarada Cabral chegou para uma visita de inspeção e de estudos (…)
[Ele disse]: - Eu preciso retirar duzentos de vocês da frente da luta, para mandar para outra frente de luta. Eu preciso de duzentos de vocês para mandar para Conacri, para o Instituto de Capacitação, para capacitar os duzentos e depois trazê-los para o interior do país para as zonas libertadas, no sentido de trabalhar como professores (…).
[Ora], - Como é que eu, que estava com um fuzil na mão, vendo o meu companheiro cair morto junto de mim, os tugas matando a gente, como é que eu podia naquela hora pensar que pudesse haver a possibilidade de duzentos de nós saírem da frente de luta para ir estudar. Então a minha reação foi a seguinte: Mas camarada Amílcar, esse negócio de educação fica para depois (…).
… pra quando a gente botar os tugas para fora, aí a gente pensa na educação, e aí a gente se forma, se capacita. Eu pensava que o camarada Cabral ia trazer para cá mais duzentos guerrilheiros, e não tirar duzentos de cá.
[Cabral responde]: - E por que você acha que não está certo isso? - E o moço diz: - Porque a gente não pode perder essa guerra.
Cabral então diz: - Mas é exatamente para não perder a guerra, que eu preciso de duzentos de vocês (…).
O moço me olha e me diz: - Camarada Paulo, eu fui então para Conacri. Confesso ao senhor que eu fui sem entender muito, mas fui. Estudei, capacitei-me e voltei. Formei quadros aqui que eram realmente os quadros da geração que tinha que ganhar, e vi alunos que estudaram comigo derrubando aviões tugas, com foguetes, esses foguetes soviéticos.
- Parou, olhou para mim e disse: - Camarada Paulo Freire, foi por isso que no começo eu disse ao senhor que eu sou capaz de pensar seiscentos metros em torno de mim, e que o camarada Cabral pensava seis anos na frente” (Conferência de Paulo Freire na Universidade de Baia, 1985).
Sem comentários:
Enviar um comentário