Mais do que a internacionalização (que encorajo), desejo a nacionalização da nossa literatura. Mais do que um desejo, é uma exigência cultural. Que o Plano Nacional da Leitura crie as condições para essa nacionalização efetiva (nas escolas, na cidade, no campo, nas instituições, no poder, no Orçamento-Geral do Estado...).
Eu escrevo tanto em crioulo como em português. Dou-me por satisfeito se a minha escrita tocar a alma dos caboverdianos, de todas as ilhas, de todas as idades, merecendo dos meus compatriotas críticas exigentes ou aplausos sinceros. E se ela chegar ao espaço da língua portuguesa e aos palcos da globalização, através da tradução, de feiras, debates e magistério, isso me reconforta, na justa medida, mas não me deslumbra.
Como amante das letras, a nação me interpela. Com esse mesmo estatuto, a globalização pode ser um convite, nunca uma interpelação, muito menos uma obsessão.
Que a Morabéza-Festa do Livro seja um espaço não apenas de globalização, mas também, e sobretudo, de inclusão, de fruição e de assunção local (abrangente) da nossa literatura.
Para ser global, é fundamental que eu seja local. É que o global, sem o local, não existe. E o meu humanismo local é o melhor caminho para chegar ao humanismo global.
Ora, para mim, ser celebrado na Conchinchina, por exemplo, sem ser conhecido numa das nossas ilhas não é motivo para deslumbramento, mas sim para reflexão e de algum desconforto.
Morabeza - Festa do Livro de Cabo Verde
Manuel Veiga é doutor em Linguística Geral Aplicada. É presidente da mesa de Assembleia Geral da Academia Cabo-verdiana de Letras e ex-diretor da revista Desafi...
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