Eis o
extracto de algumas considerações que fiz, no do lançamento (reedição) de obras
escolhidadas de Amnílcar Cabral, no quadro do Fórum organizado pela Funadação
Amílcar Cabral (18, 19 e 20 de Janeiro de 2013):
Nesta breve Nota, quis dar o meu testemunho e a minha visão
relativamente à forma como os caboverdianos apreenderam , viveram e vivem o
legado de Amílcar Cabral e a história da Luta de Libertação Nacional. Constatei
a existência de três fases bem distintas: os Anos de Fogo, caracterizados por um nacionalismo exacerbado, mas
que deixou vários aspectos positivos no modo de ser e de existir, na toponímia,
nos nomes de pessoas, como também em alguma criatividade artística de poetas,
escritores, trovadores, escultores e batucadeiras. Os Anos de Brasa protagonizados por um resfriamento dos anos de fogo
e, por consequência, numa erosão do
nacionalismo dos primeiros anos e uma certa desvalorização do legado de Cabral,
traduzidas na mudança de símbolos nacionais e na tentativa de substituir Cabral
por outras figuras históricas e, ainda, em alguns questionamentos e eliminação
da efígie de Cabral em notas e moedas
caboverdianas, uma conquista dos anos de fogo. Finalmente, os Anos de Luz, hoje em construção e que,
sem dúvida, na base de uma reflexão mais consistente, a partir de dados
existentes, coligidos e tratados em espaços de memória e de investigação, como
o Instituto do Arquivo Histórico Nacional, a Fundação Amílcar Cabral, a
Universidade de Cabo Verde, entre outras instituições públicas e privadas, vão
desembocar num melhor conhecimento, divulgação e assunção crítica da história
da luta e do legado de Cabral.
O sinais dos Anos de
Luz são já visíveis na iniciativa de criação da Fundação Amílcar Cabral,
como espaço de memória; na criação do museu de documentos especiais no
Instituto do Arquivo Histórico Nacional; na criação da Cátedra Amílcar Cabral
pela Universidade Pública de Cabo Verde; na institucionalização da Conferência
Anual Amílcar Cabral/Paulo Freire, na Universidade de Santiago; na
imortalização de Amílcar Cabral na Academia de Letras (em processo de criação);
em várias iniciativas pedagógicas e cultuais que se encontram em fase de
incubação nos Ministérios com vocação de ensino e de promoção da história e da
cultura.
Se, no dizer do poeta,
Cabral representa a consciência, a bandeira e a liberdade do nosso povo,
há que reconhecer que o seu legado empoderou e vem empoderando a nossa
consciência. Há que reconhecer ainda que pela luta, trabalho, resistência e
tenacidade do nosso povo, hoje temos o orgulho
de ter um hino e uma bandeira. Porém, para Cabral não chega ter hino e
bandeira. Há que fazer da cultura e do conhecimento os motores do nosso
desenvolvimento. Mas isto não chega. Há que ter mais liberdade de expressão,
mais liberdade económica, mais liberdade cultural, religiosa e sindical. Há que
edificar uma sociedade com menos violência, com mais qualidade ambiental e com
mais inclusão social. Tudo isto, felizmente, está em processo. Há que fazer o
devido upgrading, temos que sonhar
mais e ser mais audaciosos.
Estas são alguns aspectos do legado de Cabral que nesses Anos de Luz somos convocados a realizar. Que cada um (poderes
públicos, instituições privadas e cidadania) faça a sua parte e coloque a sua
pedra na pirâmide em construção, para que continue a haver mais consciência, para que o nosso hino e a nossa bandeira
continuem sendo símbolos maiores da Nação, para
que a LIBERDADE, nas suas
diversas dimensões, configure o DNA e a matriz de vida de todos os
caboverdianos. E que a metáfora da Julinha e o Testamento de Agostinho não sejam
letras mortas, nem sacrifícios inúteis, como aliás não têm sido e nem estão
sendo. Temos de reforçar a “corrente”, de diversificar as antenas, de
estabelecer novas redes e de optimizar os procedimentos e resultados. Eis os
desafios para os Anos de Luz que
estamos inaugurando, sobre o legado de Amílcar Cabral e a gesta gloriosa do
nosso Povo. Auguramos que a obra que se acaba de dar à estampa traga mais
empoderamento e mais luzes, nestes anos de luz sobre a nossa história. Manuel
Veiga
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