Acabo de redigir um estudo sobre a poética de Corsino Fortes. Tive um prazer imenso em fazê-lo. O mesmo vai constar do meu próximo livro LETRAS QUE IMORTALIZAM.
Eis um pequeno extrato do mesmo:
Na poética do autor de Cabeça Calva de Deus…, várias são as heranças procuradas, resgatadas, construídas ou celebradas: a do palco africano, a do rincão local, a da aldeia global.
Na demanda dessas heranças, Corsino Fortes, em alguns aspetos, se situa na linha dos seus precursores caboverdianos, daqueles que, face às agruras e ao sufoco na Terra amada, decorrentes dos caprichos da natureza e de uma Administração desleixada, criaram, no seu imaginário literário, um espaço-refúgio, um Éden compensador.
Na geração de José Lopes e Pedro Cardoso, esse Éden, ou Terra Prometida, tinha o nome Jardim das Hespérides. Na geração claridosa criou-se a ideia de Pasárgadas. Na geração subsequente, o poeta Aguinaldo da Fonseca imaginou que o Éden seria o de “uma outra ilha dentro da ilha” e Onésimo da Silveira proclama, dizendo, que “povo das ilhas quer um poema diferente para o povo das ilhas”.
Esta ideia tinha sido já defendida, também, por Amílcar Cabral. Seguidamente, foi Corsino Fortes quem melhor deu sequência a esse ideário programático. E a diferença entre a poética de Aguinaldo da Fonseca, Amílcar Cabral e Corsino Fortes, relativamente aos seus antecessores, está, precisamente, na configuração da Terra-Prometida como “uma outra ilha dentro da Ilha” e na sintaxe poética, por vezes em detrimento da linguística, que utiliza", daí aplasticidade e pluralidade de interpretação, o que faz da sua poética inovadora uma obra aberta.
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