PÓRTICO
A PALAVRA E O
VERBO
Falar do «Eu nas palavras» é
uma sinédoque. E isto porque a «palavra», neste sintagma, significa ou pode
significar uma parte da obra do autor.
Li numa página da internet
que Gil Deleuze dizia: «a escrita é um prazer masturbatório, pois se trata de
fato de se olhar [...] estuprando a folha branca que me serve de testemunha».
Para mim, ao “estuprar”,
carinhosamente, a folha branca que me serve de testemunha, pretendo,
tão-somente, realizar um acto de amor: o de – através da transparência e da
transfiguração do verbo – poder partilhar ou mediatizar o meu mundo e os meus
sonhos.
Com a força mediática da
palavra, o meu «eu» é capaz de significar, de transfigurar, de construir e de
comunicar o mundo que nos rodeia, o social que nos preocupa, o cultural que nos
enforma, o virtual que nos interpela.
Ainda numa página da
internet deparei-me com a seguinte pergunta de Silvano Santiago: «quando é que
a arte brasileira [deixa] de ser literária e sociológica para ter uma dominante
cultural e antropológica?»
Creio que a arte não tem que
deixar de ser literária e sociológica para se transformar em cultural e
antropológica. O melhor ainda é poder ter, também, essas características.
No remaniamento da palavra e
do verbo que faço, é este o meu intento, embora acredite que o lado literário
não é o que mais me preocupa. Aliás, não é por acaso que, quando escrevo, sou
mais ensaísta do que poeta ou romancista. Com efeito, a minha escrita tem
sempre a cumplicidade da minha história, da minha vivência e dos meus sonhos.
Os textos que seguem testemunham
a oficina e a lavoura das minhas palavras e do meu verbo, em algumas
“azáguas”do meu quotidiano.
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