terça-feira, 21 de outubro de 2014

A Palavra e o Vrbo


                                             PÓRTICO

 

                                  A PALAVRA  E  O  VERBO 

 

Falar do «Eu nas palavras» é uma sinédoque. E isto porque a «palavra», neste sintagma, significa ou pode significar uma parte da obra do autor.

 

Li numa página da internet que Gil Deleuze dizia: «a escrita é um prazer masturbatório, pois se trata de fato de se olhar [...] estuprando a folha branca que me serve de testemunha».

 

Para mim, ao “estuprar”, carinhosamente, a folha branca que me serve de testemunha, pretendo, tão-somente, realizar um acto de amor: o de – através da transparência e da transfiguração do verbo – poder partilhar ou mediatizar o meu mundo e os meus sonhos.

 

Com a força mediática da palavra, o meu «eu» é capaz de significar, de transfigurar, de construir e de comunicar o mundo que nos rodeia, o social que nos preocupa, o cultural que nos enforma, o virtual que nos interpela.

 

Ainda numa página da internet deparei-me com a seguinte pergunta de Silvano Santiago: «quando é que a arte brasileira [deixa] de ser literária e sociológica para ter uma dominante cultural e antropológica?»

 

Creio que a arte não tem que deixar de ser literária e sociológica para se transformar em cultural e antropológica. O melhor ainda é poder ter, também, essas características.

 

No remaniamento da palavra e do verbo que faço, é este o meu intento, embora acredite que o lado literário não é o que mais me preocupa. Aliás, não é por acaso que, quando escrevo, sou mais ensaísta do que poeta ou romancista. Com efeito, a minha escrita tem sempre a cumplicidade da minha história, da minha vivência e dos meus sonhos.

 

Os textos que seguem testemunham a oficina e a lavoura das minhas palavras e do meu verbo, em algumas “azáguas”do meu quotidiano.

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