sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Autonomização da Língua Caboverdiana (LCV), 3


No quadro do DIA INTERNACIONAL DAS LÍNGUAS MATERNAS, vamos dar continuidade ao estudo da autonomização da LCV, através das suas duas matrizes, línguas africanas e o português.

As frases objeto de estudo, na sua maioria, são retiradas do romance Odju d'Agu, 1987, da minha autoria.

 Antes de  iniciar com a análise das frases (F 1, F 2 , F 3 ...), vejamos as  siglas utilizadas:

·       LCV = Língua Caboverdiana; 
·       MLP = Material Linguístico Português;
·       CSP = Correspondência Semântica em Português;
·        OD = Origem Desconhecida;
·       Pt = Português ou língua portuguesa;
·       OA = Origem Africana.
·       RSL = Recriação Semântica Local
·       F1, F2, F 3 … = Frase 1, Frase 2, Frase 3…
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F1
LCV
Ami   N   krê

MLP
Mim  eu  querer
CSP
Quero / eu quero

 Em LCV o sujeito pronominal é obrigatório, exibindo, por vezes, uma forma tónica e outra átona. Em Pt ele é facultativo. Somente pelo MLP, a frase é incompreensível. Ora, se em Pt a forma nula ou expletiva do sujeito pronominal é facultativa (quero ou eu quero), o mesmo, de uma forma geral, não acontece em LCV. Apenas no imperativo da segunda pessoa[1] do singular (kume = come) ou em algumas poucas frases como «txobe txeu», o sujeito nulo é permitido.   Isto levou Baptisata,  2002:254, a considerar a LCV uma língua pro-drop, na terminologia chomskiana (1981), enquanto Prata 2004:104, pelas mesmas razões, defende o estatuto semi pro-drop para a LCV.

Ora, se todo o material linguístico é português (ami <mim; N < mim; krê < querer), a sintaxe do mesmo não tem sentido, contrariamente com o que acontece com «Ami N krê». Mais do que simplificação, tudo indica que estamos perante um caso de complexificação estrutural.

Segundo Santos 2000:178, “N” poderá ter vindo também do mandinga. Vejamos o que diz ela: “Nós apenas constatamos que que no grupo mandê atesta-se a mesma consoante nasal homorgânica como marca da primeira pessoa do singular. Ex:  em mandinga
“N ta lom/isto é meu”; “M be domoro to / estou a comer”.



[1]  Note-se que nas formas imperativas de respeito e na primeira pessoa do plural, o sjeito pronominal volta a ser obrigatório: «nhu kume, nha kume, nhos kume» - coma,  coma (no feminino), comei.

6 comentários:

  1. Comentário do senhor Miguel Vieira no Facebook: "Sr. Manuel, nhu fala um kuzinha sobre posivel influencia di Bambara na lingua Caboverdiano. Razon ki n'sta purgunta eh pamodi adias li n'stevi ta fala ku um pesoa di Mali di origim Bambara; dispos di nos conversa, n'fika ta matuta e ta reflete e consequentemente n'conklui ma sikadjar nha lingua di berso, Caboverdiano, tem forti influencia di kel lingua la. Kasimeh?"

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  2. Nha raspósta pa Miguel Vieira: prezadu Miguel Vieira, Sugundu disionáriu di Nicolas Quint 2006, palavra "fépu", ki na kriolu ta signifika "tudu", ben di mandinga "fewu" ki ta signifika "interamenti, konpletamenti" Mandinga é un di kes língua ki ta papiadu na Mali. Inda, sugundu es mesmu autor (2006), palavra "busu" ben di "bôsô, ki na Bambará ta signifika "sfola".
    Nu meste fla inda ma palavra "fep" na língua tenda ta significa tudu, sugundu Rosine Santos (2000:176). Sugundu el inda, na wolof, sufixo "epp"ta marka totalidade"

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  3. Ortu pididu di sklarisimentu di Miguel Vieira: "E kel sinonimo di fepu, "moku", si origin eh di ki lingua?

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  4. "Moku" pode signifika "tudu", mas tanbe e pode signifika "enbriagadu" (toma moku, sta moku". El pode signifika inda "réstus di algun kusa" (moku di padja); el ten sentidu, tanbe, di "surdu" (N sta moku, N ka sa ta obi). Ta fladu inda "katxor rabu moku", ku signifikadu di "rabu kortadu, rabu paduku", "bóka moku "ku sentidu di "bóka sen denti".
    Na sentidu di "surdu" el ben di purtugês "mouco". Na kes otu sentidu, inda N ka diskubri ses oríjen.

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  5. Reason di Miguel Vieira na Facebook: "Obrigado Sr. Manuel Veiga".

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