segunda-feira, 7 de setembro de 2020

HENRIQUE TEIXEIRA DE SOUSA

 A Minha Homenagem por ocasião do seu 101º aniversário

Mestiço de sangue e de cultura, nasceu na ilha do Fogo, a seis de Setembro de 1919. Como ele mesmo afirma, em entrevista concedida a Michel Laban (Cabo Verde – Encontro com Escritores, I vol, 1992, p.173), a sua origem é humilde:
“O meu pai era marítimo, capitão de veleiro. Ele era da ilha Brava e casou-se no Fogo com minha mãe... Foi homem do mar até aos 50 anos de idade, altura em que vendeu o último veleiro e se decidiu a montar comércio e a cultivar as propriedades rústicas adquiridas com dinheiro ganho de riba da água do mar”.
Referindo-se ao seu avô, diz Teixeira de Sousa que o mesmo era agricultor e comerciante de condição social humilde. O autor não esconde o sangue negro que traz nas veias e esta é talvez uma das razões por que a sua família, que não era convidada ao banquete dos “grandes”, mantinha bom relacionamento com a classe dos mulatos.
Na altura em que nasceu, a posse de um sobrado, aliada à cor branca da pele, era sinal de grandeza e de importância social; aliás, ele mesmo afirma:
“... Os meus ascendentes não foram gente de sobrado... Passei toda a minha infância até a derrocada da classe dominante sem conhecer grande número de sobrados” (Laban,1992:171).
Tudo isto leva-nos a perceber a razão por que na sua obra monumental – Ilhéu de Contenda – onde, magnificamente, retrata os conflitos sociais decorrentes da cor da pele, da posse de sobrados, da decadência das classes abastadas e emergência de mestiços, ele faz esta significativa dedicatória
“Entre gente de sobrado, de loja e de funco, nasci e vivi. Nunca cheguei a perceber bem qual o lugar que me coube nessa sociedade. Por isso este livro é de todos”.
(In Letras que Imortalizam, 2020, p. 155).
PS: Neste Setembro chuvoso, Teixeira de Sousa e Amílcar Cabral são aniversariantes. Ambos constam da obra “Letras que Imortalizam”, da minha autoria, e que, também neste mês de Setembro, de 2020, foi dada à estampa. Com Teixeira de Sousa aprendi a rica jornada de transformação social na Ilha do Fogo e a conquista da dignidade por parte de negros e mestiço. Com Cabral aprendi o valor da dignidade e da liberdade, e o quanto custou o nosso Hino e a nossa Bandeira. Parabéns aos aniversariantes.
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David Hopffer Almada
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