sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

DECLARAÇÃO DE PRAIA

 

APOIO À CANDIDATURA DO LEGADO-DOCUMENTAL-ESCRITO

DE A. CABRAL A MEMÓRIA-MUNDO DA UNESCO

 

Tendo em conta a importância histórica, cultural, filosófica, política, pedagógica e diplomática do legado-documental-escrito de Amílcar Cabral, os participantes do  Seminário Internacional sobre o Legado Teórico de A. Cabral, decidiram aprovar a presente DECLARAÇÃO de APOIO À CANDIDATURA desse rico legado ao projeto  Memória-Mundo da UNESCO”.

A mesma abarca os seguintes pontos: caraterização do projeto Memória Mundo; razões por que Cabral reúne os requisitos exigidos; alguns testemunhos a favor do legado de A. Cabral; apelo às autoridades, caboverdianas e Bissau-guineenses, no sentido de atribuírem importância máxima  à candidatura em pauta.

O extenso legado, consubstanciado na obra teórica e na ação política, faz de Amilcar Cabral um dos maiores pensadores africanos de todos os tempos, sendo que foi considerado, em 2020, pela prestigiada revista BBC World Histories Magazine como uma das figuras mais relevantes da história da humanidade.

“O Registo da Memória do Mundo é um projeto da UNESCO iniciado em 1992 com o objetivo de identificar e preservar documentos e arquivos de grande valor histórico”.

De acordo com as Diretrizes para a Salvaguarda da Memória-Mundo (p. 27-36), a candidatura pode ser apresentada pelo Governo (através do Comité Nacional para a Memória do Mundo), por uma Fundação ou ONG e, até, por personalidades a quem pertence a memória a preservar, sendo certo que uma candidatura feita através do referido Comité Nacional tem maior probabilidade de ser admitida.

Amílcar Cabral como humanista, homem de cultura, poeta, estratega militar, pedagogo e diplomata deixou um importante legado, mundialmente reconhecido, e importa preservá-lo, valorizá-lo e divulga-lo. Vários são os testemunhos sobre Cabral e sobre o seu legado. Eis alguns:

Pedro Pires (Combatente da Liberdade da Pátria, ex-Presidente da República, Presidente da FAC)

“Cabral, sendo o maior de nós todos, era também um pouco de todos nós…

A obra de Cabral é a resultante da concentração num só homem de um conjunto invulgar de aptidões e dotes individuais, de entre as quais avultava uma extraordinária percepção da realidade social e uma opção sempre coerente em prol das causas justas que, inclusivamente, já se encontra em poesias de tempo em que era estudante liceal – e da sua capacidade de sintetizar, elaborar e traduzir em fórmulas claras, em exposições simples ou em injunções precisas a ‘acção colectiva’ de toda uma geração de luta (CC:693).

 

Léopold Sédar Senghor (Antigo Presidente do Senegal)

«Em Cabral, a teoria e a prática andaram sempre de mãos dadas, em perfeita simbiose. Como costumava dizer, “a prática fecunda a teoria” e daí a necessidade de “pensar para agir e agir para pensar melhor”  e que «formulou uma teoria da libertação nacional que, do seu ponto de vista, não se esgota com a proclamação da independência formal, com hino e a bandeira, e a natural substituição dos dirigentes, mas, antes se prolonga no processo de libertação e desenvolvimento das forças produtivas nacionais que ele tão bem caracterizou ao longo da sua obra e designou de luta contra o neocolonialismo» (UL 1:6)

 

Mahtar Mbow (Antigo Dir. Geral da UNESCO):

“A ideia central de Amílcar Cabral, segundo a qual é preciso ‘pensar com as nossas próprias cabeças’, … esteve subjacente a todas as [suas] concepções…. Porque pensar com as nossas próprias cabeças é assumir, com conhecimento de causa, a plenitude das nossas responsabilidades…” (CCE:73-74).

 

António Guteres (Sec. Geral das N. Unidas)

Para o atual Secretário-Geral das Nações Unidas, Amílcar Cabral “Considerou-se a si próprio um ‘soldado da ONU’. Fê-lo, creio, por entender haver uma convergência de pontos de vista e de ideais entre a sua luta e a razão de ser central das Nações Unidas…(IAC: 17 e 18). 

Diz ainda o Eng. António Guterres, que, no seu livro de memórias, ‘A Ponta da Navalha’, o jornalista francês Gérard Chaliand conta que quando disseram a Nelson Mandela ‘tu és o maior’, este terá replicado, com a profundidade que o caraterizava, ‘não, o maior é Cabral (IAC:18).

É tendo em conta o principal ativo deixado por Cabral (a Independência da Guiné e de Cabo Verde e  as sementes lançadas para outras Independências em África); é considerando, ainda, a importância transversal do seu legado humanista, cultural, ético, político, filosófico e estratégico para a Guiné e Cabo Verde, para a África e o Mundo  que, nós os participantes do Seminário sobre o Legado Teórico de Amílcar Cabral, nos congratulamos com o projeto de candidatura desse legado à Memória do Mundo da UNESCO, e apelamos aos Governos de Cabo Verde  e da Guiné-Bissau,  aos respetivos Comités Nacionais para a Memória do Mundo para que  atribuam importância e prioridade máximas a essa candidatura. De igual modo, lançamos um apelo às instituições nacionais, aos académicos, professores e investigadores, aos países amigos e parceiros nossos para, em colaboração com entidades da UNESCO, responsáveis pelo programa Memória do Mundo, abraçarem esta causa.

 

Praia, aos 9 de Dezembro de 2021




 

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