sábado, 20 de agosto de 2022

 

DIVRSIDADE LINGUÍSTICA EM CABO VERDE:
UM PATRIMÓNIO A PRESERVAR, UM BEM A VALORIZAR

 

Em Cabo Verde, o crioulo atualiza-se, de Norte a Sul, em arco-íris, cada realização regional com a beleza da sua cor e a particularidade da sua expressão; a especificidade da sua fonética, morfologia e sintaxe; a riqueza do seu léxico, estilística e expressão idiomática.

Urge que essa riqueza linguística seja legalmente reconhecida, social e politicamente valorizada, através da prática quotidiana na comunicação formal e informal, no ensino, na investigação e em ações de defesa e preservação. Ora, isto, em linguagem jurídica, tem o nome de oficialização.

Sendo o crioulo a nossa língua materna, é, por direito próprio, a nossa língua oficial. Porém, a nossa CONTITUIÇÃO, no seu artigo 9º.2, determina que Estado deve promover “… as condições para a oficialização da língua materna caboverdiana, em paridade com a língua portuguesa”.

Essas condições passam pelo seu uso alargado na comunicação formal e informal, no ensino, na investigação, na produção artística e literária …

Ora, tudo isto tem custo, e tem custo porque se trata de algo de capital importância.

Infelizmente, há alguns desinformados ou mal-intencionados que consideram um desperdício a legalização da necessidade de se procurar o alcançar do estatuto paritário entre as nossas duas línguas da República.

Outros ainda temem que esse estatuto venha a favorecer apenas a expressão de Santiago que, neste momento, está num nível de desenvolvimento científico e literário mais expressivo.

Devo esclarecer dizendo que a oficialização (paritária) vai permitir, como tem sido até agora, o uso de todas as variantes, mas também a investigação sobre a diversidade linguística; o ensino básico da respetiva variante, em cada ilha; da variedade regional de Santiago, a nível do Sul; da variedade de S. Vicente, a nível do Norte.

Pedagogicamente, na respetiva ilha, o ensino parte da variante local e faz-se a ponte com a respetiva variedade regional. Essa metodologia leva o aluno a dominar o funcionamento da sua própria variante e o funcionamento da variedade regional que também faz parte, frequentemente, do seu quotidiano.

A padronização, sendo um processo, fica reforçada não só com esta metodologia de ensino, mas também com a política de incentivos à investigação e à criatividade literária, em todas as variantes e variedades.

Ora, se o crioulo, como língua materna é importante, há que pagar o preço da sua preservação e valorização. Defender o contrário só pode ser por ignorância, complexo ou alienação. E quem lutou pela Independência, pela construção do Estado de Direito e pelos valores da cidadania, não pode, e nem deve ter atitudes que vão contra a defesa e valorização de um dos elementos mais significativos da sua própria identidade: A LÍNGUA MATERNA.

Agosto de 2022



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