DIVRSIDADE LINGUÍSTICA EM CABO VERDE:
UM PATRIMÓNIO A PRESERVAR, UM BEM A VALORIZAR
Em Cabo Verde, o crioulo atualiza-se,
de Norte a Sul, em arco-íris, cada realização regional com a beleza da sua cor
e a particularidade da sua expressão; a especificidade da sua fonética,
morfologia e sintaxe; a riqueza do seu léxico, estilística e expressão idiomática.
Urge que essa riqueza
linguística seja legalmente reconhecida, social e politicamente valorizada,
através da prática quotidiana na comunicação formal e informal, no ensino, na
investigação e em ações de defesa e preservação. Ora, isto, em linguagem
jurídica, tem o nome de oficialização.
Sendo o crioulo a nossa
língua materna, é, por direito próprio, a nossa língua oficial. Porém, a nossa
CONTITUIÇÃO, no seu artigo 9º.2, determina que Estado deve promover “… as
condições para a oficialização da língua materna caboverdiana, em paridade com
a língua portuguesa”.
Essas condições passam pelo
seu uso alargado na comunicação formal e informal, no ensino, na investigação,
na produção artística e literária …
Ora, tudo isto tem custo,
e tem custo porque se trata de algo de capital importância.
Infelizmente, há alguns
desinformados ou mal-intencionados que consideram um desperdício a legalização
da necessidade de se procurar o alcançar do estatuto paritário entre as nossas
duas línguas da República.
Outros ainda temem que
esse estatuto venha a favorecer apenas a expressão de Santiago que, neste
momento, está num nível de desenvolvimento científico e literário mais
expressivo.
Devo esclarecer dizendo
que a oficialização (paritária) vai permitir, como tem sido até agora, o uso de
todas as variantes, mas também a investigação sobre a diversidade linguística; o
ensino básico da respetiva variante, em cada ilha; da variedade regional de
Santiago, a nível do Sul; da variedade de S. Vicente, a nível do Norte.
Pedagogicamente, na
respetiva ilha, o ensino parte da variante local e faz-se a ponte com a
respetiva variedade regional. Essa metodologia leva o aluno a dominar o funcionamento
da sua própria variante e o funcionamento da variedade regional que também faz
parte, frequentemente, do seu quotidiano.
A padronização, sendo um
processo, fica reforçada não só com esta metodologia de ensino, mas também com
a política de incentivos à investigação e à criatividade literária, em todas as
variantes e variedades.
Ora, se o crioulo, como
língua materna é importante, há que pagar o preço da sua preservação e valorização.
Defender o contrário só pode ser por ignorância, complexo ou alienação. E quem
lutou pela Independência, pela construção do Estado de Direito e pelos valores
da cidadania, não pode, e nem deve ter atitudes que vão contra a defesa e
valorização de um dos elementos mais significativos da sua própria identidade:
A LÍNGUA MATERNA.
Agosto de 2022
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