domingo, 22 de março de 2020

NO RESCALDO DO DIA DA POESIA E NO CALOR INFERNAL DE COVID 19

ESTE PENSAMENTO REFRESCANTE
DE MANUEL D’NOVAS,TROVADOR-POETA:

“Porquê tanta maldade neste mundo/ Se estamos aqui só por um segundo/ Porquê tanta falta de amizade/ Para gerar infelicidade/ Porquê tanta indústrria de guerra/ Se a paz está ao nosso alcance/ A maldade já tomou conta do espírito humano"

A Morna é, sem dúvida, pela gramática do crioulo e pela melodia dos seus acordes, uma das metáforas mais complexas da identidade caboverdiana, na medida em que é a síntese da vivência de um povo, dos conhecimentos que tem e que transmite, do diálogo civilizacional que promove e assimila, das tradições que possui e que preserva, da solidariedade que vive e apregoa, da filosofia de vida que exerce e que cultiva, da ética que pratica e defende, do humanismo que promove e advoga.

Tudo o que acima ficou dito pode ser ilustrado na morna Apocalipse, escrita em 1985:

“Pakê tónte maldade nese mundu/ Se no tâ li so pa un segunde// Pakê tónte inamizade/ Pa jerá infelisidade/ Pakê tónte indústria de gérra/ Se no podê kriá pás na térra (medjor ê pensá)// Ome tâ xeiu di malvadéza/ Sen respeitu pa naturéza (ó Deus valê-nu)// Tónte inventu na planéta/ Tónte koitóde pa manéta (sen ses óra txegá)//Monopóliu de un kanbada/ Ê destinu de nos vida// Kada óra un notísia/ Kada minutu un malísia// Dezarmamentu ê konvérsa/ Pa bankete y vise-vérsa// Ê fartura nun pónta/ Ê mizéria n’ote pónta// Mundu tâ piór k’un jogu de “póka”/ Ka bo mandá-me kalá bóka (Un ta dezê verdade)// No ti ta vivê debóxe d’ameasa/ Dun flajelu pa tudu rasa// Mundu podia ser ote koza/ Vida podia ser kor de róza/ Si nos tudu podia juntá mon/ Ku Deus y amor na kurason/ Ma Bíblia ta flá/ Na Apokalipse!”

Não há dúvida que a Morna, como expressão da identidade mestiça local, humanista, integral e universal, ficou bem patente em Apokalípse. A primeira nota que sobressai é a do humanismo e da razoabilidade (…).
O trovador-poeta constata as tentações e os pecados do devir caboverdiano, do devir universal e tem fé que algo superior virá ao nosso socorro. O que ele, pedagogicamente, deseja é uma sociedade mais humana, mais fraternal, mais inclusiva, mais solidária. Não se cala porque sabe que está a dizer a verdade, e é sua obrigação contribuir para que o mundo seja melhor, um mundo onde todos possam ter “pão, voz e vez”, no respeito, na dignidade e na inclusão. E se isto acontecer, já o anunciado apocalipse bíblico deixará de fazer sentido e o calor do COVID 19 acabará por queimar os pecados da humanidade e permitir que respiremos um ar mais puro e mais desintoxicado.

Manuel Veiga,
(Extrato de um Posfácio meu ao próximo livro de César Monteiro)
22 de Março de 2020

3 comentários:

  1. Sendo ontem, 21 de Março, dia da POESIA, gostaria, antes de mais, de felicitar a todos os poetas, a todos os trovadores-poetas de ontem e de hoje, pela palavra escolhida, pela sintaxe trabalhada, pela melodia criada, com engenho e arte, pintando e esculpindo, para nós e para a aldeia global, o mundo, as coisas e o humanismo da nossa Ribeira e das Ribeiras do além-fronteiras.
    Viva a poesia, viva os poetas do mundo inteiro, viva os poetas-trovadores da aldeia globa!

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  2. A confrade Fátima Bettencourt Santos, num e-mail de hoje, 22 de Março, responde-me assim:

    "Os poetas e trovadores são as antenas da raça como dizia Corsino Fortes parafraseando Ezra Pound. Eles são capazes de ler o futuro e nos remeter ás lições do passado pelas quais passámos distraídos. Obrigada caro amigo Manuel Veiga cuja sabedoria admiro cada vez mais. Abraço e um bom retiro. Amiga Fátima"

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  3. Da Professora Isadora da Graça Fortes recebemo o seguinte comentário, no se e-mail de 23/03/2020:

    "Muito bom dia a todos/as!!!

    Agradeço imenso esta excelente mensagem.

    Aproveitemos a quarentena para aprender mais e transmitir lições boas como esta.

    Força para toda a comunidade académica juntamente com a família.

    Estamos juntos na prevenção!!!

    Dia feliz!!!

    Isidora da Graça Fortes"

    Doutora em Ciências da Educação
    Ensino do Francês para fins específicos
    Faculdade de Ciências Sociais, Humanas e Artes - S. V.
    Tel. (pessoal) +238 993 55 72/ +238 516 80 06

    e-mail pessoal : isidora810@yahoo.fr

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