Com o Testamento de Agostinho:
Quero que a minha morte seja semente de vida
“Alguns anos de intenso combate tinham passado
quando o nosso Agostinho, de regresso de uma emboscada que provocou muitas
baixas ao inimigo, foi vítima de uma mina assassina que o projetou nos ares,
tendo permanecido inconsciente durante algum tempo. Acabaria no entanto por
recuperar os sentidos, mas o seu estado era grave e sabia que o seu fim se
aproximava. Com a pouca força que lhe restava, abriu a mochila, tirou um
radiozinho que o acompanhava sempre e sintonizou-o. Atónito, ficou imaginando a
notícia que acabara de receber: a força alisiana tinha caído e a ‘revolução das
flores’ tinha sido um sucesso, lá pelas bandas de Goltarpu.
Agostinho sabia que a sua morte se aproximava, a
passos largos. Deixou o aparelho de lado e pegou numa folha de papel para
redigir o seu testamento e registar o seu último desejo: – Quero que a minha
morte seja semente de vida. Quero que o meu sangue purifique séculos de dor e
de sofrimento que martirizaram o meu povo e sacrificaram a minha geração.
Espero que as armas se transformem em canetas da paz; que os campos de batalha
se convertam em campos para a sementeira; que cada criança da minha martirizada
terra tenha o que os meus antepassados, os meus condiscípulos e eu não tivemos:
o direito à dignidade, à liberdade, à cidadania, à justiça social...
E se espero que tudo isto aconteça é
porque acredito nas proféticas palavras do Abel: ‘...Minha preta formosa.../ a vida
que vives não tarda a findar...’
Ainda um último desejo: sobre a minha
sepultura quero que se plante um ramo de cravo, não o vermelho da
‘revolução’, mas o branco da paz, da fraternidade e da dignidade” (Cf. VEIGA Manuel
(1997). Diário das Ilhas, p. 230-231).
PS:
Não me esqueço que na década de 1990, eu, a Dra. Dulce Duarte e o poeta Manuel Alegre fazíamos parte de uma delegação cultural que deveria participar num evento literário, em Estocolmo. Eu e a Dra. Dulce tínhamos um bilhete na classe económica e Manuel Alegre na 1ª classe. Tendo este tomado conhecimento da situação recusou viajar separado dos outros membros da delegação. Foi assim que todos nós viajamos na 1ª classe graças ao prestígio de Manuel Alegre, com um bilhete da classe económica.
PS:
Neste 25 de Abril de
2020, gostaria não só de homenagear os combatentes da Liberdade da Pátria pelo
contributo que deram à essa Festa da Liberdade, mas também aos capitães de
Abril, e a todos os antifascistas portugueses, nomeadamente o poeta Manuel
Alegre, por quem nutro uma grande admiração.
Foi ele que no simpósio Continuar Cabral, de 1983, declarara, falando do
assassinato de A. Cabral:
“…Não foi só o vosso povo que perdeu um líder, não foi só a
África que ficou mais pobre; foi também Portugal que perdeu um amigo. Por isso,
para muitos de nós, para mim, pelo menos, o 25 de Abril foi uma festa
incompleta: faltou-lhe a presença de Amílcar Cabral para festejar connosco uma
vitória para a qual, em meu entender, contribuiu de modo determinante”.
Não me esqueço que na década de 1990, eu, a Dra. Dulce Duarte e o poeta Manuel Alegre fazíamos parte de uma delegação cultural que deveria participar num evento literário, em Estocolmo. Eu e a Dra. Dulce tínhamos um bilhete na classe económica e Manuel Alegre na 1ª classe. Tendo este tomado conhecimento da situação recusou viajar separado dos outros membros da delegação. Foi assim que todos nós viajamos na 1ª classe graças ao prestígio de Manuel Alegre, com um bilhete da classe económica.
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